A vacinação contra a covid-19 no Brasil passa por diversos desafios — da falta de imunizantes disponíveis à desmobilização das pessoas que precisam tomar a segunda dose do fármaco. Aproximadamente 1,5 milhão de brasileiros que foram contemplados na primeira etapa de imunização contra a covid-19 ainda não receberam a segunda dose, necessária tanto na CoronaVac quanto na Oxford/AstraZeneca. O Ministério da Saúde alerta para a necessidade de procurar os postos de vacinação a fim de assegurar a aplicação do reforço, mesmo fora do prazo recomendado.
“Quem atrasou e não conseguiu [tomar a segunda dose] com 28 dias, no caso da CoronaVac, ou 84 dias, da AstraZeneca, deve completar o esquema”, ressaltou a coordenadora do Programa Nacional de Imunizações (PNI), Francieli Fantinato.
Os gestores locais alegam que parte do problema ocorre em razão da demora na inserção das aplicações. Os responsáveis têm até 48 horas para agregar os novos números ao sistema do Ministério da Saúde, ação que, por si só, já tem sido um desafio, segundo o presidente da Confederação Nacional dos Municípios (CNM), Glademir Aroldi. “A digitalização das doses no sistema ocorre apenas nos dias seguintes. Há, ainda, várias reclamações dos gestores locais quanto ao carregamento de dados pelo sistema, que apresenta grande instabilidade”, observou, em audiência pública no Senado. Esse fato também tem provocado a diferença entre o quantitativo entregue e o aplicado. Há, ainda, “a incerteza na entrega de novas remessas, que impõe reservas para aplicação da segunda dose”, comentou Aroldi.
O diretor científico da Sociedade de Infectologia do Distrito Federal, José Davi Urbaez, acrescentou que é comum ocorrer atrasos e até queda de cobertura vacinal quando se analisa a aplicação da segundo dose imunizante. “Em toda vacina que é multidose, sempre cai o percentual de pessoas que buscam completar o esquema vacinal. Há múltiplos fatores que explicam o porquê de as pessoas não aderirem para terminar o esquema”, observou.
Devido à situação grave da pandemia no Brasil, o infectologista faz um alerta. “Uma pessoa com uma dose só não é considerada vacinada. Nem quem tomou a CoronaVac, nem a vacina de Oxford. Então, esse 1,5 milhão de pessoas ainda não estão vacinadas e fazem parte do grupo de pessoas suscetíveis à doença”, advertiu. Para sanar o problema, seria necessária uma campanha massiva em prol da vacinação. “Isso não está em cartazes, em outdoors, ou na televisão o tempo todo, como deveria estar. Há uma falha de comunicação para estímulo da vacina”, criticou.
Segundo Francieli Fantinanto, do Ministério da Saúde, o levantamento do governo federal indica a necessidade imediata de se discutir com secretários de saúde estaduais e municipais “uma estratégia para buscar essas pessoas, a fim de que elas completem o esquema e garantam a eficácia das vacinas”. A procura por essas pessoas é bem vista por Urbaez. “Teria que lançar essa lista daqueles que não tomaram a segunda dose e entrar em contato e chamar para vacinar”, completou.
Doses casadas
O descompasso com a segunda dose, portanto, não decorre da falta de vacinas aos estados. Em razão dos atrasos do ingrediente farmacêutico ativo (IFA), o Ministério da Saúde avalia se voltará a mandar às unidades da Federação doses casadas. O governo federal tem duas opções nessa situação: exigir dos gestores locais a reserva de metade da remessa para segunda aplicação; ou enviar doses para as primeiras aplicações e, posteriormente, garantir o envio do reforço.
“A orientação sempre vem pelo informe técnico semanal. Temos feito um trabalho grande com os coordenadores estaduais para que possam orientar os municipais”, disse a coordenadora do PNI. Nesta semana, a pasta espera receber mais 5 milhões de doses de vacinas para garantir nova distribuição aos entes federados.
Hoje, o Instituto Butantan libera um novo lote de doses da vacina CoronaVac ao PNI. Ao todo, já foram entregues 39,7 milhões de unidades, das quais 3,5 milhões em abril. A promessa é cumprir o cronograma de 46 milhões de unidades entregues ao governo federal nesta primeira etapa. No entanto o instituto tem apenas mais 1,7 milhão de doses fabricadas com o ingrediente farmacêutico ativo de importações anteriores. Para chegar à previsão de abril, depende do envio de mais IFA da China.
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Média diária acima de 3 mil mortes
Nas últimas 24 horas, a covid-19 matou 3.808 brasileiros. Com esse registro, o país contabiliza 358.425 mortos pela pandemia, segundo o boletim divulgado pelo Ministério da Saúde. Com mais 82.186 infectados na terça-feira, o Brasil alcançou a marca de 13.599.994 de casos.
São Paulo permanece como a unidade da Federação com a maioria das ocorrências. Pelo levantamento, 2.667.241 pessoas no estado já foram infectadas pelo novo coronavírus, enquanto 84.380 morreram por covid-19. Em seguida, vem Minas Gerais, com 1.235.972 casos, sendo 28.152 fatalidades. O Distrito Federal soma 361.023 diagnósticos positivos e 6.906 mortos pela doença. A média diária da doença vem batendo recordes. Segundo o cálculo do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass), que leva em conta os números dos últimos sete dias, o país tem média de 3.124 mortes.
Apesar de reconhecer que a capacidade de vacinação do Brasil está subutilizada, o ministro Marcelo Queiroga acredita que a campanha de imunização contra a covid-19 está “acelerada” no país. “O Brasil já é o quinto em vacinação e o nono que mais imuniza por 100 mil habitantes. Nós já vacinamos 1 milhão de pessoas por dia”, disse.
O Ministério da Saúde reiterou a segurança e a eficácia das vacinas incorporadas ao Programa Nacional de Imunizações (PNI). A pasta ressaltou que, até o momento, não foi identificada uma relação de causalidade entre o imunizante da AstraZeneca/Oxford com eventos raros de trombose (formação de coágulos sanguíneos) associados à plaquetopenia.