O Greenpeace mostrou, ontem, que até o dia 28 houve um aumento de 41% nos alertas de desmatamento da Amazônia, registrando o pior maio da série histórica com base nos dados de maio do sistema Deter, do Instituto de Pesquisas Espaciais (Inpe) — o Deter-B —, antes mesmo do encerramento do mês. Divulgado às vésperas do Dia Mundial do Meio Ambiente, celebrado hoje, a área desmatada somou 1.180 km², o maior volume mensal durante o período. No acumulado do ano, o aumento da área desmatada somou 2.337 km, 14,6% a mais que o número registrado no mesmo período de 2020, apesar do grande volume de chuvas na região Norte — o que, segundo a organização não governamental, deveria desacelerar o desmatamento.
“Após a divulgação do número recorde de queimadas na Amazônia e no Cerrado, em maio, os alertas de desmatamento reforçam ainda mais o quanto uma das maiores reservas de biodiversidade no planeta está sendo colocada em risco dia após dia. Além de um presidente e um ministro do meio ambiente atuando contra a proteção ambiental, o Congresso tem contribuído com essa política de destruição, enfraquecendo deliberadamente as leis que protegem a floresta e seus povos. O resultado de maio não poderia ser diferente já que os retrocessos na governança ambiental só aumentam”, destaca nota, divulgada ontem.
A entidade critica, ainda, o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, por fechar “os olhos para o controle do desmatamento, que segue a passos largos, inclusive em terras públicas”. Cita também o envolvimento de Salles no comércio internacional de madeiras, que vem sendo investigado pela Polícia Federal.
Na avaliação do Greenpeace, os projetos de lei 2.633/20 e 510/21, que anistiam os grileiros, pioram esse quadro de desmatamento recorde na Amazônia, uma vez que “cerca de um terço da derrubada de árvores naquela região é ocasionado por grilagem”. O país, inclusive, tem sofrido ameaças de boicote de grandes importadores de commodities brasileira da Europa se o Congresso aprovar esses projetos.
Restauração
O tema deste ano para o Dia Mundial do Meio Ambiente é “Restauração de Ecossistemas”, que pretende alertar para a necessidade de recuperação dos ecossistemas desmatados, danificados e degradados. Os números, porém, se mantêm em patamar assustador: segundo o levantamento do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, mais de 4,7 milhões de hectares de florestas são perdidos todos os anos no mundo. Isso representa uma área maior do que a da Dinamarca.
O relatório intitulado Tornando-se #GeraçãoRestauração: restauração de ecossistemas para pessoas, natureza e clima salienta que a humanidade está usando aproximadamente de 1,6 vezes a quantidade de serviços que a natureza pode fornecer de forma sustentável. O Brasil, porém, tem o Plano Nacional de Recuperação da Vegetação Nativa e se comprometeu a recompor 12 milhões de hectares de vegetação nativa até 2030. Por conta do domínio das técnicas de restauração, já recuperou em torno de 700 mil hectares de Mata Atlântica, entre 2011 e 2015.
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Lixo ilegal mostra falta de investimento
Levantamento realizado pela PwC Brasil, empresa de consultoria e auditoria, em parceria com o Sindicato Nacional das Empresas de Limpeza Urbana, mostra a forte correlação entre a grande quantidade de resíduos despejados irregularmente em lixões a céu aberto e a ausência ou insuficiência de arrecadação específica para custear o tratamento dessas sobras. A segunda edição do Índice de Sustentabilidade de Limpeza Urbana (ISLU), que avaliou 3.049 municípios — contra 1.729 em 2020 —, mostrou que nas cidades que investem no setor, o índice de reciclagem de lixo é o dobro (6%) daquelas que não tem nenhuma destinação específica para a gestão de resíduos sólidos.
O ISLU pretende suprir a falta de informações sobre a coleta de resíduos nas cidades brasileiras e mapear o cumprimento das recomendações da Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS). Para chegar aos resultados do estudo, quatro aspectos são considerados: Engajamento do Município (população atendida e população total); Sustentabilidade Financeira (arrecadação específica menos despesa do serviço sobre a despesa total do município); Recuperação dos Recursos Coletados (material reciclável recuperado sobre total coletado); e Impacto Ambiental (quantidade destinada incorretamente sobre a população atendida).
Pelo segundo ano consecutivo, o Sul foi a que apresentou o melhor desempenho. Santa Catarina e Paraná obtiveram a melhor pontuação no ISLU: 70% dos municípios estão entre os 50 mais bem colocados no estudo. Na sequência, vêm as regiões Sudeste, Centro-Oeste, Nordeste e Norte. O primeiro colocado no ranking de 2021 é Maringá (PR), que obteve nota 0,74.
A especialista em Saneamento Básico e Mestre em Desenvolvimento Sustentável Heliana Kátia Tavares Campos chama a atenção para as consequências do não tratamento do lixo. “A disposição inadequada dos resíduos sólidos em vias públicas, lotes vagos, terrenos baldios e em lixões prejudica enormemente o ambiente urbano, poluindo o solo, os lençóis freáticos e o ar, em especial com a queima, o que atrai vetores causadores de inúmeras doenças”, alertou.
O engajamento da sociedade é um fator decisivo no bom tratamento dos resíduos sólidos. Andréa Portugal, arquiteta e mestra em Gestão Econômica do Meio Ambiente pela Universidade de Brasília (UnB), é crítica sobre o desprezo dos cidadãos para a separação do lixo. “Tem de haver reforço na segregação. Hoje, cerca de 80% do resíduo seco, com potencial de ser reciclado, vai na coleta comum. As cooperativas que trabalham com a coleta convencional tem renda média de R$ 1,7 mil e as que trabalham com seletiva R$ 1,1 mil. Tem algo de muito errado nisso”, demonstra.
Segundo Eliane Kihara, da PwC Brasil, “a população do município é a beneficiária direta, principalmente no que tange à melhoria da qualidade da saúde devido à diminuição do risco de contaminação ambiental provocado pela disposição inadequada em lixões, e à geração de emprego e renda”.
* Estagiárias sob a supervisão de Fabio Grecchi