VIOLÊNCIA

Morte de Kathlen provoca grande comoção no Rio e no país

Ela foi atingida enquanto ia visitar a família na comunidade onde nasceu, cresceu e da qual saiu há apenas um mês exatamente por causa da gestação e pelo medo da violência

Correio Braziliense
postado em 10/06/2021 06:00
Temendo a violência, Kathlen deixou o Lins quando soube da gravidez -  (crédito: Reprodução/Arquivo Pessoal)
Temendo a violência, Kathlen deixou o Lins quando soube da gravidez - (crédito: Reprodução/Arquivo Pessoal)

A modelo e designer de interiores Kathlen de Oliveira Romeu, de 24 anos e grávida de quatro meses, foi morta na última terça-feira durante uma troca de tiros entre policiais e criminosos, no bairro do Lins de Vasconcelos, Zona Norte do Rio de Janeiro. Segundo a Polícia Militar, ela foi encontrada ferida logo depois do confronto, ocorrido na localidade conhecida como Beco do 14, no Complexo do Lins. A Delegacia de Homicídio da Capital apura de onde partiu o disparo que matou a jovem, cujo corpo foi sepultado no final da tarde de ontem, no cemitério do Catumbi, no Centro do Rio.

Ela foi atingida enquanto ia visitar a família na comunidade onde nasceu, cresceu e da qual saiu há apenas um mês exatamente por causa da gestação e pelo medo da violência. Ela viveu ali com a mãe, a avó e um tio, mas decidiu se mudar recentemente com a mãe e o companheiro da mãe.

“Eu tirei ela de lá (do Lins) por causa da violência. Noventa e nove por cento da comunidade são pessoas de bem. A mesma operação que tem constantemente lá, esse tiro ao alvo na nossa área, na Zona Sul não tem”, disse o pai de Kathlen, Luciano Gonçalves, da porta do Instituto Médico Legal.

Grávida de quatro meses, ela havia postado, três dias antes, uma sequência de fotos no Instagram para registrar sua felicidade com o bebê que estava para chegar. A família também estava animada. “Eu brincava com minha filha: o meu neto vai nascer com os pais formados, acrescentou Luciano.

Kathlen estava à espera da entrega do apartamento que comprara, para construir a própria família com o namorado, Marcelo Ramos — conforme relatou a amiga Carolinne Carneiro, 28, com quem dividia as vendas de uma butique da Zona Sul carioca.

Para o coordenador do Movimento Negro Unificado do Distrito Federal (MNU-DF), Geovanny Silva, o sistema de segurança pública, sobretudo a Polícia Militar, necessita de reformulação. “Recebemos com muita dor a notícia da morte da Kathlen. Isso reforça a necessidade de treinamento cotidiano e acompanhamento psicológico das polícias militares para que não ameacem, sobretudo, as vidas de pessoas negras. Estamos cansados de estar sob risco físico e psicológico”, analisou.

O prefeito do Rio, Eduardo Paes, criticou a morte de Kathlen. “O que a gente não pode é começar a achar que essas tragédias são naturais. Que uma moça sai à rua grávida, jovem, e toma um tiro do nada. Não podemos perder a capacidade de indignação diante de tais fatos. Essas pessoas não são só números”, disse.

Paes comentou ainda que não quer culpar “fulano ou sicrano” sem a devida apuração, mas afirmou que é preciso pensar numa nova política de segurança. “Que prenda mais, condene mais, investigue mais e mate menos. Tem gente que gosta de morte; eu não gosto”, afirmou.

Por meio de mota, o governador Cláudio Castro se manifestou somente no começo da noite, depois que o corpo de Kathlen havia sido sepultado e mais de 24 horas após a morte da jovem. “O governador Cláudio Castro lamenta profundamente a morte da jovem Kathlen Romeu, 24 anos, grávida de quatro meses. As investigações sobre as circunstâncias que levaram à morte de Kathlen estão a cargo da Polícia Civil”, diz o texto. (Colaboraram Pedro Ícaro e João Vítor Tavarez, estagiários sob a supervisão de Fabio Grecchi)

 

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