DECLARAÇÃO

Mesmo sob risco de terceira onda, Bolsonaro quer acabar com uso de máscaras

Apesar do cenário trágico da pandemia de covid-19 no país, que ainda provoca cerca de 2 mil mortes por dia, o presidente pede estudo ao ministro da Saúde para desobrigar a população de utilizar o equipamento de proteção

Ingrid Soares
Maria Eduarda Cardim
postado em 11/06/2021 06:00
Segundo especialistas, fala do presidente mostra ignorância e irresponsabilidade diante da grave situação sanitária do país -  (crédito: Evaristo Sá/AFP - 1/6/21)
Segundo especialistas, fala do presidente mostra ignorância e irresponsabilidade diante da grave situação sanitária do país - (crédito: Evaristo Sá/AFP - 1/6/21)

Sem controle da transmissão do novo coronavírus, o Brasil vive a iminência de uma terceira onda da pandemia da covid-19, mas o presidente Jair Bolsonaro se preocupa em acabar com o uso de máscaras no país. Ontem, ele afirmou que pediu ao ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, um parecer que desobrigue o uso de máscara por quem já recebeu a vacina ou para quem já foi infectado pelo vírus. A declaração ocorreu durante evento no Palácio do Planalto, no qual Bolsonaro também ironizou reportagens que noticiam que ele visita cidades sem o uso do equipamento de proteção.

“Conheci Marajó com a Damares (ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos), com o povo que está lá, dócil, humilde, pobre, como estive em toda a Bahia, nas minhas paradas inopinadas, tão criticadas pela mídia. ‘Parou sem máscara, por que parou?’ Por coincidência, olha a matéria para a imprensa amanhã. Vou dar uma matéria para vocês aí: acabei de conversar com um tal de Queiroga. Não sei se vocês sabem quem é. Nosso ministro da Saúde. Ele vai ultimar um parecer visando a desobrigar o uso de máscara por parte daqueles que estejam vacinados ou que já foram contaminados, para tirar esse símbolo (mostra máscara), que, obviamente, tem a sua utilidade para quem está infectado”, apontou.

O ministro da Saúde informou que recebeu o pedido do presidente, mas indicou que, para a medida sair do papel, é necessário vacinar a população brasileira. “Queremos que seja o mais rápido possível. Para isso, precisamos vacinar a população brasileira e avançar”, disse o ministro, que negou pressão do presidente Bolsonaro. O uso de máscaras no Brasil não foi decidido pelo governo federal, mas por estados, municípios e o Distrito Federal.

Em maio, os Estados Unidos dispensaram o uso de máscara por pessoas vacinadas na maioria dos ambientes, com exceção de hospitais e do transporte público. Para conseguir isso, porém, os EUA avançaram muito na vacinação contra a covid-19. Mesmo assim, a Organização Mundial da Saúde (OMS) pediu cautela, ressaltando que a desobrigação do equipamento pode ocorrer quando não há mais transmissão comunitária do vírus, o que não depende unicamente da imunização. Para alterar a medida, o país deve considerar a cobertura de saúde e a incidência local.

Irresponsabilidade

Com vacinação lenta e um cenário de pandemia considerado de “alto risco” por pesquisadores, o Brasil não está apto para flexibilizar o uso de máscaras, segundo especialistas. “A gente não tem nem 20% da população totalmente vacinada com duas doses. Não há nenhuma segurança para tirar a máscara. Não podemos ter esse relaxamento se, antes não tivermos, pelo menos, 50% da população vacinada”, explicou a infectologista do Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto Anna Christina Tojal, que considerou a fala do presidente como “irresponsável”.

Anna explica que uma pessoa já infectada pode se infectar novamente e transmitir a doença. “Aqui no Hospital das Clínicas, a gente tem visto pessoas internadas por reinfecção. Mesmo aquelas que já tiveram covid, precisam manter os cuidados. E até quem foi vacinado, pode pegar o vírus, não adoecer, mas ainda transmitir”, alerta.

Para Jonas Brant, sanitarista e professor da Universidade de Brasília (UnB), Bolsonaro demonstra ignorância. “Seguimos com 2 mil mortes diárias e vemos a ausência de estratégia coordenada de enfrentamento da pandemia. O risco dessa medida é o de facilitar o crescimento da terceira onda.”

 

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