Sem insumo, vacinação fica ameaçada em junho

Novo lote de IFA não tem data para chegar ao Brasil. Produção de vacinas do Butantan corre o risco de ser suspensa e segunda dose tem tudo para atrasar. Remessas finais do atual contrato com o Ministério da Saúde serão concluídas até sexta-feira

Maria Eduarda Cardim
postado em 10/05/2021 22:46

Ainda sem a decisão de data para a chegada do novo lote de Insumo Farmacêutico Ativo (IFA) necessário para produção da CoronaVac no Brasil, o diretor do Instituto Butantan, Dimas Covas, admitiu, ontem, preocupação com as próximas entregas de doses ao Ministério da Saúde e que o cronograma de vacinação poderá sofrer algum impacto a partir de junho. Conforme disse, a instituição terminará de entregar na próxima sexta-feira todas as doses produzidas com o último lote da matéria-prima recebida em abril. A partir daí, para projetar mais entregas, o Butantan precisa receber o novo carregamento de IFA, que nem mesmo o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, sabe quando chegará.

“Isso não depende só das relações diplomáticas. Espero que seja o mais rápido possível, para que consigamos regularizar essa segunda dose”, disse Queiroga, após participar da abertura do seminário de avaliação das pesquisas sobre covid-19 contratadas pelo governo federal.

Dimas Covas reforçou que ainda não há definição da China para a liberação do novo lote. “Para maio, temos a entrega desta semana, 2 milhões entregues hoje (ontem), mais 1 milhão na quarta (amanhã) e 1,1 milhão na sexta. A partir daí, não teremos mais vacinas porque não recebemos o IFA. (A situação) Preocupa muito, sem dúvida nenhuma. O cronograma de vacinação, a partir de junho, poderá sofrer algum impacto”, afirmou Covas, após a entrega de mais 2 milhões de doses ao ministério.

4 mil litros
O diretor do Butantan explicou que há a expectativa de liberação de 4 mil litros do IFA da China, mas que a data de embarque do novo lote ainda não está ajustada. “Esperamos que até quarta-feira nós possamos ter uma notícia positiva”, disse. O atraso na chegada impossibilitou que o Butantan concluísse a entrega dos 46 milhões de doses da CoronaVac, anteriormente prevista para ser finalizada até abril. Essas unidades fazem parte do primeiro contrato firmado entre o instituto e o governo federal.

A conclusão da primeira parte do acordo será feita amanhã, quando o Butantan remete mais 1 milhão de unidades e somará 46,1 milhões de vacinas enviadas ao Programa Nacional de Imunizações (PNI). Um segundo contrato para a compra de mais 54 milhões de doses da CoronaVac também foi assinado pelo Ministério da Saúde.

As unidades estavam previstas para serem entregues até setembro pelo Butantan, e o instituto chegou a anunciar a antecipação da entrega para agosto. Mas, sem previsão de chegada do IFA, Dimas Covas informou que a situação ficou indefinida. “Nós temos a previsão dos 100 milhões até setembro, tínhamos feito um adiantamento dessa previsão para agosto, mas, nesse momento, tudo fica em interrogação”, explicou.

Enquanto isso, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), que também depende de insumos da China para produzir a vacina de Oxford/AstraZeneca, afirma que possui IFA suficiente para fabricar imunizantes até o início de junho. “A Fiocruz aguarda informações da AstraZeneca para confirmar a data de chegada da próxima remessa”, disse, em resposta ao Correio. O último lote da matéria-prima chegou em 24 de abril. A Fiocruz prevê a entrega de 21,5 milhões de doses em maio, mas ainda não há certeza do quantitativo previsto para esta semana.

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Residentes pedem recursos e imunizantes

 (crédito: LUIS TAJES                          )
crédito: LUIS TAJES

O Fórum Nacional de Residentes em Saúde (FNRS) realizou, ontem, um ato em frente ao Ministério da Saúde, em Brasília, para chamar a atenção para a paralisação nacional dos residentes de saúde. Segundo o FNRS, mais de 36 programas de residência do país estão em greve. As principais reivindicações dos estudantes de medicina são o pagamento e o reajuste da bolsa-salário, a vacinação de todos os residentes contra a covid-19 e a redução da carga horária de trabalho. O ato também em protestos contra atuação do presidente Jair Bolsonaro na pandemia.

MP para mais doses

O governo editou, ontem, nova medida provisória para liberar a compra de 150 milhões de doses de vacinas contra a covid-19. Por meio da MP 1.048, a União abriu crédito extraordinário de R$ 5,5 bilhões para o Ministério da Saúde.

De acordo com informações da Secretaria-Geral da Presidência da República, parte desses recursos custeará a produção, fornecimento e distribuição de 50 milhões de doses de vacinas da AstraZeneca. Esses imunizantes deverão produzidos pela Fiocruz no segundo semestre deste ano.

O dinheiro também será destinado à compra de mais de 100 milhões de doses de vacina e despesas associadas à imunização, em complemento à MP 1.015/20 — por meio dessa primeira MP, o governo abriu R$ 20 bilhões também para o enfrentamento da pandemia, dos quais R$ 16,1 bilhões já estão empenhados. “O saldo remanescente, entretanto, é insuficiente para atender as despesas de que trata a Medida Provisória ora editada”, informou a Secretaria-Geral.

Na semana passada, em depoimento à CPI da Covid, o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, já havia informado que a pasta estava em fase de “finalização” do contrato para a compra de 100 milhões de doses da Pfizer — as 100 milhões de doses deste contrato começaram a ser distribuídas neste mês: 499 mil no último dia 3 e 1,1 milhão, ontem.

Enquanto isso, o Brasil registrou, ontem, 889 mortes provocadas pela covid-19 entre o domingo e ontem, conforme boletim divulgado pelo Ministério da Saúde. Isso eleva para 423.229 o total de óbitos causados pela doença no país.

Criança é menor vetor

Um novo estudo da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), da Universidade da Califórnia (UCLA) e da London School of Hygiene and Tropical Medicine apontou que adultos são fontes de transmissão da covid-19 mais comum do que crianças. Feito com 667 participantes, sendo que 323 eram menores de 0 a 13 anos, 54 adolescentes (14 a 19 anos) e 290 adultos, no período de maio a setembro de 2020, a pesquisa indica que as crianças são mais frequentemente infectadas por adultos do que atuam como transmissoras do vírus.

Os dados são de parte do artigo “A dinâmica da infecção de SARS-CoV-2 em crianças e contatos domiciliares em uma comunidade pobre do Rio de Janeiro”, que ainda será publicado na revista científica Official Journal of the American Academy of Pediatrics. Segundo dados do estudo, 45 crianças testaram positivo para o vírus e a infecção foi mais frequente entre aquelas com menos de um ano e na faixa etária de 11 a 13 anos. Todas haviam tido contato com um adulto ou adolescente com sinais recentes de covid-19.

Para os pesquisadores, “as crianças incluídas no estudo não parecem ser a fonte da infecção de Sars-CoV-2 e mais frequentemente adquiriram o vírus de adultos”. Logo, o levantamento sugere que “em cenários como o estudado”, escolas e creches poderiam “potencialmente” reabrir, caso medidas de segurança contra a covid-19 fossem tomadas, e os profissionais que trabalham nestes locais fossem adequadamente imunizados. Os autores alertam, ainda, que os resultados da pesquisa são referentes a um cenário diferente do atual, que possui uma nova variante do novo coronavírus, considerado mais transmissível.

O artigo reforça que, mesmo sendo consideradas vetores menos transmissíveis, as crianças precisam ser incluídas nos ensaios clínicos de vacinação para que possam ser vacinadas em um futuro. “Se os adultos forem imunizados e as crianças não, elas podem continuar a perpetuar a epidemia”, alerta o artigo. (MEC)

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