Caso Laura Orlandi

Denúncia de maus-tratos à menina de 3 anos repercute nas redes sociais

Mãe de Laura Orlandi pede justiça por filha vítima de abuso sexual e maus-tratos em Santa Catarina. Em entrevista ao Correio, pai da menina, Cristiano Orlandi, nega as acusações

Fernanda Strickland
Alexia Oliveira*
postado em 16/04/2021 15:38 / atualizado em 23/04/2021 12:05
 (crédito: Perfil Justiçaporlauraorlandi)
(crédito: Perfil Justiçaporlauraorlandi)

Em meio aos desdobramentos do caso Henry, Tatiana Mari da Silva, mãe de Laura Orlandi, de apenas 3 anos, viu crescer a repercussão do perfil no Instagram criado por ela para denunciar maus-tratos e abusos sexuais supostamente sofridos pela menina pelo filho da madrasta de Laura, que convive junto com a criança na casa do pai. A primeira publicação foi realizada no dia 17 de dezembro do ano passado. Desde então, a mãe compartilhava vídeos da criança se recusando a ir à casa do pai e chorando ao sair dos braços da mãe.

O perfil utilizado para denunciar o caso já tem mais de 700 mil seguidores. Tatiana recebeu apoio de vários influenciadores, internautas e advogados, que se ofereceram para ajudar no caso. A mãe diz nas redes que já denunciou o caso na Delegacia da Mulher de Kobrassol, em São José (SC), e pede mais visibilidade para que a Justiça seja feita.

A tag #JustiçaPorLauraOrlandi passou a ser usada por internautas após a repercussão do perfil nas redes sociais. 

Primeira publicação

No primeiro vídeo publicado no Instagram, a criança aparece não querendo ir com o pai. Tatiana explica em legenda: “Observe como a criança não quer ir para os braços do pai, ela o rejeita, como fuga tenta ir para os braços da mãe, grita e chora desesperadamente por ela, enquanto Monica, madrasta da criança, bate palmas ao fundo com soar sarcástico e maldoso”.

A mãe conta que a gravidez da criança não foi desejada por Cristiano Orlandi, pai de Laura. “Esse pai queria que a mãe abortasse quando soube da gravidez, porque era casado com outra pessoa que trabalhava no tribunal e estava preocupado com sua reputação por causa do relacionamento extraconjugal que mantinha, mas a mãe não concordou e preferiu lutar sozinha pela filha. Como confiar nesse pai agora com a filha de três anos sob sua guarda e presença da madrasta?”, questiona.

“Até o momento, o pai usa de sua influência profissional para manipular os processos jurídicos e a própria guarda da filha, afastando horrivelmente a mesma da mãe. Entre tantos casos que aconteceram como Isabela Nardoni e Bernardo, NÃO QUEREMOS QUE ACONTEÇA O MESMO COM A LAURA’, a mãe declara no post.

A versão do pai

Em entrevista ao Correio, Cristiano Orlandi, pai de Laura, nega as acusações. Ele conta que após meses de processo e negociação, ele e Tatiana chegaram a um acordo quanto à guarda compartilhada da criança, com residência materna, às visitas e ao valor da pensão. "A disputa se intensificou depois que a Tatiana perdeu, provisoriamente, a guarda da Laura, no fim do ano passado", relata. "Em vez de recorrer da decisão pelas vias legais, ela optou por ir às redes sociais”, completa.

Sobre as acusações de abuso sexual feitas pela mãe da criança e supostamente feitas pelo enteado de Cristiano, ele diz ser importante frisar que o menino tem cinco anos de idade. “As crianças estão sempre sob a supervisão de adultos, o que torna essa declaração humanamente impossível. Além disso, a Tatiana tem um histórico de inventar motivos para que eu perca a guarda da menina, e de desqualificar minha companheira e meu enteado, induzindo a Laura a pensar que não são ‘nada’ dela (...) Sempre houve um esforço para que a Laura pensasse e falasse mal deles, por parte da Tatiana”, conta Cristiano.

Segundo ele, as declarações da mulher "contrastam com o que ocorre de fato aqui em casa, onde a Laura é muito amada por todos". Além disso, continua, "a relação entre as crianças é absolutamente normal. Eles brincam e brigam como quaisquer crianças de 3 e 5 anos, sempre vigiadas por adultos e são muito companheiros".

Ele acusa Tatiana de praticar alienação parental, de modo que Laura "fique assustada e com medo na hora de ir para a casa de um homem mau, que vai maltratá-la, e que a tirou da mãe com a ajuda da polícia. O que a Laura ouve o dia todo e minutos antes da devolução, e durante as chamadas de vídeo gravadas entre mãe e filha". Ele diz ainda que todos os vídeos postados nas redes sociais por Tatiana no perfil criado no Instagram são de dois dias apenas. "Isso sem contar que a Laura tem 3 anos e presencia a mãe chorando e se recusando a entregá-la ao pai. Mas posso garantir que minutos depois, ela já está feliz e sorrindo, relaxada, brincando", argumenta.

Segundo Cristiano, o estrago que a exposição nas redes sociais causou na sua família é imensurável. “Somos ameaçados de todas as formas. Encontro forças para seguir num único objetivo, que é muito claro: o bem-estar e a dignidade da minha filha. Nunca pensei que as coisas fossem tomar essa proporção. Eu sempre tive receio das atitudes da Tatiana, que desde o começo fazia escândalos, me ligava centenas de vezes, aparecia no meu trabalho de repente e já demonstrava um comportamento abusivo. Mas usar a Laura como meio para me prejudicar, isso eu nunca imaginei. Só espero que isso acabe logo e que minha filha seja preservada”, desabafa.

Sob sigilo

A Delegacia de Proteção da Criança, Adolescente, Mulher e Idoso (DPCAMI) afirmou ao Correio que o caso é restrito. “As investigações sobre o caso ainda estão em andamento, a mãe de Laura realizou a denúncia, e prestou queixa sobre o ocorrido. Tudo ainda está sob sigilo, o processo ainda está sob apuração, a criança precisa ser ouvida e com participação do psicólogo. Não podemos dar mais informações sobre o caso”. A reportagem também entrou em contato com o Conselho Tutelar de São José (SC), mas não obteve respostas sobre o caso.

*Estagiária sob a supervisão de Andreia Castro

A versão do Pai

Em entrevista ao Correio, Cristiano Orlandi, pai da menina Laura Orlandi, conta que Tatiana era garota de programa. “Nossa relação era estritamente sexual e profissional. Não tínhamos uma relação/ um relacionamento. Fiquei assustado quando recebi a notícia da gravidez, porque não tínhamos qualquer relacionamento, e eu era casado. Mas prestei toda a assistência para a Tatiana, auxiliando-a como foi possível, inclusive antes do nascimento, mesmo havendo grandes chances de a criança não ser minha filha - graças a Deus, ela é”, explica.

Cristiano diz que pagou e organizou grande parte referente ao obstetra e ao parto. “Após o nascimento da Laura, e a realização de exame DNA, paternidade assumida, continuei prestando toda a assistência possível para a minha filha, e procurei um advogado para resolver a questão dos alimentos amigavelmente, pois havia controvérsia quanto ao valor. Tudo isso, em menos de um mês após o nascimento da Laura. Não houve acordo, no que ajuizei ação ofertando alimentos para a minha filha requerendo também a regulamentação da guarda e da convivência.

Ele relata que depois de meses de processo e negociação, chegaram em um acordo quanto à guarda compartilhada com residência materna, às visitas e ao valor da pensão. “A disputa se intensificou depois que a Tatiana perdeu, provisoriamente, a guarda da Laura, no fim do ano passado. Mas tudo começou em julho de 2019, quando os vizinhos da mãe vieram me dizer que ela fazia festas e recebia diversos homens a qualquer horário do dia e da noite em seu apartamento de dois cômodos, onde morava com a minha filha, que presenciava tudo ou ficava trancada no banheiro gritando. Motivo este que fez com que os vizinhos criassem um abaixo-assinado pedindo a retirada dela do condomínio”, relata o pai.

O pai esclarece que a partir desse abaixo-assinado, em julho de 2019, os vizinhos fizeram denúncia ao conselho tutelar e para sua surpresa, descobriu que já havia uma outra denúncia contra ela, do ano anterior, outubro de 2018, que nunca chegou aos seus ouvidos. “Após o Conselho Tutelar ter me chamado para que eu fosse buscar a minha filha, reverteram a medida sem maiores explicações. Desta maneira, fui à justiça contar os fatos que tinham chegado a mim e pedir a guarda da Laura. Inicialmente, meu pedido foi negado. Eu recorri, então, ao TJSC e obtive uma liminar para ter a guarda unilateral da Laura. E Tatiana, ao invés de recorrer da decisão pelas vias legais, optou por ir às redes sociais”.

Tatiana disse que Laura tem sido abusada sexualmente pelo enteado do pai. Sobre isso Cristiano informou que é importante frisar que ele tem cinco anos de idade. “As crianças estão sempre sob a supervisão de adultos, o que torna essa declaração humanamente impossível. Além disso, a Tatiana tem um histórico de inventar motivos para que eu perca a guarda da menina, e de desqualificar minha companheira e meu enteado, induzindo a Laura a pensar que não são ‘nada’ dela, que ela tem uma única irmã, etc. Sempre houve um esforço para que a Laura pensasse e falasse mal deles, por parte da Tatiana”.

“Isso contrasta com o que ocorre de fato aqui em casa, onde a Laura é muito amada por todos. Além disso, a relação entre as crianças é absolutamente normal. Eles brincam e brigam como qualquer criança de 3 e 5 anos, sempre vigiados por adultos, e são muito companheiros. Enfim, eu fui resgatar a minha filha, que morava com a mãe por comum acordo, sendo absolutamente ilógico permitir que ela recebesse maus tratos de enteado, madrasta, etc”, completa Cristiano.

Para Cristiano, Tatiana pratica alienação parental com a minha filha, de modo que ela fique assustada e com medo na hora de ir para a casa de um homem mau, que vai maltratá-la, e que a tirou da mãe com a ajuda da polícia. “O que a Laura ouve o dia todo e minutos antes da devolução, e durante as chamadas de vídeo gravadas entre mãe e filha. E, se puderem avaliar, todos os vídeos postados são de dois dias apenas, isso sem contar que a Laura tem 3 anos e presencia a mãe chorando e se recusando a entregá-la ao pai. Mas posso garantir que minutos depois, ela já está feliz e sorrindo, relaxada, brincando.

“Destaco que não há esforço da mãe para preservar o emocional da filha nos momentos de entrega, ela prefere criar um espetáculo para poder filmar em vez de tentar reduzir o estresse da menina nessas situações”, destaca.

Além das imagens publicadas no perfil “Justiça por Laura Orlandi”, outros perfis começaram a publicar imagens de Cristiano com Laura em uma piscina. Crisano explica que as imagens foram na mesma época dos vídeos publicados. “As fotografias na piscina foram tiradas meia hora após a entrega da Laura, no dia 03.01.2021, Às 16h15 ela foi entregue, com o drama de sempre da parte da mãe, e as imagens são do mesmo dia, às 16h38", detalha.

O pai explica que a relação dele com a filha é muito amorosa. “Laura fica o tempo todo grudada e agarrada comigo e com minha companheira, que se dedica a ela de forma incansável, e brinca direto com meu enteado, o qual ama”.

Segundo Cristiano, o estrago que essa exposição nas redes sociais, carregada de inverdades, causou na sua família é imensurável. “Somos ameaçados de todas as formas. Encontro forças para seguir num único objetivo, que é muito claro: o bem-estar e a dignidade da minha filha. Nunca pensei que as coisas fossem tomar essa proporção. Eu sempre tive receio das atitudes da Tatiana, que desde o começo fazia escândalos, me ligava centenas de vezes, aparecia no meu trabalho de repente e já demonstrava um comportamento abusivo. Mas usar a Laura como meio para me prejudicar, isso eu nunca imaginei. Só espero que isso acabe logo e que minha filha seja preservada”, termina.

Psicológico da Criança

O psicólogo Tiago Araújo, de 31 anos, avalia que nesses casos de abuso familiar, em que há a figura de pai ou mãe envolvidos, são diversos os danos psicológicos causados à criança. “Pode causar uma série de doenças psicossomáticas na vida da criança, que são relacionadas às emoções. Pode causar mudança de humor, ansiedade, a criança fica mais agressiva e temerosa. Chora com frequência, fica inibida, a alimentação fica prejudicada e também o sono, também corre o risco de ter depressão”, cita.

Tiago também alerta para os perigos que os responsáveis pelas crianças devem estar atentos, para que não haja situações como agressões e abusos. “É importante observar como essas crianças estão sendo assistidas e estar de olho para o que elas fazem”, ressalta.

Caso de justiça

A delegada de Proteção da Criança, Adolescente, Mulher e Idoso (DPCAMI) afirmou ao Correio que o caso é restrito. “As investigações sobre o caso ainda estão em andamento, a mãe de Laura realizou a denúncia, e prestou queixa sobre o ocorrido. Tudo ainda está sob sigilo, o processo ainda está sob apuração, a criança precisa ser ouvida e com participação do psicólogo e não podemos dar mais informações sobre o caso”, afirma. O Correio também entrou em contato com o Conselho Tutelar de São José (SC), mas não obteve respostas sobre o caso.

A especialista em direito penal, Jessica Marques, do Kolbe Advogado e Associados explica que no caso da Laura Orlandi o pai tem a guarda da criança, e a mãe tem apenas o direito de visitação. “Analisando todo contexto no sentido jurídico, a mãe por ter apenas o direito de visitação tem a obrigação legal de devolver a criança para o pai. Porque se ela não fizer isso, ela estaria descumprindo uma determinação judicial, cujo as consequências seriam drásticas”, explica.

Jessica disse que ao não entregar a criança, poderia sofrer algum tipo de punição. “Ela poderia receber uma multa, advertência, eventualmente perder sua autoridade parental, o seu direito de visitação. Além de poder responder em esfera criminal, por crime de desobediência. Então em razão da situação jurídica da criança ela tem a obrigação de devolvê-la ao pai”, afirma.

A especialista declara que sobre todo o acontecido, o correto seria ela registrar um boletim de ocorrência se munir de todas as provas que ela tiver em mãos referente a suspeita de abuso físico, psicológico e sexual, e pleitear no judiciário a reversão dessa guarda de forma liminar buscando para si a guarda unilateral da criança.

Estagiárias sob supervisão de…..

 

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