Apesar de a semana começar com a distribuição de mais de 11 milhões de doses de vacinas contra a covid-19 pelo Ministério da Saúde, vários municípios continuam com quantidade insuficiente para a aplicação da segunda dose da CoronaVac. A entrega de 420 mil doses do imunizante produzido pelo Instituto Butantan, na última sexta-feira, fez com que muitas cidades voltassem a fazer a segunda aplicação, mas, devido à falta do imunizante, nem todos os cidadãos foram beneficiados. Ontem, o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, lamentou que a entrega total de vacinas tenha sido “relativizada” diante de um “eventual atraso” da segunda dose.
Queiroga afirmou que o atraso “não foi de responsabilidade do Instituto Butantan, mas sim do retardo de chegada de IFA (matéria-prima para produção de vacina) ao Brasil”. “Não por um problema diplomático, mas por questões administrativas e logísticas da indústria chinesa. Temos excelente relação com o governo chinês”, disse a empresários, durante evento da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), minimizando problemas anteriores provocados pelo então chanceler Ernesto Araújo e pelo deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP).
O Instituto Butantan, porém, reconheceu que esses problemas podem ter afetado a chegada do IFA ao Brasil. “Todos os esforços para a importação dos insumos estão sendo feitos integralmente pelo Butantan e pelo Governo do Estado de São Paulo. E ressaltamos que questões referentes à relação diplomática entre Brasil e China podem, sim, afetar diretamente o cronograma de envio de IFA”, disse o Butantan, em nota enviada ao Correio.
Com o atraso na chegada do último lote de insumos chineses, o Butantan corre para finalizar a entrega de 46 milhões de doses da CoronaVac — referentes ao primeiro contrato firmado com o governo federal —, que deveria ter ocorrido em abril. “Já foram enviadas à pasta federal desde janeiro 42,05 milhões de doses de CoronaVac. (...) Mais 5 milhões começam a ser entregues nesta semana”, explicou o instituto. Com o atraso, o envio de cerca de 3,95 milhões de doses que faltavam do primeiro contrato será feito agora em maio. A primeira entrega deste mês deve ocorrer na quinta-feira, com mais 1 milhão de doses ao Programa Nacional de Imunizações (PNI).
Pfizer
Enquanto muitos brasileiros aguardam a chegada das novas doses da CoronaVac para completar o esquema vacinal, outros começarão a ser imunizados com a da Pfizer/BioNTech, distribuída ontem para as 27 capitais. Diante da necessidade de ampliação da oferta da vacina à população brasileira, o Ministério da Saúde optou por adotar o intervalo de 12 semanas entre as doses da vacina, ao invés de 21 dias, como recomenda a bula do imunizante.
Informe técnico da pasta cita dados de autoridades sanitárias britânicas para recomendar a ampliação do intervalo entre a primeira e a segunda doses. “Esta recomendação considerou que a vacinação do maior número possível de pessoas com a primeira dose traria maiores benefícios do ponto de vista de saúde pública, considerando a necessidade de uma resposta rápida ante a pandemia de covid-19”, argumenta o documento.
Ainda na Fiesp, o ministro da Saúde reafirmou que o país está perto de assinar novo contrato com a Pfizer para a compra de mais 100 milhões de vacinas. “O Brasil terá um total de 200 milhões de doses da Pfizer. Isso equivale a imunizar cerca da metade da população ainda este ano. O contrato prevê para outubro 35 milhões de doses”, afirmou Queiroga
O ministro reiterou a promessa de que toda a população no país será imunizada até o fim do ano, como já havia informado na última semana, em resposta a questionamento do Correio. “Estamos muito entusiasmados com essa perspectiva Isso é absolutamente plausível”, disse.
*Estagiários sob supervisão de Odail Figueiredo
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Gestor pode ser processado
O ministro Ricardo Lewandowski, do Supremo Tribunal Federal, disse que gestores públicos podem responder a ações de improbidade caso atrasem a aplicação da segunda dose das vacinas contra a covid. A manifestação consta de sentença proferida para suspender decisão do Tribunal de Justiça do Rio que validou decreto estadual que alterava a ordem de prioridades do imunizante.
Para Lewandowski, os governadores podem promover alterações e adequações ao Plano Nacional de Vacinação para se adaptarem às realidades locais, mas devem garantir que a medida não prejudique a garantia da aplicação da segunda dose a quem já recebeu a primeira.
“Isso sem prejuízo do escrupuloso respeito ao prazo estabelecido pelos fabricantes das vacinas — e aprovado pela Anvisa — para a aplicação da segunda dose do imunizante naquelas pessoas que já receberam a primeira, sob pena de frustrar-se a legítima confiança daqueles que aguardam a complementação da imunização, em sua maioria idosos e portadores de comorbidades, como também de ficar caracterizada, em tese, a improbidade administrativa dos gestores da saúde pública local, caso sejam desperdiçados os recursos materiais e humanos já investidos na campanha de vacinação inicial”, defendeu Lewandowski.
Menos de mil mortes
Depois de quase dois meses, o Brasil registrou menos de mil mortes por covid-19 no período de um dia. De acordo com o boletim mais recente sobre a enfermidade, divulgado pelo Ministério da Saúde ontem, foram confirmados 983 óbitos pela doença nas últimas 24 horas. A última vez que a estatística havia ficado abaixo de mil foi em 8 de março, quando foram registradas 987 mortes. Com as novas mortes registradas pela pasta, a quantidade de brasileiros vítimas da covid-19 chegou a 408.622. O levantamento da Saúde ainda confirmou 24.619 casos da doença nas últimas 24 horas. Esta é a primeira vez desde 14 de fevereiro que o país tem menos de 25 mil pessoas acometidas com o novo coronavírus — naquela data foram 24.759 novos diagnósticos. No acumulado, o Brasil já teve 14.779.529 pessoas infectadas com a covid-19.