Investimento

Cooperativas financeiras avançam no país e fortalecem crédito agrícola

Entrevistado do CB.Agro desta sexta-feira (28/5), o presidente do Sicredi, Pedro Caldas, comenta o crescimento dessas instituições financeiras e seu papel no agronegócio

Pedro Ícaro*
postado em 28/05/2021 20:14 / atualizado em 28/05/2021 20:26
 (crédito: Minervino Júnior)
(crédito: Minervino Júnior)

Apesar dos avanços tecnológicos no sistema bancário nacional, muitos municípios brasileiros ainda passam por uma dificuldade, para muitos, inimaginável. Esses locais não têm nenhuma instituição financeira na região. Por outro lado, as agências bancárias que atuam na localidade estão sendo fechadas. Esse quadro prejudica a economia local.

Nessas situações, as cooperativas suprem as demandas financeiras das localidades. “A gente pega o exemplo do estado do Mato Grosso. A participação das cooperativas de crédito na economia local é muito impressionante, então fazemos essas trocas de boas práticas”, disse Pedro Caldas, presidente do Sistema de Crédito Cooperativo (Sicredi) Planalto Central, em entrevista ao CB.Agro nesta sexta-feira (28/5). O programa é uma realização do Correio Braziliense e da TV Brasília.

O Sicredi é uma das instituições financeiras com maior representatividade no agronegócio e ocupa o segundo lugar na liberação de crédito rural no ciclo de Plano Safra 2019/2020, com mais de R$ 20 bilhões concedidos. Pedro Caldas ressalta que cerca de 500 municípios brasileiros contam apenas com os serviços de cooperativas financeiras.

Como as cooperativas ajudam a economia?

As cooperativas vêm exercendo um papel fundamental de organização econômica em um princípio muito simples, que é unir pessoas. Nós unimos pessoas com um propósito. Por meio dessa união, a gente busca melhores soluções. Existe um ditado que as cooperativas são filhas da crise e mães da solução, então a gente acredita muito, e os números vem comprovando isso. No nosso caso, seja no crédito, seja no agro, a gente pode estar trazendo informações como dados da Fipe, que comprova o quanto de diferença uma cooperativa de crédito faz em uma comunidade. Ao longo dos últimos anos, tendo a participação na carteira de crédito rural do Brasil de maneira extremamente expressiva, com taxas muito fortes de crescimento ano após ano.

Qual é a participação das cooperativas no sistema financeiro?

Está de 8 a 10% dependendo da região, dependendo do ramo em que ela está atuando. Tem algumas cidades que a nossa cooperativa, que é uma das 108 cooperativas compostas do sistema Sicredi, que 70% dos depósitos já estão na nossa gestão.

Quais são as vantagens da cooperativa? 

São diversas vantagens, o relacionamento é um dos principais diferenciais. A instituição financeira cooperativa não tem o objetivo de lucro, a gente não tem essa terminologia. São resultados, os resultados são muito importantes para o fortalecimento do patrimônio. Mas, a questão do lucro não existe na nossa relação. Então geramos o resultado e o cooperado conforme a sua movimentação. Ele tem uma participação ao final de cada exercício, então a gente instrui nossos colaboradores para que deem a correta orientação financeira com os produtos que nós temos.

Os bancos registram lucros extraordinários. As cooperativas também estão lucrando. Isso está revertendo em benefício para seus clientes, que são os associados?

Vou dar um exemplo. A nossa cooperativa tem 18 comunidades sendo atendidas, durante o ano de 2020 tivemos R$ 28 milhões de resultado, então esse resultado vai sendo destinado para o fortalecimento do patrimônio da cooperativa. Também pagamos juros sobre o capital social, que, no nosso caso, é 20 reais a entrada mínima. Por isso a gente facilita a entrada e depois a gente faz a distribuição proporcional. Sempre devolvemos um resultado bem considerável para aquelas pessoas que confiaram os depósitos na cooperativa, seja na poupança, seja depósito à vista ou depósito a prazo. Nosso propósito para 2030 é que juntos vamos construir uma sociedade mais próspera. Finalizamos o nosso texto dizendo ‘aqui o seu dinheiro rende melhor’ porque os benefícios para a comunidade são outros também.

Quanto vocês distribuíram em 2020?

Nós tivemos R$ 28 milhões de resultados, pagamos R$ 3 milhões de juros ao capital e ainda tivemos R$ 5 milhões à disposição da assembleia.

Tem cidades que os bancos não querem ir de jeito nenhum, e as cooperativas estão ocupando esses espaços. Como é esse processo de interiorização das cooperativas e qual impacto econômico nessas cidades?

No Brasil, em torno de mais de 500 municípios têm somente instituição financeira cooperativa instalada. Vou dar um exemplo próximo de nós. Uma cidade turística, Mambaí, é uma cidade que não tinha nenhuma instituição financeira. Nós temos o Sicredi lá e virou até um pequeno polo para os municípios ao redor onde as pessoas estão fazendo sua movimentação. A economia da cidade está se desenvolvendo de uma forma completamente diferente, é muito impactante a gente vê a comunidade reconhecendo essa instituição fisicamente presente com colaboradores que estão ali para orientar e a dinâmica da economia se transforma.

Para o crédito agrícola, o que está puxando mais: grãos ou pecuária de corte? Ou está dividido em outras atividades, como fruticultura ou silvicultura?

O agronegócio brasileiro é de uma força gigantesca. Não é à toa que o estado do Mato Grosso do Sul, a maior planta do mundo está instalada lá. Nós temos um vínculo muito forte com todas as atividades. Fomos a entidade que mais recurso de Pronaf liberou durante o ano de 2020. No caso do BNDES, somos a entidade com maior número de contratos agro dentro do banco. Tanto para o pequeno, quanto para o médio e para aquelas operações mais estruturadas, a gente está em condição de atender e vem tendo uma participação em todos esses ramos seja de grãos, seja de pecuária.

O desembolso inicial por meio de crédito agrícola foi de R$ 7 bilhões. Qual a meta para este ano?

A carteira total foi de R$ 30 bilhões.

É possível que esse ano vocês superem isso?

Com certeza. A taxa de crescimento é de no mínimo 20% por ano. Nossa estratégia interna é nos prepararmos para essas demandas. Quando a gente tem todo esse relacionamento com o cooperado, esse histórico, conhecendo-o, tendo um bom acesso ao mercado e trazendo os depósitos da comunidade, essa engrenagem se fecha muito bem para que possa atender adequadamente às demandas. Nós temos cooperados que têm a cooperativa de crédito como única instituição financeira.

* Estagiário sob a supervisão de Carlos Alexandre de Souza 

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