VACINAS FALSIFICADAS

Falsa enfermeira também 'vacinou' moradores de prédios de luxo em BH

Falsa enfermeira que aplicou doses irregulares em empresários em garagem de ônibus teria ''vacinado'' também moradores de residências em bairros nobres

Cristiane Silva/Estado de Minas
postado em 07/04/2021 11:26 / atualizado em 07/04/2021 11:28
 (crédito: Edésio Ferreira/EM/D.A Press)
(crédito: Edésio Ferreira/EM/D.A Press)

A cuidadora de idosos investigada pela suspeita de se passar por enfermeira e aplicar uma suposta vacina contra a covid-19 em empresários e políticos no mês passado na garagem de uma empresa de ônibus teria feito o mesmo com moradores de um prédio de luxo na Região Oeste de Belo Horizonte. O novo caso foi divulgado pela rádio “Itatiaia” na manhã de ontem. Segundo a reportagem, o esquema clandestino teria começado em 5 de março em um condomínio que fica no Bairro Gutierrez. Membros de pelo menos três famílias que moram no local teriam recebido aplicações a R$ 600 cada.

A rádio afirma que há registros de Cláudia Mônica Pinheiro Torres – que se apresentava como enfermeira, segundo as investigações – entrando no prédio nos dias 5, 17 e 22 de março, antes do caso da garagem, que veio à tona em uma reportagem da revista “Piauí”. Um vídeo obtido pela reportagem mostra a suspeita entrando no prédio do Gutierrez. Entre os vacinados estaria o dono de um aras no interior de Minas que, de acordo com a reportagem da Itatiaia, pode ser o elo entre a mulher e os empresários da Saritur, onde teria ocorrido a vacinação clandestina.

Cláudia teria sido contratada pelos irmãos Robson Lessa e Rômulo Lessa, donos da Saritur, para aplicar a suposta vacina contra a COVID-19 em um grupo superior a 80 pessoas. O suposto imunizante teria sido fornecido pela mulher. Segundo a revista Piauí, em reportagem publicada em 24 de março, Cláudia cobrava R$ 600 por doses do que afirmava ser da vacina. O filho da falsa enfermeira prestou depoimento à PF na segunda-feira. A suspeita é de que ele seja o responsável pelo recebimento dos pagamentos, que ocorriam, muitas vezes, via Pix, o que pode facilitar as investigações.

Diligências feitas pela Polícia Federal encontraram na casa de Cláudia de Freitas ampolas de soro fisiológico. A suspeita é que era isso que vinha sendo aplicado nas pessoas que contratavam seus serviços. Na ocasião, as autoridades constataram que a mulher, que na verdade é uma cuidadora de idosos, atendia também em domicílio. De acordo com as investigações, um dos bairros em que ela mais fez 'atendimentos' – em casas e apartamentos – foi o Belvedere, de classe alta, no Centro-Sul de BH.

Depoimento

Uma das pessoas que teria recebido a aplicação é o ex-senador Clésio Andrade. A PF apreendeu uma lista com mais de 80 nomes de pessoas que teriam passado pelo procedimento, mas o nome de Clésio Andrade não consta nela. O ex-senador prestaria depoimento na manhã de ontem à PF, em Belo Horizonte, como parte das investigações da suspeita de vacinação irregular contra a COVID-19. Mas a oitiva foi suspensa por determinação judicial. Andrade seria ouvido na sede da PF, que fica no Bairro Gutierrez, Região Oeste da capital. A defesa dele compareceu ao local mais cedo e saiu da unidade explicando que ele não compareceria.

“A defesa não teve acesso à investigação. Então, assim que tivermos conhecimento de toda a investigação, teremos condição de opinar alguma coisa a respeito”, explicou o advogado Robson Pinheiro aos jornalistas presentes. Ainda segundo ele, recentemente o ex-senador teve contato com uma pessoa infectada pelo coronavírus. Assim, ele está em isolamento. “Todo mundo que teve contato com alguém que teve COVID tem que manter quarentena. Eu fiz essa consideração com o delegado e ele disse que vai analisar”, comentou.

Questionado, Pinheiro disse que a defesa levantou a possibilidade de Andrade ser ouvido por videoconferência. “Acho que é uma questão de ética. No período que estamos vivendo, ninguém quer sair por aí contaminando ninguém”, pontuou. A Polícia Federal informo que havia outros dois depoimentos previstos para a tarde, mas que não divulgaria a identidade das pessoas que são ouvidas nas apurações. A cuidadora chegou a ser presa durante a Operação Camarote, desencadeada no mês passado, mas foi liberada.

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