Um artigo feito por pesquisadores da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) avaliou que o isolamento social não funciona contra a disseminação do novo coronavírus. O material foi publicado na revista Scientific Reports em março deste ano, e repercutiu internacionalmente. Especialistas apontam que o estudo é o inverso do real efeito do isolamento social.
A pesquisa analisou a relação entre isolamento social e o número de óbito por localidade. As estatísticas foram obtidas pelo índice de mobilidade do Google. E coletados de fevereiro a agosto de 2020, em 87 países diferentes, sendo 27 estados brasileiros e seis capitais: Manaus (AM), Fortaleza (CE), Belo Horizonte (MG), Rio de Janeiro (RJ), São Paulo (SP) e Porto Alegre (RS). Além de três grandes cidades do mundo: Tóquio, Berlim e Nova York.
Além disso, não houve associação entre a diminuição de mortes e o isolamento social em 98% das comparações realizadas. O resultado mais significativo do efeito “fique em casa” ocorreu em 63 dos 3.741 testes, o que representa 1,6% das combinações.
A análise repercutiu em algumas instituições científicas. Por meio de outro estudo, o doutorando em Economia Carlos Góes, da Universidade da Califórnia, destacou que os pesquisadores interpretaram erroneamente os cálculos matemáticos.
"O problema é que eles não perceberam que o método que eles utilizaram era só uma média ponderada entre a associação real na região A e na região B. Eles interpretaram o método que eles utilizaram de forma estatisticamente incorreta", disse Carlos Góes.
Segundo Góes, o erro foi comparar mortes por covid-19 e o percentual de pessoas que ficaram em casa em pares de regiões: uma que eles classificaram como tendo lockdown, e outra localidade sem lockdown. "Nesse caso, o método utilizado pelos autores vai ser uma média das associações entre os dois países. E, mesmo que a associação real seja positiva em um caso e negativa no outros, os autores vão encontrar algo próximo a zero", completou.
Especialistas da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) comprovaram, por meio de artigo científico, a eficácia do isolamento social no combate à covid-19 no Brasil. Houve coleta de dados em quatro capitais brasileiras após governos adotarem medidas de isolamento social em meados de 2020.
"Quando o Brasil apresentava curva ascendente da primeira onda da pandemia, em São Luís (MA), observamos uma redução de 37,85% enquanto em Fortaleza a queda foi de 33,4% na diferença média de óbitos diários se o lockdown não fosse implementado. As políticas de distanciamento social podem ser ferramentas úteis no achatamento da curva epidêmica", indicou o estudo.
O médico infectologista Hemerson Luz explica que o objetivo do isolamento social é diminuir a circulação do vírus, e que precisa ser implementado com outras medidas.
"A verificação da taxa de ocupação dos leitos em hospitais, curva de disseminação da doença, entre outras aspectos, devem ser analisados para traçar estratégias e, com isso, achatar o número de casos da doença. Ou seja, é o contexto multifatorial que explica a eficácia do isolamento social", afirmou.
Autoria da pesquisa
Ricardo Savaris, um dos autores da pesquisa da UFRGS, disse ao jornal Folha de S.Paulo que a pesquisa não conseguiu relacionar a política de ficar em casa à redução de mortes por Covid. E que nunca foi mencionado que o estudo tratava sobre lockdown.
Uma nota do site da Scientific Reports, onde a pesquisa está hospedada, diz que as conclusões do artigo estão sujeitas a críticas a serem consideradas pelos editores. E finaliza: “Uma resposta editorial adicional virá depois que todas as partes tiverem a oportunidade de responder na íntegra”
Estagiário sob supervisão de Carlos Alexandre de Sousa
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