Covid-19: primeiro caso fatal da cepa indiana em investigação no RN

Homem de 29 anos fez viagem ao Maranhão, onde se registraram os primeiros casos da mutação, trazida por navio que chegou ao estado em maio. Óbito foi no Rio Grande do Norte e secretaria não esclarece se infectado era um dos dois suspeitos ou se trata de um terceiro

» Fabio Grecchi » Gabriela Bernardes*
postado em 03/06/2021 06:00
 (crédito: Michel Dantas/AFP)
(crédito: Michel Dantas/AFP)

A Secretária de Estado de Saúde Pública do Rio Grande do Norte confirmou a morte de um paciente com suspeita de ter contraído a variante indiana da covid-19. O óbito ocorreu na última segunda-feira, mas só foi divulgado ontem. A vítima, um homem de 29 anos, tinha ido recentemente ao Maranhão, onde foram registrados os primeiros casos da variante indiana, trazida pela tripulação do navio MV Shandong da Zhi — que chegou à Baía de São Marcos em 14 de maio, de uma viagem que começou na Malásia.


“Com RT-PCR confirmado para a covid-19, o paciente foi hospitalizado e encontrava-se internado em isolamento em terapia intensiva, instável e com suporte ventilatório, recebendo toda assistência que o caso requer. Porém, foi a óbito na segunda-feira”, disse a Sesap, em nota. Ainda aguarda-se o resultado da análise genética que mostrará com qual cepa ele estava infectado.


Se for confirmado, será o primeiro caso oficial de pessoa contaminada com a cepa indiana no Rio Grande do Norte. Na última terça-feira, a Secretaria havia divulgado que o estado tinha dois casos suspeitos da variante, afirmando que “os pacientes se encontram em isolamento, cumprindo os protocolos, assim como as pessoas que tiveram contato com os enfermos. As amostras serão enviadas para a Fiocruz e Instituto Evandro Chagas (IEC) com a finalidade de investigar possível contaminação pela nova variante no estado”.


Mas, ontem, a secretaria anunciou que apenas um paciente suspeito de estar infectado pela cepa B.1.617, a mutação indiana, teve amostra enviada para análise. A Sesap não esclareceu se o paciente que morreu é um dos dois casos suspeitos que já eram investigados ou se seria um terceiro infectado.

Nove confirmações

Até o momento, o Brasil tem nove casos confirmados da variante. O mais recente é o de uma mulher de Apucarana (PR), com 71 anos e que tem comorbidades. Ela chegou a ser internada em 6 de abril, mas logo teve alta. O filho dela foi infectado e não resistiu à força do novo coronavírus e morreu. O marido também contraiu a doença. Ainda no Paraná, um segundo caso, em Cascavel, está sendo investigado: um homem de 38 anos foi infectado, mas ainda não há a confirmação.
Os demais casos da variante indiana são seis em São Luís, um em Campos dos Goytacazes (RJ) e um em Juiz de Fora (MG). O Ministério da Saúde informou que os casos no Espírito Santo, no Pará, no Distrito Federal e no Ceará foram descartados para a mutação.


De acordo com relatório da Organização Mundial da Saúde (OMS), a B.1.617 é mais contagiosa se comparada à variante britânica, mas ainda não se sabe se está relacionada a situações mais graves da covid-19 e se aumenta o risco de reinfecção. Acredita-se que ela se dissemine mais rápido, só que cientistas não sabem dizer se é mais letal e mais transmissível. Apenas em 10 de maio é que a agência das Nações Unidas classificou a B.1.617 como “preocupação global”, apesar de ter sido detectada em 2020.


De acordo com o Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass), nas últimas 24 horas ocorreram 2.507 mortes, totalizando 467.706 óbitos ao longo da pandemia. O número de casos de terça-feira para ontem foi de 95.601 — e 16.720.081 pessoas infectadas pelo novo coronavírus.

Fiocruz ganha banco de células para IFA

A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) recebeu, ontem, bancos de células e de vírus necessários para produção do Ingrediente Farmacêutico Ativo (IFA) nacional necessário para a produção da vacina covid-19 na instituição. O material, vindo dos Estados Unidos, desembarcou no Aeroporto Internacional Tom Jobim, às 8h03. Após desembaraço aduaneiro, seguiu para o Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos (Bio-Manguinhos/Fiocruz), onde o imunizante de Oxford/AstraZeneca será produzido. O banco de células foi enviado em nitrogênio líquido, mantido a uma temperatura de aproximadamente -150ºC. O material veio em gelo seco, a cerca de -80ºC. Os dois componentes compõem a base para a produção do IFA. O material, considerado o “coração” da tecnologia, chega no dia seguinte à assinatura do contrato de transferência de tecnologia, que ocorreu na tarde da última terça-feira.

*Estagiária sob a supervisão de Andreia Castro

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Menos 10 milhões de doses no 2º semestre

A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) reduziu a previsão de entrega de vacinas contra a covid-19 de 110 milhões para 100 milhões de doses para o segundo semestre do ano. Antes, a estimativa era que o total fosse produzido com ingrediente farmacêutico ativo (IFA) nacional, porém a instituição recalculou a projeção: serão entregues 50 milhões de imunizantes com produção 100% nacional e mais 50 milhões com insumo importado, que está sendo negociado.


Segundo Nísia Trindade, presidente da Fiocruz, a projeção de 110 milhões de doses 100% nacional era uma estimativa feita a partir de dados disponíveis antes mesmo de a vacina desenvolvida pela Oxford e pela AstraZeneca ter sido aprovada. “Houve problemas em vários sítios de produção, por ser uma tecnologia nova. São coisas que só no processo de desenvolvimento é possível saber” explicou.


Maurício Zuma, diretor do Bio-Manguinhos, assegurou que estão mantidos as 100 milhões de doses do contrato inicial. “Sempre trabalhamos com diversas estratégias, com diversas alternativas, para manter as entregas ao Ministério da Saúde. Estamos trabalhando com um processo desconhecido, vamos tendo informações ao longo do tempo. Nesse momento, a gente está prevendo entregar com o IFA nacional algo em torno de 50 milhões de doses e outros 50 milhões de doses virão de IFA importado”, afirmou o diretor de Bio-Manguinhos.

UTIs repletas

A redução de 10 milhões de doses anunciada pela Fiocruz vem no momento em que a demanda por leitos de unidade de terapia intensiva para tratamento da covid-19 chegou a 100% em três capitais. Curitiba, Campo Grande e Aracaju enfrentam uma situação de ocupação de leitos igual ou superior a 100%, além de filas de pacientes internados com o novo coronavírus à espera de uma vaga na UTI.


Há capitais em cenário crítico em todas as cinco regiões do país. Em 10 delas, a ocupação de leitos está em aproximadamente em 95% das vagas ocupadas. Na maior parte dos casos, os leitos que se tornam disponíveis são os que vagaram recentemente e que estão sendo preparados para receber novos pacientes.


Para Gonzalo Vecina, médico sanitarista e professor da Universidade de São Paulo (USP), a retomada dos aumentos de casos representam um “recrudescimento” do que acontece desde que crise sanitária começou, pois não houve uma queda importante depois das chamadas primeira e segunda ondas: “Essas três capitais — Curitiba, Campo Grande e Aracaju — são apenas exemplos, mas no interior do de São Paulo também estamos com a situação dramática em muitas cidades médias e grandes. Estamos vivendo um indício de terceira onda”, alertou. (Com GB)

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