Ainda que a vacina contra a covid-19 no Brasil não tenha chegado ao braço da maioria da população, várias partes do país têm sinais motivadores. Um estudo clínico feito em Serrana, município de São Paulo, com cerca de 40 mil habitantes, confirmou que a CoronaVac — imunizante em maior número no país e desenvolvido pelo laboratório chinês Sinovac em parceria com o Instituto Butantan — é efetiva contra a cepa P.1 do coronavírus. A imunização de todos os habitantes adultos da cidade, entre fevereiro e abril de 2021, reduziu 80% dos casos sintomáticos da doença, 86% das internações e 95% das mortes, após a segunda dose da vacina. Essa foi a conclusão do Projeto S, feito pelo Butantan e avaliado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
Dados nacionais confirmam que uma fatia pequena de brasileiros sabe como é ter a vacina no braço. Até porque, o país imunizou, com as duas doses, 11,5% da população — o correspondente a cerca de 30 doses para cada 100 pessoas. Isso totaliza quase 76 milhões de imunizantes aplicados num país com mais de 210 milhões de habitantes. Os dados são da plataforma Our World in Data e do Ministério da Saúde.
O estudante de Relações Internacionais, Lenio Carneiro Júnior, 21 anos, faz parte do grupo vacinado com a primeira dose anticovid. Ele tem problemas cardíacos congênitos, e, por isso, entrou na fila da imunização em Brasília. “Eu estava assistindo a uma vídeo-aula quando minha mãe entrou no quarto e disse: “Filho, vamos vacinar?” Eu fiquei duvidando por um bom tempo até cair a ficha. Passei a noite acordado e, às 6h do dia seguinte, estávamos na fila do drive-trhu para me vacinar. Eu estava explodindo de felicidade, mas foi minha mãe quem chorou de alegria ao meu lado”, contou.
Lenio acredita em um maior alívio e sensação de segurança quando o processo de imunização for totalmente concluído. “Terei mais tranquilidade para encontrar as pessoas que me importam, mas continuarei usando máscara e evitando aglomerações. Talvez farei alguma viagem segura. Especial mesmo vai ser quando uma grande porcentagem for vacinada e tivermos o primeiro Carnaval pós-pandemia para colocar fim nesse período sombrio brasileiro”, espera o estudante.
O barman Carlton Jones, 25 anos, mora na Flórida, Estados Unidos, e, assim como muitos jovens americanos, recebeu a vacina contra o coronavírus. “Eu tomei a segunda dose da Pfizer no último dia 9 de junho. Não tive efeitos colaterais, apenas dor no local da aplicação. É bom o sentimento de ser imunizado, pois alguns lugares voltam, aos poucos, a funcionar normalmente. Aqui nos EUA, apesar de ainda seguirem as medidas de segurança, alguns locais dispensam a obrigatoriedade da máscara, como é caso do restaurante onde trabalho”, conta o americano. De acordo com a Our World in Data, os EUA aplicaram quase 300 milhões de doses contra a covid-19, com 42% da população totalmente protegida. O país se comprometeu a compartilhar cerca de 500 milhões de doses da Pfizer, até 2022, para 92 nações de baixa renda e da União Africana; o Brasil ficou de fora da lista.
Efeitos colaterais
De acordo com o chefe da Unidade de Pneumologia do Hospital Regional da Asa Norte (Hran), Paulo Feitosa, os cuidados após a imunização devem ser mantidos. “A vida não volta ao normal após a vacina. Esse é um problema que tem ocorrido por desinformação. Quando a pessoa toma a segunda dose, depois de um tempo, ela tem imunidade, mas é preciso continuar com todos os cuidados sanitários, que são muito importantes”, aconselha o pneumologista. Isso porque, segundo explica o médico, o antivírus garante o não desenvolvimento de sintomas graves da covid-19, mas não significa que a pessoa vacinada “tem passaporte para levar uma vida sem cuidados sanitários”.
A assistente social Ana Carolina Esteves, 29 anos, recebeu o imunizante contra o novo coronavírus ainda em janeiro, quando a vacinação começou no Brasil. “Fui imunizada com a CoronaVac, e não tive efeito colateral algum. Foi emocionante, tanto que na hora quase chorei. Para mim, enquanto mulher negra, esse acontecimento pesa muito mais, tendo em vista que políticas públicas para pessoas negras são muito mais difíceis de serem alcançadas. Então, por ser profissional da saúde, tive o privilégio de ser vacinada na primeira leva. Também foi importante para continuar meu trabalho, tendo em vista que, na minha área, a gente lida diariamente com pessoas infectadas pela covid. Por isso, é importante, para quem tiver a oportunidade, tomar a vacina. Pois assim estará salvando a própria vida e a do próximo”, afirma.
Em relação ao surgimento de possíveis efeitos colaterais após a imunização, como dor e febre, Fábio Klamt, professor do Departamento de Bioquímica da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (ICBS/UFRGS) reforça ser “mais do que natural o corpo reagir, visto que a vacina contém partículas virais que estimulam o sistema imunológico a funcionar. Então, é benéfico e positivo, quando há essa resposta adequada ao indutor vacinal”. Klamt destaca que o manejo da pandemia, mesmo em um cenário futuro de ampla vacinação, exigirá medidas prolongadas. “É notório que os cuidados ainda durem alguns anos. Vai demorar para voltarmos à normalidade”.
*Estagiários sob a supervisão de Andreia Castro
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