Saúde

Unicamp confirma caso de hepatite medicamentosa por uso do 'kit covid'

Morador de São Paulo tem cerca de 50 anos e foi diagnosticado com o vírus há três meses. Ele não apresentava quadro de outras doenças

Victória Olímpio
postado em 24/03/2021 11:08 / atualizado em 24/03/2021 12:17
 (crédito: Ministério da Saúde/Divulgação)
(crédito: Ministério da Saúde/Divulgação)

O Hospital de Clínicas da Unicamp, em Campinas (SP), identificou o primeiro caso de paciente que teve diagnóstico de hepatite medicamentosa relacionada ao uso do 'kit covid', o conjunto de remédios como hidroxicloroquina, azitromicina e ivermectina. Pesquisas já mostraram que os medicamentos não têm eficácia contra o novo coronavírus, mas substâncias já chegaram a ser indicadas como política pública de saúde como "tratamento precoce". A relação entre esses medicamentos e a doença no fígado foi confirmada ao Correio pela Unicamp.

O paciente tem cerca de 50 anos e é morador de Indaiatuba, em São Paulo. Segundo a professora e médica da unidade de transplante hepático do HC, Ilka Boin, em entrevista coletiva divulgada pelo Instagram do hospital, o morador é atleta e não apresenta histórico de outras doenças. Ele foi diagnosticado com o vírus há aproximadamente três meses; um mês após fazer o uso do kit covid, zinco e vitamina D, ele começou a apresentar pele e olhos amarelados. Segundo o paciente, as substâncias foram consumidas por prescrição médica.

Sobre a descoberta da relação dos medicamentos ela acredita que o paciente tenha recebido a prescrição para uso, mas que ainda não é possível saber se o uso foi preventivamente ou precocemente, já na vigência dos sintomas: "Toda vez que se faz um diagnóstico desse, se faz a história clínica, então você conversa com o paciente para saber quais medicamentos que ele tomou nos últimos 30, 60 e 90 dias. Nesse antecedente, as únicas medicações são essas que fazem parte do 'kit covid'. Hoje o kit não são mais duas drogas. Tem pacientes oito ou nove medicamentos".

Ainda segundo a médica, o paciente chegou encaminhado de São Paulo já com a possibilidade de transplante: "Foi analisado os exames e a primeira hipótese foi de hepatite pós-covid, já que ele havia tido o vírus em dezembro. Ele começou a apresentar um quadro de fadiga, pele e olhos amarelos, e trouxe a biópsia de São Paulo, uma de janeiro e outra de fevereiro, apresentando a perda de dutos biliares, o que induz ao quadro de síndrome da perda dos dutos biliares, uma das características das doenças tóxico-medicamentosas.

Boin afirmou que ele não está internado e que está relativamente bem, mas ainda será necessário avaliar o caso e fazer novos exames para ver a necessidade do transplante de fígado. "Ele não tomou durante muito tempo, mas tem alguns pontos que faz com que a medicação leve a uma doença hepática toxico-medicamentosa. Pode ser alteração do metabolismo da própria pessoa, uma doença pré-existente que tava crescente e apareceu nesse contexto ou a causa da lesão".

Contraindicações

O presidente Jair Bolsonaro defende o uso do 'kit covid' ou 'tratamento precoce', embora diversas pesquisas científicas apontem que esses remédios não têm eficácia no tratamento de covid-19. A maior preocupação dos médicos intensivistas é o efeito colateral desses medicamentos em pacientes que evoluem para a forma grave da covid e que já estão com o funcionamento de órgãos vitais comprometidos.

De acordo com médicos de hospitais de referência, o uso do "kit covid" contribuem de diferentes maneiras para aumentar as mortes no país. Foi apontado ainda que o uso também mata de maneira indireta, ao retardar a procura de atendimento pela população.

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