VIOLÊNCIA

12 policiais afastados pela morte de modelo

Correio Braziliense
postado em 11/06/2021 23:46
 (crédito: Reprodução/Redes Sociais)
(crédito: Reprodução/Redes Sociais)

A Polícia Militar do Rio afastou do serviço das ruas, ontem, 12 policiais que atuaram na ação que terminou com a morte da jovem Kathlen Romeu, de 24 anos, na última terça-feira, que estava grávida de quatro meses. Os soldados tiveram suas armas recolhidas para perícia — ao todo foram 21 — a fim de ajudar a solucionar o crime que chocou o Rio de Janeiro.

No momento em que foi baleada, segundo informou a PM, policiais trocavam tiros com criminosos no Complexo do Lins, na zona norte da cidade, numa localidade conhecida por Beco do 14. A jovem foi encontrada logo depois do confronto com uma perfuração no tórax. Segundo laudo do Instituto Médico Legal, ela foi atingida por um tiro de fuzil.

Os policiais alegam terem feito sete disparos durante a ação. Ao depor, o cabo Marcos Felipe da Silva Salviano disse que ficou frente a frente com quatro criminosos num ponto de venda de drogas e que estavam armados — um deles supostamente com um fuzil.

De acordo com o militar, o grupo fugiu atirando quando viu os policiais. Marcos Felipe revidou e disse que fez cinco disparos contra os bandidos, mas, segundo ele, durante o período em que esteve no local garantiu não ter visto Kathlen. O cabo relatou, ainda, que o cabo Frias, seu companheiro de guarnição, atirou duas vezes de fuzil contra os criminosos. Dos 12 PMs afastados na ação, nove prestaram depoimento.

Já a família de Kathlen depôs à Delegacia de Homicídios do Rio, na Barra da Tijuca (zona oeste), que investiga o caso. Uma representante da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-RJ) disse que o caso tem evidências de homicídio pela PM.

“Eu preciso gritar por justiça por Kathlen. Não foi em vão. Não vai ser em vão. Ela foi a última. Gravem esse nome: não foi em vão”, afirmou a mãe da vítima, Jaqueline de Oliveira Lopes, ao sair da delegacia.

A avó da modelo e designer de interiores, Sayonara Fátima, que estava com a neta no momento em que ela foi baleada, também prestou depoimento, assim como o pai de Kathlen, Luciano Gonçalves, e o namorado dela, o tatuador Marcelo Ramos Silva.

A vice-presidente da Comissão de Direitos Humanos da OAB-RJ, Nadine Borges, acompanhou os depoimentos e disse estar convicta de que houve um homicídio. “Foi muito chocante o que nós ouvimos, sobretudo da avó dela, que presenciou a cena do crime. O depoimento só reforça os indícios de que houve homicídio por parte da Polícia Militar. Não há registro, no depoimento, de que houvesse confronto no momento. Apenas a existência de muitos tiros. O que ela disse é que ouviu muitos tiros e só viu policiais militares”, contou Nadine.

“A Polícia Civil vai ter que investigar isso com muita cautela porque as evidências são muito fortes de um homicídio, de fraude processual (por supostamente terem alterado a cena do crime antes da realização da perícia), de crime de desobediência em relação à decisão do STF (Supremo Tribunal Federal, que no ano passado proibiu a realização de operações policiais em favelas a não ser em situações extraordinárias). Essa operação configura uma afronta ao Supremo Tribunal Federal”, afirmou a advogada.

Kathlen foi atingida quando ia visitar a família e havia se mudado do Complexo do Lins há cerca de um mês. De acordo com o pai da jovem, a saída foi decidida depois que ela soube que estava grávida e justamente para escapar da violência no local.

 

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