Um romântico inveterado

Cantor Agnaldo Timóteo morreu ontem, no Rio de Janeiro, aos 84 anos, em decorrência de complicações causadas pelo novo coronavírus. Grande sucesso da música brega, artista mineiro foi uma das maiores vozes influenciadas pelo canto da chamada Era do Rádio

Correio Braziliense
postado em 03/04/2021 23:01
 (crédito: Murilo Alvesso/Divulgação)
(crédito: Murilo Alvesso/Divulgação)

» Nahima Maciel

Após 16 dias internado e uma piora significativa no estado de saúde, o cantor e político Agnaldo Timóteo morreu ontem, aos 84 anos, em consequência da covid-19. Ele estava internado desde o dia 17 de março no Hospital Casa São Bernardo, no Rio de Janeiro. O artista tinha apresentado melhora no quadro de saúde e chegou a deixar a unidade de terapia intensiva (UTI), indo para um leito de emergência. No entanto, voltou a apresentar sintomas fortes e precisou ser intubado pela equipe médica. Os médicos acreditam que o cantor tenha contraído a doença entre a primeira e a segunda dose da vacina contra a covid-19, já que ele havia tomado o reforço na segunda-feira, 15 de março.


Agnaldo Timóteo nasceu em 1936 no município de Caratinga, no interior de Minas Gerais, onde passou a infância. Na juventude, foi viver em Governador Valadares, e, na década de 1950, trabalhou como torneiro mecânico. Foi como cover de Cauby Peixoto que ele começou a cantar nas rádios e chegou a ser chamado para substituir o cantor no palco quando ele não podia comparecer por conta da grande demanda. Sua voz era constante em rádios como Inconfidência, Itatiaia, Mineira e Guarani, ainda em solo mineiro. No entanto, o sucesso meteórico no Brasil e no exterior ocorreu quando viajou para o Rio de Janeiro.

Amiga Angela

Ir para a capital fluminense foi um conselho de Angela Maria, de quem Agnaldo foi, aliás, motorista ocasionalmente, na década de 1960, quando não conseguia ganhar dinheiro com a música. Ele iniciou a carreira interpretando músicas internacionais. No início, orientado pela cantora, gravou dois discos — Sábado no morro e Cruel solidão —, mas os primeiros trabalhos fizeram pouco sucesso. O auge veio nas décadas de 1960 e 1970, quando passou a cantar em programas de rádio de sucesso no Rio de Janeiro.


Em 1963, ele chegou a gravar o álbum Tortura de amor, de Waldick Soriano, mas vendeu apenas 180 cópias, de mão em mão, pois a gravadora não acreditou no disco. Nos anos seguintes, se tornaria um grande sucesso da música brega, um dos cantores mais românticos do Brasil, com hits como Último telefonema, Não te amo mais e Aline, além de Mamãe estou tão feliz, Os verdes campos da minha terra e Meu grito, composição de Roberto Carlos à qual Timóteo atribuía o início da fama.


No total, o cantor gravou 73 álbuns, entre LPs e CDs, nos quais apresentou faixas que se tornaram grandes hits, como A galeria do amor, Aventureiros, Deixe-me outro dia, menos hoje, Perdidos na noite e Os brutos também amam, composta por Roberto e Erasmo Carlos especialmente para ele. Timóteo também chegou a gravar quatro discos em espanhol, mas não investiu na carreira internacional. Para celebrar os 50 anos de carreira, em 2015, ele lançou um álbum com a participação de Ângela Maria, Alcione, Claudete Soares, Martinha e Cauby Peixoto.

Carreira política

A política também fez parte da vida de Timóteo. Por incentivo de Leonel Brizola, ele se filiou ao PDT e foi eleito deputado federal em 1982. Mais tarde, após desentender-se com Brizola por ter votado em Paulo Maluf no colégio eleitoral que escolheu Tancredo Neves como presidente da República, o cantor transferiu-se para o PDS e conquistou novo mandato para a Câmara Federal, em 1994. Em 1996, foi eleito vereador no Rio, mas transferiu-se para São Paulo e, em 2004, foi eleito vereador pelo Partido Progressista. Brigou de novo, desta vez com Celso Russomanno, e pediu abrigo no Partido Liberal (antigo Partido da República). Timóteo também passou pelo PP, PR e PMDB.


Nas redes sociais, o pesquisador Rodrigo Faour fez uma análise de Timóteo, uma figura que gostava de briga, era contraditória, mas, também sabia fazer um mea culpa. “Era um cantor expressionista. Não era para todos os ouvidos”, e creveu Faour. “Passional e contraditório, mas um amante de sua arte acima de qualquer coisa, e passava essa verdade a ouvidos acima de qualquer suspeita. Caetano (Veloso) já declarou que ele era o cantor preferido de sua mãe, Dona Canô”.


Faour também lembrou a trajetória política do cantor. “Como político, sempre se preocupou em ajudar a quem precisava, independentemente da corrente partidária à qual estava vinculada. Fora da mídia, falava de seus amores com naturalidade e estava sempre duro, porque tirava do bolso qualquer quantia para ajudar amigos, familiares, amantes e inclusive colegas do meio artístico”, escreveu.
O último show de Timóteo em Brasília foi em agosto de 2017, quando trouxe ao Teatro dos Bancários as músicas do disco Obrigado, Cauby!, em homenagem a Cauby Peixoto. Foi um show de voz e violão.

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Artistas e políticos lamentam morte

Fãs, artistas e políticos lamentaram nas redes sociais e na TV a morte do cantor Agnaldo Timóteo. O intérprete Neguinho da Beija-Flor deu um depoimento emocionado à GloboNews, em que destacou a potência vocal do amigo, mesmo aos 84 anos. “A maior voz do país”. Ele frisou o medo que Timóteo tinha de contrair a covid-19. “Ele era um cara precavido, se resguardava”, relatou Neguinho, que já teve a doença. “Vamos nos precaver, usar máscara e ficar em casa. É isso que acontece. Perde-se amigos, parentes”, lamentou.


O cantor Ronnie Von destacou o lado humano de Timóteo e sua preocupação com colegas da classe artística que passavam por dificuldades. “Por mais discutível que seja a postura de Agnaldo na política, de polemizar e criar certos desconfortos em vários segmentos, ele era um ser humano de primeira grandeza”, disse.


Políticos também se despediram do cantor, que começou a atuar na política a partir de 1982, na época como deputado federal no Rio de Janeiro, pelo PDT. “Vá em paz Agnaldo Timóteo! Um abraço solidário aos familiares e amigos”, disse a ex-deputada gaúcha Manuela DÁvila (PCdoB), no Twitter. Além dela, despediram-se por mensagens outras personalidades como as deputadas federais Benedita da Silva (PT-RJ) e Jandira Feghali (PCdoB-RJ), o ex-parlamentar Chico Alencar (PSOL-RJ) e o vereador Fernando Holiday (Patriota-SP).


O ministro das Comunicações, Fábio Faria, também lamentou a morte. “Meus sentimentos à família do cantor e ex-deputado federal Agnaldo Timóteo, que nos deixou neste sábado aos 84 anos. Grande perda para o país, deixa um legado inestimável aos seus fãs!”, afirmou.
O cantor era botafoguense fanático e foi homenageado pelo clubepor meio de nota. “Com muita dor, o Botafogo lamenta a morte de Agnaldo Timóteo, cantor e compositor brasileiro, botafoguense apaixonado. O clube deseja conforto aos amigos e familiares neste momento difícil”.


O humorista e também alvinegro, Marcelo Adnet, também deu seu depoimento. “Vá com Deus, grande botafoguense! Lamentável fase do nosso país! Cuidem-se!”, escreveu.

Semana mais mortal da pandemia da covid

Com mais 1.987 óbitos acrescentados ao balanço de ontem, o Brasil encerrou a semana epidemiológica 13 como a mais mortal desde o início da pandemia. O país também ultrapassou a marca de 330 mil vidas perdidas (330.193). Levantamentos estatísticos que corrigem atrasos , contudo, dão conta de que a barreira negativa foi superada há mais tempo.


Pela análise do Observatório Covid-19 BR, iniciativa da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), são 347.357 mortes até esse sábado, número estimado a partir do método nowcasting (ferramenta estatística que permite avaliar o que, de fato, está ocorrendo no momento pandêmico). Só nesta semana, o acumulado gira em torno de 28,8 mil óbitos, uma média de 4 mil por dia.


Sem a correção, o número que foi contabilizado no balanço do Ministério da Saúde dá conta de quase 10 mil registros a menos. São 19.643 fatalidades registradas na última semana, fazendo a média móvel de mortes se firmar em 2.806, segundo o Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass). Mesmo assim, o acumulado aumentou em 10% na comparação com a semana anterior, quando foram somadas 17.198 perdas. Com isso, o país bateu recorde negativo de semana mais mortal pela sexta vez consecutiva.


Em meio ao colapso do sistema de saúde, os atrasos no registros no Sistema de Vigilância Epidemiológica da Gripe (SIVEP-Gripe) são ainda mais significativos, já que, muitas vezes, a mesma equipe responsável pela atualização dos casos precisa se revezar no atendimento a pacientes, ainda que de forma indireta, como ao agilizar leitos de UTIs. É o que explica o pesquisador Diego Ricardo Xavier, do Observatório de Clima e Saúde (LIS)/Icic.


“Não se trata de um processo automático. Por mais que se faça alterações para otimizar as inserções, ainda assim, o processo depende de pessoas, e existe um limite de digitação, sobretudo pelo número reduzido de profissionais que desempenham essa tarefa”. Xavier explica que há números de janeiro sendo introduzidos atualmente e que, em especial, há uma liberação maior de números represados, no momento, em razão das mudanças no sistema. Passou-se a cobrar mais informações sem aviso prévio e, por isso, muitas mortes deixaram de ser contabilizadas. A atualização foi suspensa até que as unidades consigam se preparar para cumprí-la.


Após o feriado de Páscoa, no entanto, a expectativa é de que os balanços diários venham ainda mais negativamente incrementados.]

“Não se aglomerem”, pede ministro

Com o objetivo de manter uma queda de casos, o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, fez um pedido à população brasileira: “Neste domingo pascoal, não se aglomerem”, disse. “O uso de máscaras é fundamental. Para tanto, é necessário que haja a adesão da população. A higiene das mãos, com água e sabão, uso de álcool em gel, distanciamento regulamentar entre as pessoas, evitar aglomerações, ampliar a capacidade de testagem e identificação de casos, bem como seus contatos”, enumerou.

Ministro Nunes Marques libera cultos religiosos

Ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Nunes Marques autorizou cultos e celebrações religiosas em todo o Brasilem meio ao pior momento da pandemia. Indicado pelo presidente Jair Bolsonaro para a vaga do ex-ministro Celso de Mello, que se aposentou em outubro passado, Marques determinou, na decisão publicada ontem,que sejam aplicados protocolos sanitários nos espaços religiosos, limitando a presença em cultos e missas a 25% da capacidade dopúblico. A justificativa foi a celebração da Páscoa, hoje, comemorada pelos brasileiros cristãos, maioria no Brasil.


“Concedo a medida cautelar pleiteada, ad referendum do plenário, para o fim de determinar que: estados, Distrito Federal e municípios se abstenham de editar ou de exigir o cumprimento de decretos ou atos administrativos locais que proíbam completamente a realização de celebrações religiosas presenciais”, declarou o ministro.


A decisão do magistrado foi tomada em ação movida pela Associação Nacional de Juristas Evangélicos. Uma outra ação parecida estava com o ministro Gilmar Mendes, mas não houve decisão. “Reconheço que o momento é de cautela, ante o contexto pandêmico que vivenciamos. Ainda assim, e justamente por vivermos em momentos tão difíceis, mais se faz necessário reconhecer a essencialidade da atividade religiosa, responsável, entre outras funções, por conferir acolhimento e conforto espiritual”, observou o decano em sua decisão.

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