Covid-19

Brasil supera meio milhão de mortes em 15 meses; confira repercussão

País registra mais 2.301 casos fatais em 24 horas e chega à triste marca de 500.800 vidas perdidas durante a pandemia. Integrantes da CPI afirmam que "há culpados", mas ministro das Comunicações reclama das críticas feitas ao governo

Augusto Fernandes
postado em 20/06/2021 06:00 / atualizado em 22/06/2021 11:15
 (crédito: Michael Dantas/AFP - 9/5/21 )
(crédito: Michael Dantas/AFP - 9/5/21 )

Após 15 meses do primeiro registro de morte por covid-19, o Brasil chegou à triste marca de 500 mil vidas perdidas pela pandemia, e se tornou o segundo país a alcançar esse número, depois dos Estados Unidos. De acordo com o balanço divulgado pelo Ministério da Saúde, 2.301 novas mortes foram confirmadas em 24 horas, o que elevou o total de vítimas pelo novo coronavírus no país para 500.800.

O Brasil bateu a marca em meio à iminência de uma terceira onda de casos e óbitos pela doença. Desde o início do mês, o país voltou a ver as estatísticas referentes a novas infecções e mortes subirem. Mais uma vez, a média móvel calculada pelo Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass) está em um patamar superior a 2 mil óbitos diários. Hoje, esse número é de 2.075, 26% a mais do que duas semanas atrás (1.639).

Já a média móvel de casos está próxima do que foi registrado ao longo de março, mês com os índices mais elevados. Pelos números do Conass, a estatística atual é de 72.705, uma evolução de 16% em relação ao indicador registrado há 14 dias (62.261). Diferenças superiores a 15% em um intervalo de 14 dias indicam alta.

O cenário desalentador da pandemia, portanto, alerta para um futuro ainda mais perigoso. Do primeiro óbito por covid-19, em 17 de março do ano passado, até a marca de 100 mil brasileiros mortos, em 8 de agosto, se passaram 144 dias. Por outro lado, foram 51 dias entre as 400 mil mortes, alcançadas em 29 de abril, e os 500 mil óbitos.

A estatística reflete a série de falhas do país, em especial do governo federal, no enfrentamento à crise sanitária. O principal empecilho foi a demora para o início do processo de vacinação contra a covid-19, sendo que algumas propostas para compra de imunizantes foram ignoradas pelo Ministério da Saúde. Além disso, pesou o fato de a gravidade da pandemia e as recomendações da ciência para lidar com a situação terem sido menosprezadas.

Presidente do Conass e secretário de Saúde do Maranhão, Carlos Lula lamentou a marca e disse que o país precisa de uma coordenação nacional que unifique os discursos e as ações. Segundo ele, “apenas unidos seremos capazes de superar os desafios que a pandemia nos trouxe”. “É preciso diálogo, transparência e ação coordenada. Só assim sairemos da pandemia com um sistema público de saúde forte e consolidado como a maior política de inclusão social do povo brasileiro”, afirmou.

“É importante vacinar mais brasileiros e de forma mais rápida. Buscar integrantes de grupos prioritários que ainda não foram imunizados, reforçar a adoção das medidas não medicamentosas e promover uma campanha de comunicação bem estruturada. É urgente, ainda, que a gestão federal do SUS fortaleça o pacto federativo e volte a assumir o importante papel de coordenador do sistema”, acrescentou.

Reações
A confirmação de que o país já perdeu meio milhão de vidas para a pandemia fez com que o governo federal recebesse ainda mais críticas pela forma como se comportou diante da crise sanitária desde o início. Alguns dos integrantes da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid-19 no Senado divulgaram uma nota em que afirmaram que “há culpados e eles, no que depender da CPI, serão punidos exemplarmente”.

“Asseguramos que os responsáveis pagarão por seus erros, omissões, desprezos e deboches. Não chegamos a esse quadro devastador, desumano, por acaso. Os crimes contra a humanidade, os morticínios e os genocídios não se apagam, nem prescrevem. Eles se eternizam e, antes da justiça Divina, eles se encontrarão com a justiça dos homens”, diz o texto do colegiado, assinado pelo presidente Omar Aziz (PSD-AM), pelo vice-presidente Randolfe Rodrigues (Rede-AP), pelo relator Renan Calheiros (MDB-AL) e outros sete senadores.

Os parlamentares também prestaram solidariedade às famílias que perderam entes queridos. “Temos consciência que nenhuma palavra é suficiente para consolar e superar a dor das perdas de nossas famílias. São 500 mil sonhos interrompidos, 500 mil vidas ceifadas precocemente, 500 mil planos, desejos e projetos. Meio milhão de vidas que poderiam ter sido poupadas, com bom-senso, escolhas acertadas e respeito à ciência.”

O ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta também reclamou da postura do governo federal e alertou para um futuro ainda pior, caso não haja mudanças. “Meio milhão de mortos. É dor demais. A ausência de liderança não apenas provocou uma tragédia muito maior do que deveria ser, como já prepara a ressaca futura. Deveríamos planejar o pós-vacina e a reparação da sociedade, em todas as áreas atingidas. Mas seguimos à deriva”, destacou.

Governo
O presidente Jair Bolsonaro não se manifestou sobre as 500 mil mortes. Já o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, lamentou a marca. “500 mil vidas perdidas pela pandemia que afeta o nosso Brasil e todo o mundo. Trabalho incansavelmente para vacinar todos os brasileiros no menor tempo possível e mudar esse cenário que nos assola há mais de um ano. Presto minha solidariedade a cada pai, mãe, amigos e parentes, que perderam seus entes queridos”, escreveu em uma rede social.

Em um tom diferente, o ministro das Comunicações, Fabio Faria, reclamou das críticas feitas ao governo por conta da estatística: “100 mil mortes no estado de SP, silêncio sepulcral. Quando esses números dos estados se somam e se chega a um número nacional, estardalhaço. Lembremos que os estados e municípios tinham e têm total autonomia nas medidas da covid. Perdi um tio no mês passado e vários amigos. Mas nada disso importa, o que existe é uma tentativa coordenada de colocar tudo na conta do Bolsonaro e minimizar todo o trabalho e os esforços do governo federal para o combate da pandemia.”

Sinpro-DF lança campanha contra Bolsonaro 

Sinpro-DF lança campanha contra Bolsonaro no dia em que Brasil registra 500 mil mortos pela covid-19
Sinpro-DF lança campanha contra Bolsonaro no dia em que Brasil registra 500 mil mortos pela covid-19 (foto: Sinpro/Divulgação)

O sindicato dos professores no Distrito Federal (Sinpro-DF) lançou a campanha “A culpa é dele”, com a exposição de uma faixa de mais de 30 metros de largura, com os dizeres: “Mais de 500 mil mortos. A culpa é dele”.

A faixa está pendurada no viaduto da plataforma superior da rodoviária do Plano Piloto, desde a tarde de sábado (19/6). A Polícia Militar chegou a chamar o DF Legal para retirar o objeto, porém, o mesmo autorizou a permanência e informou que o ato não viola o tombamento.

Segundo o sindicato, a ação objetiva explicar à população que "o caos em que se encontra o País tem como culpado o presidente da República".

Além da faixa estendida no viaduto da plataforma superior da rodoviária do Plano Piloto, a campanha “A culpa é dele” desenvolverá outras ações ao longo da semana, com outros faixaços por todo o DF e publicações nas redes sociais do Sinpro-DF.

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Estudo sobre reforço da Pfizer

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) autorizou a realização de um estudo clínico para testar a possibilidade de uma dose de reforço da vacina contra covid-19 desenvolvida pela Pfizer. Segundo o órgão, o objetivo do estudo com a terceira dose da vacina é avaliar a segurança, resposta imune e a eficácia de estratégias de reforço em diferentes populações de participantes que receberam previamente duas doses do imunizante no estudo inicial. De acordo com a Anvisa, 443 participantes deverão ser recrutados no centro clínico do Hospital Santo Antônio da Associação Obras Sociais Irmã Dulce, em Salvador , e outras 442 virão do Centro Paulista de Investigação Clínica e Serviços Médicos, em São Paulo. No estudo, serão incluídos participantes com 16 ou mais anos de idade, dos sexos masculino e feminino, que tomaram as duas doses da vacina BNT162b2 há pelo menos seis meses no Brasil. Ainda de acordo com a agência, a Pfizer definirá a data de início dos testes.

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