CORONAVÍRUS

Vacina da Janssen não tem data para chegar; fabricante não explicou atraso

Imunizante estava previsto para desembarcar hoje, conforme o Ministério da Saúde havia divulgado, e fabricante não explicou por que não cumpriu o acertado. Já a Anvisa ampliou o prazo de validade para a aplicação do fármaco, o que facilita a logística de distribuição

Maria Eduarda Cardim
postado em 15/06/2021 06:00 / atualizado em 15/06/2021 09:05
 (crédito: Jon Cherry/Getty Images/AFP)
(crédito: Jon Cherry/Getty Images/AFP)

O primeiro lote da vacina da Janssen contra a covid-19, esperança para acelerar a imunização de 3 milhões de brasileiros com uma única dose, não será entregue hoje, como anunciou o Ministério da Saúde. Ontem, a pasta confirmou o atraso e disse que aguarda confirmação de uma nova data para a entrega. A expectativa é de que as injeções cheguem ainda esta semana ao país em três remessas, segundo a pasta, mas isso não está garantido.

A Janssen não informou o que motivou o atraso na entrega e também não deu uma nova previsão para a chegada das doses. “Seguimos dialogando com o Ministério da Saúde e outras autoridades locais com o objetivo de disponibilizar a vacina no país o quanto antes. Compartilharemos novas informações assim que houver atualizações”, disse, em nota.

O atraso preocupa, pois o lote com 3 milhões de vacinas venceria em 27 de junho e precisaria ser aplicado até esta data. No entanto, também ontem, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) autorizou a ampliação do prazo de validade de três para quatro meses e meio.

Com isso, o imunizante poderá ser aplicado até o dia 8 de agosto e dá mais tranquilidade para que o ministério organize a logística do envio das doses. A extensão da validade já havia sido autorizada pela FDA (Food and Drug Administration, a agência reguladora dos Estados Unidos) e ajudou na decisão tomada pela Anvisa. Segundo a autarquia, a aprovação do aumento do prazo de utilização se baseou em uma avaliação que demonstrou que o fármaco tende a se manter estável por até quatro meses e meio, sob condições de armazenamento de 2° a 8° C.

Congelada, entre temperaturas de -25°C e -15° C, a vacina da Janssen possui validade de 24 meses, a partir da data de fabricação. Quando é descongelada, o prazo era de três meses, que, agora, foi estendido. A autorização da Anvisa foi concedida por unanimidade e a diretora que relatou o estudo que definiu a prorrogação do prazo, Meiruze Freitas, destacou que a decisão é mais uma célere ação regulatória que permite a ampliação ao acesso aos imunizantes.

“Se autorizada a ampliação do prazo de validade da vacina para quatro meses e meio, fomentaremos o acesso a mais uma vacina para o portfólio de ferramentas médicas de combate a essa pandemia, mantendo nosso inabalável compromisso com a saúde pública”, disse, ao votar pela ampliação da validade.

Nas capitais

A extensão do prazo facilitará a logística de distribuição e aplicação no Brasil. Antes, com a validade curta, com vencimento em 27 de junho, as doses da Janssen teriam que ser rapidamente enviadas aos estados para serem aplicadas. Por isso, o Ministério da Saúde havia decidido que a primeira remessa seria remetida somente para as capitais. Questionada pelo Correio se mudará a estratégia de vacinação ante a ampliação da validade, a pasta disse que manterá o planejamento.

A proposta é fazer um mutirão de vacinação somente nas capitais para aplicar as doses em até cinco dias. Apesar de já ter definido alguns pontos da ação de utilização do imunizante, o ministério ainda não informou qual será o público-alvo desses imunizantes. No entanto, alguns governos já têm planos para a vacina de dose única: o do Distrito Federal, por exemplo, informou que a utilizará para imunizar os profissionais de educação da rede pública.

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Saúde quer manter estoque de sangue

O Ministério da Saúde lançou, ontem, no Dia Mundial do Doador de Sangue, a campanha nacional deste ano para incentivar a doação e ajudar a manter os estoques dos bancos em todo o país. Até março, foram coletadas 734.247 bolsas no Brasil. A preocupação da pasta é manter um estoque e garantir que não falte o fluido para quem precisa receber. Por causa da pandemia da covid-19, que restringiu a mobilidade das pessoas, as coletas diminuíram 10% em 2020, em comparação a 2019. No entanto, o ministério ressaltou que não houve desabastecimento dos bancos. No ano passado, foram realizadas 2,9 milhões de doações, ante 3,2 milhões em 2019.

Bolsonaro: "Doses quando assim desejar"

O ministro da Saúde Marcelo Queiroga afirmou, ontem, que vacinará o presidente Jair Bolsonaro contra a covid-19 “quando ele assim desejar”. Ele participou de ação simbólica, em Brasília, e aplicou doses da vacina no ministro de Relações Exteriores, Carlos França, e no presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto. “O presidente sempre brigou pela liberdade das pessoas. O nosso governo é um governo liberal que defende o direito à liberdade, o direito às escolhas e na hora que o presidente se sentir confortável, ele vai tomar a decisão dele”, afirmou Queiroga, à saída do Ministério da Saúde.

Crítico da imunização, na semana passada Bolsonaro repetiu que seria o último a se vacinar contra covid-19 e que daria lugar a quem precisasse e estivesse “desesperado”. O ministro também informou que até o momento foram identificados 10 trabalhadores dos hotéis onde estão os atletas e comissão técnica que disputam a Copa América contaminados pelo novo coronavírus. Segundo Queiroga, os trabalhadores e com quem eles mantiveram contatos foram isolados.

Bolsonaro, aliás, apagou de sua conta no Twitter mensagem com informação incorreta de que um lote de 3 milhões de doses de vacinas da Janssen chegaria hoje ao Brasil. “Brasil deverá receber 3 milhões de doses da vacina da Janssen até esta terça. A vacina é de dose única e vai acelerar o andamento da imunização”, escreveu ele, por volta das 14h45.

A postagem foi feita cerca de uma hora após o Ministério da Saúde informar o adiamento da entrega dos imunizantes, prevista inicialmente para hoje. De acordo com a pasta, as vacinas devem chegar “ainda esta semana ao país em três remessas”, em datas estipuladas nos próximos dias pelo laboratório.

Após ignorar e-mails, enfim a reunião com a Pfizer

 (crédito: Isac Nóbrega/PR)
crédito: Isac Nóbrega/PR

Depois de ignorar diversos e-mails da Pfizer, em 2020, ofertando ao Brasil a vacina contra a covid-19, o governo federal se reuniu, ontem, com a empresa para pedir a antecipação das doses adquiridas pelo Ministério da Saúde. O encontro contou com a presença do presidente Jair Bolsonaro, que, no início do ano, criticou as cláusulas de contrato propostas pelo laboratório. Participaram, ainda, o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, o ministro-chefe da Casa Civil, Luiz Eduardo Ramos, o ministro das Relações Exteriores, Carlos Alberto França, e o presidente do Banco Central do Brasil, Roberto Campos Neto. Pela Pfizer, estiveram o presidente para a América Latina, Carlos Murillo, e a presidente no Brasil, Marta Díez.

Imunização vira disputa bem-humorada

 (crédito: Twitter/Queiroga)
crédito: Twitter/Queiroga

Para acelerar a vacinação contra a covid-19 — que, de acordo com o painel do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass), fez, ontem, 827 mortos, de um total de 488.228 óbitos em todo o país —, prefeitos e governadores decidiram competir para ver quem imuniza mais e mais rápido. A competição, em tom bem-humorado, começou quando o governo de São Paulo anunciou a antecipação da distribuição de doses para todos os moradores do estado com mais de 18 anos. Em resposta ao governador paulista João Doria, entraram na brincadeira o prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, e o governador do Maranhão, Flávio Dino.

Partindo de uma mensagem postada no domingo, na qual Doria atualiza a previsão de vacinação no estado, Paes retrucou. “Você é o pai da vacina, mas eu já adotei a criança e já ganhei o coração do imunizante. Não me provoque. Estou preparando a resposta. Bora vacinar!”, escreveu, no perfil oficial no Twitter. E logo recebeu a trépica do governador. “Aqui também tem mais vacina na agulha. Vamos vacinar todos o mais rápido possível”, reagiu Dória.

Outros políticos também entraram na brincadeira. A deputada federal Jandira Feghali (PCdoB-RJ) lembrou que Flávio Dino também corre com a imunização dos maranhenses.

“Corrida boa mesmo é a da imunização contra covid. O Brasil vibra cada vez que Flávio Dino avança na maratona ou quando João Doria faz um belo salto. A expectativa aumenta quando Eduardo Paes diz que está na briga. Vamos lá! Sangue nos olhos e vacina no braço”, comentou a parlamentar.

O prefeito do Rio respondeu à brincadeira: “Esse Flávio Dino está impossível. Até rave da vacina o homem está fazendo no Maranhão. Ainda vou pensar se dá para arrumar confusão com ele”. O governador maranhense reagiu. “Já arrumou confusão, prefeito. É o arraial da vacinação, com bumba-meu-boi, forró e mingau de milho”, completou.

São Luís, por exemplo, é a primeira capital a anunciar a vacinação de jovens abaixo de 30 anos sem comorbidades. Em São Paulo, Dória anunciou a expectativa de vacinar todos os adultos até 15 de setembro. No Rio, a meta é que qualquer pessoa com mais de 18 anos receba pelo menos uma dose até outubro.

Mas depois que Doria, Dino e Paes usaram as redes sociais para propagandear o avanço da vacinação nas suas gestões, o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, decidiu que não ficaria para trás em matéria de propaganda. Ontem, ele postou foto no Twitter imunizando o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, para mostrar que trabalha incansavelmente para que a distribuição de doses continue avançando. (MEC com Jéssica Gotlib e Gabriela Bernardes, estagiária sob a supervisão de Fabio Grecchi)

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