Pandemia

Especialistas analisam impacto da variante indiana em uma possível 3ª onda

Virologistas ressaltam que a nova cepa é possivelmente mais transmissível, mas ainda se pode afirmar que é mais letal. O perigo, alertam, é a chegada de uma variante do patógeno em um cenário com alto número de casos de covid

Gabriela Bernardes*
João Vitor Tavarez*
postado em 24/05/2021 21:14 / atualizado em 24/05/2021 21:14
 (crédito: Fusion Medical Animation/Unsplash)
(crédito: Fusion Medical Animation/Unsplash)

Muito perto de chegar oficialmente a 450 mil mortos por covid-19, o Brasil corre o risco de enfrentar uma terceira onda da pandemia, em razão de outra variante do novo coronavírus. A B.1.617.2, nova cepa do coronavírus, chegou ao Brasil de navio. Tem origem na Índia, país com maior predominância do novo tipo viral denominado. A chegada do novo patógeno, somada à vacinação lenta no país, pode levar o Brasil a atravessar outro momento crítico da pandemia, com possível aumento de mortes e casos da covid-19 e a sobrecarga do Sistema Único de Saúde.

Na última quinta-feira (20), o governo do Maranhão confirmou a primeira infecção pela nova variante da covid no país, até então inédita. A vítima é um indiano de 54 anos, tripulante do navio Shandong da Zhi, vindo da África do Sul.

A B.1.617 é quarto cepa do coronavírus a receber o sinal de “Variante da preocupação” pela Organização Mundial da Saúde (OMS). As outras que receberam o mesmo alerta foram: P1 (predominante em Manaus), B.1.1.7 (Reino Unido), B.1.351 (África do Sul).

O boletim Infogripe da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), publicado na última sexta-feira (21/5), alerta que oito capitais brasileiras apresentam sinal de crescimento da pandemia no curto prazo. São eles: Amazonas, Maranhão, Mato Grosso do Sul, Paraíba, Paraná, Tocantins, Distrito Federal e Rio de Janeiro.

Novo patamar

O doutor em Saúde Coletiva e membro da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (ABRASCO), Dário Frederico Pasche, explica que o termo mais adequado para os índices de infecções no país é ‘degraus’. “O que temos, no momento, é possibilidade de um terceiro degrau. Se olharmos para este novo patamar, dá para observar que nunca voltamos à situação inicial de índices. Ocorre, na verdade, um agravamento [subida de degraus] do número de casos e óbitos pela doença”, pontua.

Bergamann Ribeiro, virologista e professor do Instituto de Biologia da Universidade de Brasília (UnB), diz ser natural que todo vírus sofra mutações. “Quanto mais pessoas infectadas, a tendência é que novas variantes apareçam. A maioria dessas mutações não favorecem os vírus, pois quando invade a célula hospedeira não consegue reproduzir o código genético corretamente. No entanto, outras mutações beneficiam, pois ele consegue mudar a conformação de suas proteínas e entrar com mais facilidade na célula hospedeira e ou até mesmo se multiplicar mais rápido”, explica.

O virologista aponta que até o momento, o que se descobriu é a possibilidade de o vírus ser mais transmissível, e não mais letal, dada às capacidades dele lutar pela sobrevivência e adaptação no corpo do hospedeiro. “É difícil dizer que o vírus é mais letal ou não, pois é necessário um número expressivo de dados e estudos para validar essa hipótese”, comenta.

Bergmann também explica que a vacina ajuda a barrar a interação do coronavírus no organismo, mas que a demora na imunização favorece a replicação do agente, inclusive de novas cepas. “No entanto, sem vacina, mais pessoas estarão expostas à infecção pelo vírus, inclusive às novas variantes. Mesmo com primeira dose, ocorre uma pressão de seleção para que o coronavírus consiga mudar ainda mais”, destaca.

* Estagiários sob a supervisão de Carlos Alexandre de Souza 

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