Conass sugere lockdown e toque de recolher geral

Por falta de uma diretriz, que deveria ser dada pelo governo federal, Conselho dos Secretários de Saúde propõe que unidades da Federação radicalizem para que UTIs não cheguem ao esgotamento e consigam também deter a circulação do vírus

» Maria Eduarda Cardim » Carinne Souza*
postado em 01/03/2021 21:56
 (crédito: Breno Esaki/Agência Saúde DF)
(crédito: Breno Esaki/Agência Saúde DF)

Diante da alta de casos e mortes pela covid-19 vista nos últimos meses e da “ausência de uma condução nacional unificada”, os secretários de Saúde dos estados pediram, por meio de carta do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass), a adoção de medidas restritivas em todo o país para tentar evitar o iminente colapso das redes pública e privada de saúde. Além de “restrição em nível máximo” para regiões com ocupação de leitos acima de 85% e tendência de elevação no número de casos e óbitos, os secretários pedem a imposição de um toque de recolher nacional entre 20h e 6h, a suspensão das atividades presenciais em todos os níveis da educação e o fechamento de praias.

Além disso, os secretários recomendam a imposição de barreiras sanitárias nacionais e internacionais, “considerados os fechamentos dos aeroportos e do transporte interestadual”, e a proibição de eventos presenciais como atividades religiosas em todo o país. O pedido do Conass ocorre no mesmo dia em que o governador João Doria (SP) assinou um decreto que define os cultos como serviço essencial no estado. Assim como São Paulo, outros estados consideram as práticas religiosas como serviços essenciais e, por isso, as mantêm funcionando, apesar dos lockdowns.

De acordo com os secretários de Saúde, a flexibilização de restrições durante o período eleitoral e os encontros clandestinos durante as festas de fim de ano e carnaval criaram um ambiente favorável à maior circulação do novo coronavírus. Além disso, o surgimento de novas cepas e a “ausência de uma condução nacional unificada” de combate à pandemia resultaram em um cenário dramático da pandemia no país. Atualmente, diferentes estados apresentam taxa de ocupação de unidades de terapia intensiva (UTI) para pacientes da covid-19 acima de 90%.

“Entendemos que o conjunto de medidas propostas somente poderá ser executado pelos governadores e prefeitos se for estabelecido no Brasil um ‘Pacto Nacional pela Vida’, que reúna todos os Poderes, a sociedade civil, representantes da indústria e do comércio, das grandes instituições religiosas e acadêmicas do país”, diz o documento.

Imunizantes
A carta dos secretários de saúde, assinada pelo presidente do Conass, Carlos Lula, também fala sobre a baixa cobertura vacinal contra a covid-19 e a lentidão na oferta de imunizantes. O documento pede a “adequação legislativa das condições contratuais” para que o Brasil possa comprar todos os fármacos eficazes e seguros disponíveis no mercado mundial.

O governo federal alega que não fechou contrato com a Pfizer para obter a vacina contra a covid-19 por causa de cláusulas contratuais, como isenção de responsabilidade sobre efeitos colaterais pela farmacêutica. Na semana passada, o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, afirmou que a pasta comprará as vacinas da Pfizer — que já tem registro definitivo concedido pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) — e Janssen se tiver uma “autorização clara” do Congresso flexibilizando a lei que trata do assunto.

* Estagiária sob a supervisão de Fabio Grecchi

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Prefeitos se unem para obter vacina

Diante do rápido avanço do vírus e do iminente esgotamento das unidades de terapia intensiva (UTIs) para a covid-19 em vários estados, a Frente Nacional dos Prefeitos (FNP) defendeu, ontem, o recrudescimento das medidas para aliviar a pressão no sistema de saúde. Da mesma forma, os gestores municipais não estão mais dispostos a esperar pelas ações do governo federal voltadas para a compra a distribuição de vacinas. Eles começaram a articular um consórcio para a compra de imunizantes e não ficarem dependentes do Ministério da Saúde.

A ideia é concretizar o consórcio até o final deste mês. Mais de 100 representantes dos municípios oficializaram, via formulário disponibilizado pela FNP, a intenção de participar do movimento, e quem estiver interessado em aderir tem até a próxima sexta-feira para fazê-lo. Apesar de a frente reunir as 412 cidades com mais de 80 mil habitantes, municípios menores e de fora do grupo também poderão compor o consórcio.

A ideia é que o os municípios centralizem pequenas demandas a fim de evitar disputas por mercado que gerem um aumento de preço das vacinas. A aquisição de medicamentos, insumos e outros equipamentos que auxiliem no combate à pandemia também está prevista.

O objetivo, segundo o secretário-executivo da FNP, Gilberto Perre, não é competir com os contratos firmados pelo governo federal, mas dar suporte aos municípios caso o Plano Nacional de Imunização (PNI) não consiga suprir a demanda total.

O movimento ganhou força após o Supremo Tribunal Federal (STF) autorizar a ação de estados e municípios para complementar falhas do PNI. A verba para a compra de fármacos pode vir do consórcio, do aporte de recursos federais e de doações da iniciativa privada. Mas, para o presidente da FNP, Jonas Donizette, o país marcha na direção de precisar fazer a “dramática escolha de quem vai receber ou não um leito para viver”.

Nova cepa ainda mais contagiosa

O potencial de transmissão da variante do novo coronavírus identificada no Amazonas chama a atenção desde o surgimento, pois tomou conta do estado e se espalhou pelo Brasil rapidamente. Estudos recentes confirmam a tese de que a P.1 é mais transmissível ao mostrar que aumenta em até 10 vezes a carga viral no corpo humano, quando comparada com outras cepas do novo coronavírus. O estudo, realizado por pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) Amazônia, foi publicado na última quinta-feira no site especializado Research Square.

Para chegar a esse resultado, os estudiosos da instituição geraram 250 sequenciamentos completos do vírus de indivíduos que moravam em 25 cidades amazonenses, entre março de 2020 e janeiro de 2021. A maioria foi classificada em cinco linhagens e, entre elas, a P.1 mostrou rápido aumento de prevalência entre os meses de dezembro de 2020 (quando foi detectada pela primeira vez) e janeiro deste ano.

O pesquisador da Fiocruz Tiago Gräf explicou que, para entender por que a P.1 se disseminou mais, os estudiosos compararam a quantidade de vírus nas amostras dos pacientes infectados pela cepa e pessoas infectadas por outras variantes. O estudo concluiu que quem tinha a P.1 possuía carga viral até 10 vezes maior do que os que tinham outras variantes, e isso explica por que pode infectar mais pessoas.

Outra pesquisa, esta do Centro Brasil-Reino Unido de Descoberta, Diagnóstico, Genômica e Epidemiologia de Arbovírus (grupo Cadde), concluiu que a cepa é entre 1,4 e 2,2 mais transmissível.(MEC e CS)

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