CORONAVÍRUS

Covid-19: soro antiviral do Butantan será testado em humanos

Anvisa dá sinal verde para que testes com substância desenvolvida pelo Butantan avancem. Três mil frascos do fármaco estão prontos para aplicação, que servirá para evitar que um infectado com o novo coronavírus evolua para o quadro grave da doença

Gabriela Chabalgoity*
postado em 26/05/2021 06:00
 (crédito: Nelson Almeida/AFP - 14/1/21)
(crédito: Nelson Almeida/AFP - 14/1/21)

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) autorizou, ontem, o início dos testes do soro covid-19 quer vem sendo desenvolvido pelo Instituto Butantan. Dessa forma, a instituição de pesquisa poderá começar a aplicação do fármaco em pessoas que se voluntariem. Em 24 de março, o órgão regulador aprovou a realização do estudo, mas condicionado à assinatura de um termo de compromisso que previa a entrega de informações complementares, que ainda não estavam disponíveis naquele momento.

O soro é um concentrado de anticorpos contra o novo coronavírus e pode ser aplicado assim que o paciente apresentar manifestações clínicas da doença. Segundo o Butantan, três mil frascos estão prontos para serem testados em humanos e a previsão é de que comecem a ser aplicados nas próximas semanas.

Entretanto, o fármaco não serve para a prevenção da covid-19. Segundo o Butantan, o objetivo do soro é, sobretudo, para evitar que o infectado desenvolva um quadro grave da doença. Em março, o Butantan tinha informado que o estudo clínico incluiria pacientes transplantados do Hospital do Rim e Hipertensão e pessoas com comorbidades do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, ambos em São Paulo.

O extrato foi obtido depois de feito o isolamento do novo coronavírus em materiais coletados de um paciente brasileiro. O micro-organismo foi cultivado em laboratório e submetido a um bombardeio de substâncias radiativas para ser inativado. Foi injetado em camundongos, para assegurar que não traria riscos, e depois aplicado em cavalos para a produção de anticorpos. O plasma (parte do sangue que contém fatores de coagulação, anticorpos e proteínas) foi coletado e processado pelo Butantan, dando origem ao soro.

Desenvolvido no país

Segundo a Anvisa, “a avaliação da proposta de pesquisa foi feita integralmente pela agência, sem a participação de outras agências estrangeiras, já que as fases iniciais de testes clínicos do soro serão feitas apenas no Brasil. Como esta é a primeira vez que o soro do Butantan será testado em pessoas, isso exigiu da Agência uma avaliação criteriosa dos aspectos técnicos e de segurança do produto. Até o momento, o soro foi testado somente em animais”, salientou a autarquia, na nota que anunciou a aprovação do começo dos testes.

Segundo o infectologista da Sociedade de Infectologia do Distrito Federal, Jose David Urbaez, o soro ser utilizado em voluntários com manifestações leves da covid-19. “É usado para prevenir que a doença evolua para apresentações mais graves. Uma vantagem do soro de cavalo é que pode ser produzido em larga escala e por um baixo custo, quando comparado ao anticorpo monoclonal, por exemplo”, observou.

O infectologista do Hospital de Brasília, André Bon, chama a atenção para o fato de que “obter anticorpos do corpo do ser humano para ser transferido para o corpo de outro ser humano é bem mais complexo e não é capaz de ser feito em larga escala”.

 


* Estagiários sob a supervisão de Fabio Grecchi 

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Importação da Covaxin

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) recebeu, ontem, um novo pedido de importação da vacina Covaxin contra a covid-19, fabricada pelo laboratório indiano Bharat Biotech. O pedido de importação de 20 milhões de doses do imunizante foi protocolado pelo Ministério da Saúde, na segunda tentativa para obter aval para importar o imunizante — a solicitação anterior, feita em 31 de março, já havia sido negada pela agência. O fármaco será destinado a uso emergencial.

A Anvisa negou a certificação de boas práticas à Bharat Biotech, um dos principais requisitos para que a uma vacina possa ser aplicada no Brasil. Segundo a agência reguladora, os problemas detectados no laboratório vão desde questões sanitárias, que passam pelo controle de qualidade e alcançam a segurança na fabricação do imunizante.

A negativa da Anvisa afeta o cronograma de vacinação previsto pelo ministério, que, em fevereiro, assinou um acordo para compra de 20 milhões de doses da Covaxin. Segundo a agência, mesmo com a não liberação a pasta e a Precisa Medicamentos, que negocia a chegada do fármaco ao país, “seguiram em tratativas com a agência a fim de adequar os aspectos que motivaram o indeferimento”. A empresa de biotecnologia também protocolou um novo pedido de certificação de boas práticas, referente à linha de produção do produto acabado — que está sendo analisado pela Anvisa.

Ao mesmo tempo, o Instituto Butantan recebe, ontem, 3 mil litros de IFA (Ingrediente Farmacêutico Ativo) vindos da China para retomar a fabricação da CoronaVac, que estava interrompida desde 13 de maio por falta do insumo básico — a entrega da matéria-prima foi antecipada em um dia. No sábado passado, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) recebeu mais uma remessa de IFA e a linha de produção, dessa forma, foi reiniciada ontem.

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