País tem pior semana da pandemia

Nos últimos sete dias, foram registradas 21.141 mortes pela covid-19 — 6% de todos os óbitos anotados desde que a doença foi detectada no Brasil, há pouco mais de um ano. Especialistas alertam para risco de novas variantes do coronavírus

Israel Medeiros
postado em 10/04/2021 23:05

O Brasil teve a semana mais mortal desde o início da pandemia do novo coronavírus. Segundo o Ministério da Saúde, o número de mortes causadas por covid-19 entre 4 e 10 de abril foi de 21.141. Isso significa que o período concentrou 6% de todos os óbitos no país em toda a pandemia. O dia com maior letalidade foi a quinta-feira (8), que registrou 4.249 óbitos. Com isso, o Brasil chega à marca de 351.334 vidas perdidas para o novo coronavírus.

Entre a sexta (9) e o sábado (10), foram 2,6 mil mortes e 71.832 novos casos de infecção registrados. A taxa de letalidade é de 2,6%. Já o número de infectados chegou a 13.445.006. O estado com maior número de casos acumulados na pandemia é também o que possui maior número de mortos: São Paulo, com 2,6 milhões de contágios e 82.407 óbitos.

Para a infectologista Ana Helena Britto Germoglio, a lenta vacinação, a ausência de testagem em massa e a falta de uma coordenação para restringir a circulação de pessoas são alguns dos principais motivos para o país ter chegado ao pior momento da pandemia.

“Em países como Cuba, Ruanda, que não são ricos, houve um sério enfrentamento à pandemia. Eles investiram em testagem, aumento da rede hospitalar, em comunicação efetiva e em auxílio governamental para a população. E investiram em contenção da circulação de pessoas, que seria um lockdown de forma restrita e localizada. Nós não fizemos isso em momento algum”, diz.

Ela também alerta para o fato de que, com as novas variantes identificadas no Brasil, há risco de as vacinas aplicadas por aqui ficarem desatualizadas e, portanto, perderem eficácia. “Quando há muita circulação do vírus, é comum que haja mutação. As vacinas que temos agora são eficazes contra variantes, mas elas podem se tornar ineficazes ou menos eficazes. Por isso, é importante vacinar o máximo de pessoas por dia,”

A infectologista avalia que o país deve ter o pior momento da pandemia na terceira semana de abril, para, só então, ver uma diminuição no número de casos. Antes disso, o número de mortes diárias pode aumentar e bater em 5 mil por dia. Nesse cenário, ela critica a realização de eventos que podem maximizar a possibilidade de contágios, como cultos e missas, apontados como encontros com maior potencial de infecção.

“O que precisamos agora é orientar a população dos riscos de professar a fé em um ambiente fechado, com pessoas cantando. Vários estudos mostram que quando falam alto ou cantam, principalmente em locais fechados, onde as pessoas tendem a manter menos distanciamento, o vírus pode viajar por mais de 6 metros. É um risco desnecessário para a população. Por que eu não posso praticar minha fé em outro local? Em casa, ao ar livre?”

Julival Ribeiro, infectologista da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), ressalta que o Brasil deveria seguir os exemplos do Reino Unido, de Israel e do Chile, que adotaram medidas restritivas mais rígidas. “O Brasil precisa adotar um lockdown de verdade e vacinar em massa. Eu sei que existem problemas econômicos, e isso cabe aos governantes resolver. O que não podemos permitir é uma pandemia sem controle. Nosso sistema de saúde está em falência.”

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