Quase 15 dias após a inclusão das gestantes sem doenças preexistentes no grupo prioritário da vacinação contra a covid-19, o Ministério da Saúde suspendeu temporariamente a imunização de grávidas e puérperas sem comorbidades. A pasta também interrompeu a aplicação da vacina de Oxford/AstraZeneca nas gestantes com doenças preexistentes. A decisão segue nota técnica da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), expedida na última segunda-feira, que recomenda a suspensão do uso do imunizante em gestantes. Ao menos 17 estados e o Distrito Federal já haviam decidido interromper o uso da vacina.
A suspensão ocorreu após a morte de uma gestante de 35 anos, no Rio de Janeiro. De acordo com a Anvisa, a mulher, que havia tomado a vacina da AstraZeneca, sofreu um acidente vascular cerebral hemorrágico que também resultou em óbito fetal. O caso, porém, ainda está em investigação. Até o momento, não está comprovada a relação entre a aplicação do imunizante e a ocorrência de trombose. O episódio é um dos 11 eventos adversos graves que foram observados em gestantes vacinadas no Brasil. (Veja arte).
A coordenadora do Programa Nacional de Imunizações (PNI), Francieli Fantinato, destacou que a medida foi tomada de forma preventiva pelo Ministério da Saúde. “As evidências estão sendo construídas, e, nessa construção, pode haver alterações. À luz de novos conhecimentos, é importante que a gente se adapte e atualize as orientações. [...] É uma cautela que o Programa Nacional de Imunizações tem até o fechamento do caso”, disse Fantinato.
A bula da vacina contra a covid-19 da Oxford/AstraZeneca não recomenda que gestantes utilizem o imunizante sem orientação médica. No Brasil, ao todo, 22.295 gestantes foram vacinadas contra a covid-19, sendo 15.014 com o imunizante de Oxford. O médico ginecologista e secretário de Atenção Primária à Saúde, Raphael Câmara Parente, explicou que a vacina foi autorizada para uso de gestantes no Brasil avaliando os riscos e benefícios. À época, as autoridades médicas observavam o aumento do número de casos de infecção por covid-19 em grávidas.
“Realmente não havia evidências [sobre a segurança da vacina] nos estudos, e provavelmente demorará a ter. Mas o que a gente nota é um aumento muito grande dos casos de óbito e internação de grávidas. [...] Naquele cenário epidemiológico do Brasil, a decisão foi tomada por uma avaliação do risco e benefício, que favorecia a vacinação de grávidas.”, comentou.
O secretário ressaltou que a decisão do ministério de suspender o uso do imunizante da AstraZeneca em gestantes tem intuito de prevenir a ocorrência de novos óbitos. “É muito difícil a tomada de decisão do que fazer nesse caso quando aparece um caso de óbito. Então, claramente o PNI e o Ministério da Saúde estão agindo por cautela, e assim deve ser feito quando a gente está no estado inicial de estudo, que é uma doença nova. Então, a gente está agindo com cautela, até se montar melhor as evidências e ser possível tomar essa decisão de uma forma mais sedimentada”, completou Raphael Parente.
Segunda dose
A vacinação de grávidas e puérperas com comorbidades foi mantida pelo Ministério da Saúde, mas só deve ser feita com doses da vacina CoronaVac, produzida pelo Instituto Butantan no Brasil, e da Comirnaty, imunizante da Pfizer/BioNTech. “O perfil de risco-benefício da vacinação neste grupo é altamente favorável”, justificou Fantinato. Já em relação às gestantes que tomaram a primeira dose da vacina da AstraZeneca, a recomendação é de que se suspenda a segunda dose até novas informações do Ministério da Saúde.
Essas novas orientações serão detalhadas nos próximos dias, em uma nota técnica que será emitida pelo Ministério da Saúde. “Até o final da semana, a gente vai estar emitindo a nota técnica com os encaminhamentos para poder orientar a nossa população”, prometeu a coordenadora do PNI.
Riscos baixos
Às gestantes que já tomaram a primeira dose da vacina da AstraZeneca, a ginecologista obstetra Júlia Alencar recomenda que mantenham a calma. Segundo ela, os efeitos adversos são mínimos quando comparados com os riscos da covid-19. “A gravidez, por si só, aumenta o risco de trombose. O período mais crítico são os 45 primeiros dias após o parto. O risco de um evento trombótico nesse ciclo gravídico-puerperal é cinco a seis vezes maior do que em mulheres não grávidas. Milhões de gestantes foram imunizadas no mundo e pouquíssimas tiveram complicações graves. A taxa de trombose relacionada à vacina em questão é muito baixa, estimada em 0,0004%”, afirma.
Alencar ainda destaca que as gestantes fazem parte do grupo de risco. Por isso, mesmo aquelas que já se vacinaram devem manter com os cuidados recomendados. Segundo ela, uma gestante que contrair covid está exposta a diversos perigos, tais como risco maior de internação hospitalar; risco de internação em UTIs; prematuridade; restrição de crescimento fetal; pré-eclâmpsia. “É importante que as gestantes estejam mais atentas às recomendações de usar máscaras, lavar as mãos, evitar aglomerações e que se possível se vacinem”, comentou a ginecologista.
* Estagiária sob a supervisão de Carlos Alexandre de Souza
Remanejamento de doses no DF
Com a vacinação suspensa para grávidas, a Secretaria de Saúde do Distrito Federal informou que fará o remanejamento de doses da Pfizer e da CoronaVac, de modo a assegurar a imunização dessas pacientes nos próximos dias. Segundo informou a pasta, as gestantes e puérperas com comorbidades que estavam agendadas para ontem e hoje não sofrerão prejuízos. A Secretaria de Saúde do DF prometeu ampla divulgação das datas e dos pontos de vacinação destinados para esse público específico.
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Mais 100 milhões da Pfizer
O ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, disse que assinou o novo contrato com a Pfizer para a compra de mais 100 milhões de doses da vacina Comirnaty, desenvolvida pela farmacêutica. Ele comunicou o acordo durante a audiência pública da Comissão do Esporte, da Câmara dos Deputados. O ministro também anunciou que vacinará contra a covid-19 atletas e outros credenciados para os Jogos Olímpicos e Paraolímpicos de Tóquio 2021.
“Ontem (segunda-feira), assinamos com a Pfizer, e eu tenho satisfação de informar a comissão que contratamos mais 100 milhões de doses da vacina da Pfizer”, disse, enquanto respondia os questionamentos dos deputados. Com o novo acordo, a pasta contratou, ao todo, 200 milhões de doses da vacina da Pfizer/BioNTech. Os 100 milhões de doses estão previstos para chegar ao Brasil ainda neste ano. Segundo Queiroga, 30 milhões de doses viriam em setembro, e os 70 milhões restantes, até dezembro.
“Creio que com esse reforço dessas 100 milhões de doses, tem uma expectativa real de que a população brasileira vacinável esteja vacinada até o final do ano”, disse o ministro. As primeiras 100 milhões de doses contratadas pela pasta em março começaram a ser entregues ao Brasil. A farmacêutica enviou 1 milhão de unidades em abril e 628 mil doses em maio, mês que deve receber no total 2,5 milhão de vacinas.
Em junho, mais 12 milhões de doses serão enviadas ao país, segundo a previsão da pasta. Os 84,4 milhões de vacinas restantes do primeiro contrato com a pasta estão previstos para chegarem ao Brasil no terceiro trimestre, ou seja, em julho, agosto e setembro.
Imunização de atletas
O Programa Nacional de Imunização (PNI) vai atender 1.814 pessoas, entre atletas, membros da comissão técnica, árbitros, jornalistas, que irão participar dos Jogos Olímpicos de Tóquio. O lote de imunizantes foi doado pelo Comitê Olímpico Internacional (COI). Ao todo, 4.050 doses da vacina Comirnaty, produzida pela Pfizer/BioNTech, e 8 mil doses da CoronaVac, desenvolvida pela chinesa Sinovac, foram reservadas para ste fim.
No entanto, o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, afirmou que, por “questão estratégica”, a pasta só vai utilizar a vacina da Pfizer para imunizar os atletas e o restante dos credenciados. “É uma vacina que já está aprovada em todos os países, e não vai haver qualquer tipo de óbice para os nossos atletas. Além disso, a vacina tem um intervalo curto entre a primeira e segunda dose, de tal sorte que vai promover a imunização dos atletas, e eles poderão representar o Brasil nas Olimpíadas de Tóquio, no Japão”, justificou o ministro.
As doses que não forem utilizadas para a vacinação dos atletas e credenciados serão incorporadas ao PNI para atender os grupos prioritários. (MEC)
Média móvel cai após dois meses
Com o registro de 2.311 mortes provocadas pela covid-19 nas últimas 24 horas, segundo boletim divulgado ontem pelo Ministério da Saúde, o número de mortos no país pela doença subiu para 425.540. O total de infectados desde o início da pandemia chegou a 15.282.705. São Paulo concentra o maior número de óbitos, 101.660, acumulando 3.022.568 de casos. Em seguida, vêm Minas Gerais, com 36.122 vidas perdidas e 1.423.717 de diagnósticos positivos; e Rio Grande do Sul, com 26.176 fatalidades e 1.013.486 de registros do novo coronavírus. O Distrito Federal registrou 8.184 mortes e 388.286 pessoas positivas para o vírus até ontem. Pela primeira vez em dois meses, a média móvel de óbitos, que contabiliza o número de mortes da última semana, ficou abaixo de 2 mil. Ontem, esse índice ficou em 1.993 óbitos. Há uma semana, a média era de 2.367 mortes. A média móvel de casos está em 60.831. Até o momento, de acordo com a pasta da Saúde, foram aplicadas 47.853. 318 doses de vacinas contra o vírus.