O avanço da pandemia de covid-19 está deixando marcas profundas na população e já impacta diretamente a demografia do país. Boletim da Fundação Oswaldo Cruz aponta que a covid-19 se disseminou com força no Brasil entre janeiro e março deste ano. De acordo com o levantamento, no período, o número de casos aumentou 701,58% e o de mortes, 468,57%. A gravidade da situação fica evidente ao se analisar a densidade da população. Dados do Portal da Transparência da Arpen-Brasil, entidade que reúne os cartórios de registro civil, mostram que, pela primeira vez na história, as regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste apresentam mais mortes do que nascimentos.
A redução inédita da população começa a ser verificada nos locais onde o levantamento da Fiocruz revela piora nos índices da doença. No Sudeste, os primeiros 10 dias de abril registraram 13.998 nascimentos, enquanto a quantidade de óbitos ficou em 15.967. Em números absolutos, a população dos estados da região foi reduzida em 1.969 pessoas. No Centro-Oeste, 2.617 pessoas nasceram e outras 2.618 foram a óbito. No Sul, foram registrados 5.252 novos brasileiros e 5.639 não resistiram à força da covid-19.
Estudo da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, aponta que a pandemia reduziu em quase dois anos (1,94) a estimativa de vida dos brasileiros, que caiu de 74,8 anos para 76,7 anos, nível de 2013.
O levantamento da Fiocruz aponta que o novo coronavírus avança entre a população mais jovem. Entre a faixa etária de 30 a 39 anos, o número de casos aumentou 1.218,33% e, entre quem tem de 40 a 49 anos, 1.217,95%. Nos grupos dos que têm de 20 a 29 anos, fase que pega o final da adolescência até a fase adulta jovem, a letalidade aumentou 872,73%. Além de atingir em cheio a força de trabalho, a doença avança sobre a população em plena fase reprodutiva.
Epicentro
As taxas de mortalidade mais elevadas foram identificadas em Rondônia, Tocantins, São Paulo, Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Goiás e Distrito Federal. Esse padrão, aponta o boletim da Fiocruz, coloca as regiões Sul e Centro-Oeste no epicentro da epidemia no país nas próximas semanas.
O problema da desproporcionalidade de mortes e nascimentos é muito mais grave, se analisados os dados em geral. Em março do ano passado, no Sul, nasceram 28.820 e outras 15.762 pessoas morreram. Com isso, a população da região aumentou em 13 mil pessoas em apenas um mês, mas, agora, tem um recuo inédito. Se a pandemia continuar avançando, o país poderá sofrer um colapso demográfico histórico, de uma maneira que levaria décadas para se recuperar.
Eliseu Waldman, professor do Departamento de Epidemiologia da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP), ressalta que esse fenômeno de redução da população foi constatado em outras pandemias e o impacto deve superar gerações. “É um fenômeno temporário, mas que deixa marcas. Tem dados da pandemia de gripe espanhola e das pandemias de peste bubônica neste sentido. Todas foram doenças que marcaram a história global”, explica.
Quando a morte ganha da vida
Abril — de 1 a 10
Sul
5.252 nascimentos
5.639 mortes
Centro-Oeste
2.617 nascimentos
2.618 mortes
Sudeste
13.998 nascimentos
15.967 mortes
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Projeções são desanimadoras
Ao ver no noticiário internacional das redes de tevê pessoas que não fazem parte do grupo prioritário da vacinação contra a covid-19 receberem o imunizante, o brasileiro fica ansioso para saber quando vai receber a injeção. Na última semana, a plataforma Quando Vou Ser Vacinado, que prevê em quanto tempo cada brasileiro receberá sua dose, foi lançada e já começou assustando os mais jovens.
Ao simular a situação de um homem de 18 anos, sem comorbidades, morador do Distrito Federal, o site estimou que essa pessoa só se vacinará contra a covid-19 daqui a dois anos e sete meses. Mesmo que o dado seja uma projeção, a informação mostra que faixas de idade que não fazem parte do grupo prioritário definido pelo governo federal ainda estão longe de serem imunizadas.
O cálculo da plataforma é feito pela média dos últimos sete dias de vacinação em cada estado, utilizando a projeção da população brasileira e o recorte dos estados por idade, com base em dados disponibilizados pelo IBGE. Para os grupos prioritários, leva-se em consideração a estratégia de imunzação contra Influenza/H1N1 de 2020, publicado pelo DataSUS.
“O mais urgente para reduzir hospitalização e morte é comprar vacinas e montar o melhor programa de imunização que a gente conseguir. O PNI (PLano Nacional de Imunização) é muito bom”, afirma a microbiologista Natália Pasternak, diretora-presidente do Instituto Questão de Ciência.
Ela ressalta que investimento em ciência deve ser política de Estado. “Podermos ser um grande desenvolvedor e produtor de vacinas”, garante. (BL e MEC)