Economia

Economia brasileira contornou segunda onda da pandemia, segundo projeções

O Instituto Brasileiro de Economia (Ibre), da Fundação Getúlio Vargas, prevê um crescimento de 1,6% em relação ao trimestre anterior. Em março, a previsão era de uma retração de 0,5%

A economia brasileira resistiu à segunda onda de coronavírus no primeiro trimestre ignorando medidas de distanciamento social, apesar da lentidão da vacinação, consideram analistas.

Enquanto se aguardam os dados oficiais, que serão divulgados na terça-feira, os economistas ouvidos pelo jornal Valor Econômico projetam um aumento médio de 0,7% do Produto Interno Bruto (PIB) em relação ao trimestre anterior e de 0,5% em relação ao mesmo período de 2020.

O Instituto Brasileiro de Economia (Ibre), da Fundação Getúlio Vargas, prevê um crescimento de 1,6% em relação ao trimestre anterior. Em março, a previsão era de uma retração de 0,5%.

"A surpresa quanto ao desempenho da atividade neste início de ano reflete o fato de o processo de reabertura e o aumento da mobilidade terem sido bem mais rápidos que o previsto", afirma.

A segunda onda do vírus foi, no entanto, muito mais letal do que a primeira: de janeiro a abril, o número de mortos pela covid saltou de 200.000 para 400.000.

Os epidemiologistas atribuem o novo aumento de casos a essa rápida reabertura da economia e temem uma terceira onda iminente. E os economistas descartam uma normalização real sem vacinação em massa.

"A questão hoje do PIB está intrinsecamente relacionada ao ritmo de vacinação", destaca Fernando Bergallo, da FB Capital.

Mas a campanha de vacinação é frequentemente atrasada devido à falta de suprimentos. Menos de 11% da população recebeu a dose dupla do imunizante até agora.

"O aumento nos casos da covid-19 reforça o cenário de uma recuperação (econômica) com interrupções", afirma a consultoria Eurasia Group.

Paula Magalhães, economista-chefe da A.C. Pastore, acredita que o bom desempenho do PIB no primeiro trimestre também se deveu a um "aprendizado das pessoas do que pode funcionar e o que não" em um período de pandemia.

Mas admite que "conforme a vacinação está lenta, não está conseguindo conter essas ondas, a gente vai ter um cenário de abre-fecha".

"O que vai acontecer agora que vai ter uma terceira onda? (...) será que vamos conseguir fechar de novo, será que a população vai aceitar, qual será o efeito disso na economia? Será que a economia anda acima das mortes ou será que fecha e consegue conter? Essa é a preocupação que a gente tem", questiona.

Apesar de tantas incertezas, os economistas estão revisando para cima suas projeções para 2021, após a retração de 4,1% do PIB em 2020.

Desde meados de abril, o mercado aumentou sua projeção de 3,04% para 3,96%, de acordo com Boletim Focus do Banco Central.

Contabilidade da morte

Um confinamento relativamente estrito, como a da primeira onda em vários estados, parece fora de questão. O presidente Jair Bolsonaro se opõe fortemente a ele e ameaça garantir por decreto "o direito de ir e vir".

"Não adianta fugir disso, fugir da realidade. Tem que deixar de ser um país de maricas. Olha que prato cheio para a imprensa. Prato cheio para a urubuzada que está ali atrás. Temos que enfrentar de peito aberto, lutar. Que geração é essa nossa?", disse o presidente em novembro.

Em pouco mais de um ano, o Brasil se tornou o segundo país com mais mortes por covid (mais de 460 mil) e o número de desempregados aumentou quase dois milhões, atingindo o recorde de 14,8 milhões.

O motor do agronegócio

O primeiro trimestre foi puxado pelo setor agroexportador, impulsionado pela produção recorde de grãos e pela alta nos preços internacionais.

Segundo o Valor, a agropecuária cresceu 4,2% em relação ao período anterior, enquanto a indústria e os serviços cresceram 0,5%.

O consumo das famílias cresceu apenas 0,4%, depois do fim do auxílio emergencial, que permitiu a sobrevivência de quase um terço dos 212 milhões de brasileiros no ano passado.

Um valor menor, para menos pessoas, foi liberado em abril, com duração inicial de quatro meses.