A quantidade de casos de covid-19 registrados entre terça-feira e ontem bateu novo recorde: 90.303 pessoas infectadas, totalizando 11.693.838 brasileiros. No mesmo período, as mortes — que somam 284.775 — foram 2.648, segundo os números divulgados pelo painel do Conselho Nacional de Secretários de Saúde e reproduzido pelo Ministério da Saúde. A taxa de letalidade está em 2,4% e a de mortalidade em 135,5 para 100 mil habitantes. “O maior colapso sanitário e hospitalar da história do Brasil”, como classificou o Observatório Covid-19, elaborado pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), caracteriza-se pela reunião de diversos fatores que agravam a tragédia (leia mais na página 6).
A crise sanitária acontece simultaneamente em todo o país, impedindo transferências de pacientes. “Esta é a primeira vez que temos uma crise sistêmica em todo o país, com praticamente todos os estados e as maiores capitais em situação extremamente crítica”, explicou o coordenador do Observatório, Carlos Machado de Freitas. “Os colapsos do sistema de saúde que enfrentamos antes sempre foram locais, no máximo estaduais, como o caso dos imigrantes haitianos e venezuelanos em Roraima, os desastres na região serrana de Santa Catarina, um grande número de casos de dengue e de zika no Rio”, acrescentou.A região Sudeste continua à frente nos casos acumulados de covid-19. Pelos números do Conass, são 127.948 mortes, boa parte delas em São Paulo, e 4.208.440 casos. Na sequência, vem o Nordeste: 62.325 óbitos e 2.706.036 casos. Em relação aos estados, São Paulo apresenta o maior número de mortes (65.519) e de casos somados (2.243.868).
Segundo Freitas, nem a adoção de medidas de distanciamento social é suficiente para deter o avanço da crise. A vacinação, que continua em ritmo muito lento, só conterá a pandemia a médio prazo — o número de imunizados com a primeira dose chegou a 10.713.615, ou 5,06% da população. “O distanciamento físico e social tem de ser adotado durante toda a epidemia. Mas a situação que temos hoje indica que a maior parte dos estados terá de adotar decisões mais rigorosas, de bloqueio e lockdown, acompanhadas de outras medidas sociais, pois já temos pessoas passando fome”. O coordenador do levantamento da Fiocruz lembrou, ainda, que as medidas mais rigorosas só começam a surtir efeito depois de 15 dias, como demonstram as experiências de vários países. “Sem a adoção de bloqueio e lockdown, vamos ter mais pessoas morrendo sem assistência na porta dos hospitais e até mesmo em casa. Isso é muito sério, não podemos ter pessoas morrendo por falta de assistência: é tarefa do governo organizar e se antecipar. As ações não podem ser apenas reativas”, salientou.
Pedido de perdão
O ex-presidente Michel Temer (MDB) sugeriu, também ontem, que o presidente Jair Bolsonaro convoque toda a imprensa para uma entrevista coletiva em que reconheceria ter apostado equivocadamente contra a urgência da vacinação para a covid-19 e a adoção de medidas restritivas à circulação de pessoas. “O presidente Bolsonaro está em um grande momento para modificar a postura anterior dele, com um novo ministro da Saúde, a situação de crise se agravando, a pandemia em fase um, dois, três, apavorando o país todo”, afirmou.
Na visão de Temer, seria importante o chefe do Poder Executivo fazer uma nova reunião com todos os governadores e o Congresso para defender que todos se unam no combate à pandemia. O ex-presidente afirmou ainda que Bolsonaro faria um gesto de grande significado e daria o exemplo se, quando chegar a fase destinada a sua faixa etária, se vacinar em público para estimular a adesão da população à campanha nacional.
Temer reconheceu o “momento difícil” para o governo Bolsonaro. “Alardeou-se que haveria poucos óbitos e, lamentavelmente, o número de mortes vem crescendo e se anuncia que crescerá ainda mais”, salientou.
* Estagiários sob a supervisão de Fabio Grecchi
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