Saúde

Queiroga aposta na testagem para barrar avanço da cepa indiana

Interrupção da queda da média móvel de mortes e o temor do surgimento de uma terceira onda de casos de covid-19 levam o Ministério da Saúde a enviar 3 milhões de testes rápidos às unidades da Federação, 600 mil só no Maranhão

Augusto Fernandes
postado em 23/05/2021 06:00 / atualizado em 23/05/2021 16:52
 (crédito: Nhac Nguyen/AFP)
(crédito: Nhac Nguyen/AFP)

A confirmação de casos de covid-19 no Brasil com a variante indiana e uma nova alta da média móvel de mortes pela enfermidade acenderam um sinal de alerta para o Ministério da Saúde, que vai intensificar a testagem para tentar conter a explosão de uma terceira onda da pandemia. Ontem, a pasta confirmou 1.899 novas mortes pela doença, elevando o total para 448.208. Além disso, houve o registro de mais 76.490 casos. No acumulado, o Brasil já teve 16.047.439 pessoas infectadas com a covid-19.

Nesta semana, a pasta deve enviar 3 milhões de testes rápidos para os estados, sendo 600 mil apenas para o Maranhão, onde foram confirmados os primeiros casos de pessoas infectadas no país com a cepa B.1.617, na última quinta-feira. Os testes serão aplicados em locais com grande circulação e que registrem entrada e saída de pessoas, como aeroportos, rodoviárias, portos e rodovias.

De acordo com o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, é preciso agir imediatamente para impedir a transmissão comunitária da variante originária da Índia. Segundo ele, pessoas sintomáticas e assintomáticas serão submetidas ao procedimento. Qualquer viajante que apresentar o diagnóstico positivo para covid-19 fará mais um teste para identificar se está contaminado com a cepa indiana. A partir daí, o paciente será aconselhado a cumprir quarentena e todos que tiveram contato com o infectado serão rastreados.

"Esses testes servem para a gente acompanhar a evolução dos casos. Porque quando aumentam os casos positivos, o que vai acontecer na frente? Internações. E depois? Óbitos. Então, precisamos reforçar essa vigilância em saúde para ter resultados mais efetivos. Vamos trabalhar forte para tentar de toda maneira fazer com que haja a queda dos casos e tenhamos uma solução para essa pandemia", afirmou o ministro.

Os outros 2,4 milhões de testes rápidos que serão disponibilizados para os demais estados devem ser utilizados prioritariamente nas regiões de fronteiras com outros países da América do Sul e nos aeroportos de maior movimentação do Brasil.

"A vigilância em saúde do ministério tem trabalhado fortemente. Queremos impedir que haja a propagação dessa variante, que ainda não tem comprovada a transmissão comunitária. Estamos buscando tudo isso para avaliar esses casos e buscar conter a possível transmissão comunitária desse vírus", destacou Queiroga.

Além disso, o governo vai impor barreiras sanitárias para impedir que mais cepas da doença cheguem ao território nacional. A princípio, isso será feito em São Paulo. Após reunião na tarde de ontem com integrantes da Agência de Vigilância Sanitária (Anvisa) e representantes do governo da capital paulista, Queiroga definiu que haverá um esquema para monitorar passageiros provenientes do Maranhão, com a aplicação de exames nas principais rodovias de acesso à cidade, como Fernão Dias e Dutra, e na Rodoviária do Tietê. De qualquer forma, o ministro garantiu que essas medidas devem ser aplicadas em outras partes do país.

Prevenção
Devido aos riscos que o país corre com a chegada de uma forma mais agressiva da covid-19, o ministro frisou que é importante o respeito às medidas de proteção pessoal, como o uso de máscaras faciais e higienização das mãos, e de distanciamento físico.

"Essas recomendações são para todos, independentemente de variante indiana ou não. Quem tem suspeita de síndromes gripais deve evitar se deslocar de um estado para o outro e procurar as autoridades sanitárias. Todos devemos nos irmanar para procurar conter a circulação do vírus, seja a variante indiana, a de Manaus, a do Reino Unido", destacou Queiroga.

Ele frisou que "enfrentar uma pandemia é muito complexo”. "Preciso trabalhar aqui de maneira harmônica, determinada, para que consigamos vencer essa situação. Contamos com a colaboração de todos. Das autoridades sanitárias, mas, sobretudo, de cada um dos brasileiros", reforçou.

Queiroga alertou que manter o relaxamento das medidas de isolamento social é perigoso e pode contribuir para que o Brasil tenha mais mortes por covid-19 e casos da doença. "O Ministério da Saúde tem se empenhado na busca de insumos estratégicos, porque nós podemos ter eventualmente aumento de casos, seja por uma maior abertura das cidades. Tivemos muitas cidades que fecharam e agora estão abrindo. É fundamental que, abrindo, essas cidades reforcem a necessidade das medidas não farmacológicas."

O ministro agradeceu à imprensa pela divulgação das ações da pasta e disse que os jornais contribuem para o enfrentamento à pandemia. "Nós estamos trabalhando fortemente para ampliar as possibilidades do Brasil superar essa pandemia, e tenho certeza que vocês da imprensa têm nos ajudado muito, levando boas informações para a sociedade. Há muitas fake news e a melhor maneira de reduzir isso é o Ministério da Saúde levar a vocês o que fazemos aqui todos os dias."

“Esses testes servem para a gente acompanhar a evolução dos casos. Porque quando aumentam os casos positivos, o que vai acontecer na frente? Internações. E depois? Óbitos"

Marcelo Queiroga, ministro da Saúde


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Secretária pede demissão após 10 dias

 (crédito: Tony Winston/MS - 12/5/21)
crédito: Tony Winston/MS - 12/5/21

Escolhida no último dia 12 pelo ministro Marcelo Queiroga para chefiar a secretaria extraordinária de enfrentamento à covid-19 do Ministério da Saúde, a médica infectologista Luana Araújo pediu exoneração do cargo ontem. Os motivos que contribuíram para a saída da médica não foram detalhados pela pasta, que disse apenas estar em busca por outro nome "com perfil profissional técnico e baseado em evidências científicas" para comandar a secretaria.

Queiroga também não comentou sobre quais razões levaram Luana a desistir de integrar o governo. "A doutora Luana Araújo é uma pessoa muito qualificada, com um currículo excelente. Nós havíamos convidado ela para o cargo, não houve nomeação, e agora procuramos uma pessoa com perfil semelhante para que ocupe essa posição. Desejamos que a doutora Luana continue seguindo sua carreira de sucesso e temos certeza que ela fará isso com brilhantismo", comentou o ministro.

Ele garantiu que não houve qualquer tipo de pressão do Palácio do Planalto à médica. Luana discorda da utilização da cloroquina e da ivermectina como tratamento à covid-19. Os remédios não têm comprovação científica de que são eficazes contra a doença, mas são defendidos pelo Executivo, sobretudo pelo presidente Jair Bolsonaro.

A infectologista já havia afirmado que "não existe evidência de eficácia no uso de qualquer medicação no tratamento precoce da covid-19". "O que funciona na covid-19 é um diagnóstico e uma monitorização precoce. Infelizmente, não temos tratamento", afirmou.

Após a confirmação da sua saída, Luana publicou uma mensagem nas redes sociais. Ela disse que deixa a experiência "pela porta da frente" e "com a consciência e o coração tranquilos, ciente de que neste curto período entreguei o melhor da minha capacidade de acordo com os princípios que tenho como profissional especialista na área: ética, cientificidade, agilidade, eficiência, empatia e assistência".

"Agradeço ao ministro Marcelo Queiroga pela oportunidade, confiança e exemplarismo. Desejo, acima de tudo, como colega e como brasileira, toda sorte a ele e a sua equipe no prosseguimento no combate à pandemia", escreveu a médica.

Insumos para vacinas
A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) recebeu ontem à tarde uma nova remessa de Ingrediente Farmacêutico Ativo (IFA) para a produção da vacina de Oxford/AstraZeneca, vinda da China. O voo com o insumo chegou ao Rio de Janeiro às 17h54. Com o recebimento da IFA, a Fiocruz retoma os trabalhos de produção no Instituto de Tecnologia de Imunobiológicos, interrompidos desde quinta-feira por falta de matéria-prima. O carregamento é suficiente para a produção de 12 milhões de doses. Com isso, está assegurada a produção de vacinas até a terceira semana de junho e entregas ininterruptas até 3 de julho Ao todo, a Fiocruz já entregou ao Programa Nacional de Imunização (PNI) 41,1 milhões de doses.


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