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Salles: "Desmatamento pode ser resolvido, desde que se tenha recursos"

Em abril, haverá o primeiro encontro organizado pelo presidente dos EUA, Joe Biden, sobre mudança climática, e o Brasil é presença confirmada. Segundo ele, o país irá colaborar, mas "defendendo também, sempre, o interesse primordial dos brasileiros"

Fernanda Strickland
postado em 09/03/2021 17:46 / atualizado em 09/03/2021 17:46
 (crédito: Crédito: André Rosa/TV Brasília)
(crédito: Crédito: André Rosa/TV Brasília)

Em meio à pandemia do novo coronavírus, o Brasil também precisa lidar com questões que afetam o meio ambiente. Em abril, haverá o primeiro encontro organizado pelo presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, sobre mudança climática, e o Brasil é presença confirmada. Entrevistado do CB.Poder desta terça-feira (9/3) — parceria do Correio Braziliense com a TV Brasília, o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, diz que o tema levanta uma questão importante para o país, que, segundo ele, irá colaborar com os EUA, mas "defendendo também, sempre, o interesse primordial dos brasileiros”.

Salles explica a importância da reunião: "Os Estados Unidos retornaram ao Acordo de Paris, e o secretário John Kerry, que agora é o enviado especial do presidente Biden, (está voltado) para o tema de mudança climática. Ele está fazendo um esforço muito grande para que, em abril, haja um avanço dessa questão climática internacional. O Brasil tem um papel relevante no tema, já está mostrando que irá colaborar, que tem uma postura construtiva. Quer encontrar caminhos junto com outros países, mas defendendo também, sempre, o interesse primordial dos brasileiros”.

O ministro comenta ser importante lembrar que o desmatamento vem crescendo na Amazônia desde 2012, e que não é um fenômeno que acontece no governo atual apenas, mas que vem crescendo. E a razão pela qual o desmatamento cresce é porque não se soube olhar para as pessoas, opina. “Nós deixamos os mais de 23 milhões de brasileiros para trás (na Amazônia). Esses brasileiros que mereciam ter sido cuidados junto com a questão ambiental, no mesmo patamar de importância, foram deixados para trás. E essa talvez seja a grande explicação de porquê o desmatamento aumenta”, pontua.

Reconhecendo esse problema, ele argumenta que, de 100% de emissões globais de gases de efeito estufa, o Brasil representa apenas 3%, e dentro dos 3%, metade, portanto 1,5%, se refere ao desmatamento ilegal. “Esse é o tamanho do nosso desafio. Controlar o desmatamento ilegal da Amazônia e, assim, controlar esse 1,5% global que esse desmatamento representa, mas colocando as pessoas no centro dessa politica publica. Lembrando que cuidar das pessoas é cuidar ou ir contra o desmatamento ilegal. Nós chamaremos os países para participar desse esforço, para colocar os recursos que foram prometidos”, diz o ministro.

Salles afirma que o desmatamento pode ser resolvido, desde que se tenha recursos e estratégias para isso. “Recursos no volume e na proporção do desafio que ele é, e não pequenos recursos, o que seria uma espécie de cortina de fumaça para tentar resolver o problema. Por ocasião da renovação do compromisso brasileiro, da NDC brasileira, no final do ano passado, nós fizemos questão de colocar uma cifra anual de 10 bilhões de dólares. Então o Brasil, recebendo a partir desse ano, 2021, o volume de 10 bilhões de dólares, ele conseguirá antecipar sua neutralidade de carbono, que foi colocada no documento exatamente no mesmo prazo que a China colocou, portanto 2060. Nós dissemos basicamente o seguinte, o Brasil pode antecipar de 2060 até 2050, que é o que alguns países estão adotando, desde que nós passemos a receber a partir deste ano os 10 bilhões de dólares que nós entendemos que seja necessário”.

Ele esclarece, também, que o país tem algumas fontes de recursos possíveis e que talvez a mais evidente seja realmente o mecanismo do Acordo de Paris, o artigo sexto, que permite que haja o mercado de transação de crédito de carbono. "Mercado esse que foi a grande promessa por ocasião em assinatura do Acordo de Paris em 2015, que deveria gerar desde o ano passado, essa era a promessa do acordo, que os países ricos disponibilizaram 100 bilhões de dólares por ano aos países em desenvolvimento a partir do ano passado, 2020. Mas isso não aconteceu”.

Salles diz também que o Brasil fez questão de lembrar desse compromisso financeiro e de indicar um valor. “Eu acho bastante razoável que dentre esses US$ 100 milhões que foram prometidos à gama dos países em desenvolvimento, o Brasil receba pelo menos US$ 10 bilhões. Porque afinal de contas, nós é que temos a Floresta Amazônica, nós somos o país que mantém essa floresta 84% preservada, nós somos o país que tem o código florestal, que tem 66% de vegetação nativa, que tem plantio direto e agricultura de baixo carbono. Então é mais que justo que o Brasil receba esses US$ 10 bilhões”.

 

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