Pandemia

Prédios fecham áreas comuns e até limitam número de visitas

A empresa Lello, que administra 3 mil condomínios em São Paulo, afirma que foram criados protocolos seguros para que os prédios possam manter determinadas áreas comuns abertas, desde que os moradores respeitem agendamento e revezament

Após um ano do início da pandemia, o síndico Thiago Gallina, de 42 anos, decidiu pela primeira vez, no mês passado, em conjunto com o conselho administrativo do prédio residencial, fechar todas as áreas comuns do condomínio no bairro Panamby, zona sul de São Paulo. Além do agravamento da crise sanitária, o desrespeito às regras por parte de condôminos influenciou a decisão.
"De acordo com as fases do governo, a gente foi fechando um pouco mais ou flexibilizando ao longo do último ano. No entanto, muitos moradores não aceitam mais o fechamento das áreas", conta o gestor da torre residencial que reúne, em média, 50 apartamentos.
"Agora, na fase emergencial, conversei com o conselho e decidimos fechar todas as áreas do prédio. Há muitos moradores revoltados, justamente pelo fato de ser a primeira vez que estamos fechando tudo. Mas há também quem concorde", acrescenta Gallina. Também foi imposta uma restrição de duas visitas por residência. "O problema são as baladinhas no apartamento. Por isso, há restrição de visitantes", diz.
Gallina conta que um morador tomou uma multa inicial de 30% da taxa condominial por fazer uma festa. Na semana seguinte, outra festa, e a multa foi dobrada. "E não surgiu nenhum efeito. Duas semanas depois ele fez uma rave de sexta-feira a domingo, ininterruptamente, o que gerou uma multa dobrada de 120% da taxa condominial. Tive de bater na porta do morador e pedir que ele tivesse consideração pela situação e que estava insustentável. Os demais moradores estavam pedindo a chamada da polícia. Somente depois disso não tivemos mais problemas", disse o síndico.
Ele afirma que manterá o fechamento das áreas enquanto continuar em vigor no Estado a fase emergencial - está prevista para acabar dia 11, mas é possível renovação. "O problema é que o bom senso não funciona. Tentamos na fase emergencial limitar o uso da academia para um apartamento por vez, mas há pessoas que não pensam no próximo e não respeitam as regras adotadas. Depois de três dias, fechamos tudo", afirma.
Moradora da zona sul paulistana, a administradora de empresas Mônica Kolanian, de 40 anos, também diz que medidas foram tomadas, mas que muitos não se importam. Com áreas comuns de lazer fechadas e as aglomerações proibidas, alguns moradores vinham fazendo reuniões e festas dentro de seus apartamentos. "Há condôminos que desrespeitaram as regras, aumentando a circulação de pessoas pelo prédio e o risco da doença. Por isso, agora está proibido qualquer tipo de reunião que não seja entre moradores do próprio apartamento", afirma Mônica.
"Teve um morador que fez festa na área da piscina e foi multado. Por causa de algumas pessoas que não entendem a situação, o que poderia ficar aberto, com acesso controlado, precisa ficar fechado. Não tem como controlar todo mundo", diz ela.
Há quase 20 anos morando em condomínio, a atriz Flávia Garrafa, de 46 anos, procura manter os cuidados, mas observa o comportamento de vizinhos. "O condomínio é uma amostra do que é a cidade. Várias pessoas que moram no mesmo lugar, mas com pensamentos diferentes", avalia. "Alguns respeitam (regras) e outros, não. Eu sempre usei a academia, mas agora estou malhando no meu apartamento."
Briga pelo app.
No condomínio onde vive Silvia Monteiro, em Pinheiros, zona oeste de São Paulo, o uso de máscara em áreas comuns motivou muitos desentendimentos no grupo de WhatsApp dos moradores. "Há pessoas bem negacionistas, que não aceitavam o uso de máscaras na academia", diz. Só a partir da fase emergencial, segundo ela, que o conselho e o síndico realmente tornaram obrigatório a máscara neste espaço. "O que chama a atenção é que são pessoas esclarecidas, com poder econômico alto, e simplesmente não estão nem aí para a pandemia", critica a economista e dona de casa, de 47 anos.
A empresa Lello, que administra 3 mil condomínios no Estado, afirma que foram criados protocolos seguros para que os prédios possam manter determinadas áreas comuns abertas, desde que os moradores respeitem agendamento e revezamento.
"As administradoras do setor criaram protocolos de biossegurança em parceria com a Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) para orientar prédios", explica Angélica Arbex, gerente de relações com o cliente e marketing da Lello Condomínios. "Claro que há condomínios que decidiram endurecer ações e fecharam novamente as áreas comuns", diz. "Mas o importante é saber que há orientação para os síndicos que dá segurança para que numa fase mais grave sejam adotadas as medidas necessárias e seguras." (Colaborou Luiz Carlos Pavão)
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.