MEIO AMBIENTE

Queimadas na Amazônia são as piores desde junho de 2007

Em junho, áreas atingidas subiram 2,6% na comparação com o mesmo mês de 2020. Maior parte da devastação aconteceu no Mato Grosso, no Pará e em Rondônia. Nas terras indígenas, foram 110 ocorrências; nas áreas de conservação federais, 30 focos

Correio Braziliense
postado em 02/07/2021 06:00
Segundo especialistas, crescimento dos focos de incêndio pioram a crise hídrica que o país atravessa e aumentam a presença de gases na atmosfera -  (crédito: Daniel Beltra/Greenpeace/Divulgação)
Segundo especialistas, crescimento dos focos de incêndio pioram a crise hídrica que o país atravessa e aumentam a presença de gases na atmosfera - (crédito: Daniel Beltra/Greenpeace/Divulgação)

A Amazônia registrou 2.308 focos de incêndio em junho, maior número para o mês desde 2007. Os dados são do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), órgão ligado ao Ministério da Ciência e Tecnologia. Desde 2019, a gestão Jair Bolsonaro tem sido alvo de críticas no Brasil e no exterior, pelos recordes seguidos de destruição. Para combater crimes ambientais, o governo tem apostado em operações militares, mas os registros de perda vegetal continuam altos.

Em junho de 2019, o país identificou 1.800 focos de calor. No ano seguinte, foram 2.248 e, em 2021, o novo recorde, que foi 2,6% maior que em 2020. A maior parte das queimadas (66,5%) foi em Mato Grosso, seguido por Pará (18,4%) e Rondônia (5,7%). As terras indígenas da região, que são áreas protegidas, tiveram 110 ocorrências de incêndio. Um terço desses focos foi no Parque do Xingu (MT). Entre as áreas de conservação federais, houve 30 focos. A região mais afetada foi a do Parque Nacional dos Campos Amazônicos (13). Houve 29 registros em unidades de conservação estaduais, principalmente na Área Ambiental da Chapada Maranhense (13).

Análise feita por pesquisadores do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam) e do Woodwell Climate Research Center mostra que, somadas a mais uma seca intensificada pelo fenômeno La Niña, áreas desmatadas e ainda não queimadas podem aumentar a incidência de queimadas na Amazônia especialmente de julho a setembro deste ano. Divulgado na última quarta-feira, o levantamento aponta que há quase 5 mil quilômetros quadrados de área nessas condições. “O pior ano é aquele em que se tem muito desmatamento e muita queimada para limpeza de área aberta. Ou um ano muito seco. Essa é a combinação para um barril de pólvora muito explosivo. Aparentemente, é o que vai acontecer agora em 2021”, disse o pesquisador sênior do Ipam Paulo Moutinho, explicando que o cenário é crítico, especialmente no sul do Amazonas.

Sem surpresa

O Greenpeace Brasil fez um alerta. “Esse recorde no mês de junho não é uma surpresa, considerando a continuidade da política antiambiental e a insistência na utilização de uma ferramenta cara como o envio de tropas militares, que se mostrou ineficiente nos últimos dois anos. Na verdade, é mais uma estratégia para inglês ver, pois, além de ser por um período mais curto do que nos anos anteriores, o próprio decreto já avisa os desmatadores e grileiros onde irão fiscalizar nesse período”, disse Rômulo Batista, porta-voz da campanha de Amazônia do Greenpeace Brasil.

E acrescentou: “Com números altos de queimadas ainda no começo do verão amazônico, meses onde há uma diminuição natural das chuvas na Amazônia, esses números tendem a subir ainda mais. Estamos vivendo uma emergência climática e a queima de florestas e outras vegetações nativas é a principal fonte brasileira de emissão de gases de efeito estufa que agravam ainda mais essa crise”, alertou Rômulo.

Márcio Astrini, secretário-executivo do Observatório do Clima, diz que a alta de incêndios está ligada, principalmente, a três fatores. O primeiro é o tempo seco que começa a predominar na região e dura até setembro. Há também troncos de árvores caídos no chão, como consequência do desmate, que servem de combustível para o fogo. O terceiro elemento é o próprio fogo, que não costuma surgir espontaneamente neste bioma. “Quem risca o fósforo está confortável, porque está protegido pelo presidente. O governo Bolsonaro abriu mão de controlar as queimadas na Amazônia”, criticou.

Ainda segundo especialistas, a crise hídrica que o país enfrenta — e ameaça um novo problema de abastecimento de energia — pode ter origem no alto índice de desmate da Amazônia. “Metade da chuva do Centro-Oeste, Sul e Sudeste é gerada pela transpiração da floresta. Quando há desmatamento e queimadas, os mecanismos de controle do clima no País são alterados”, explicou Astrini.

Na terça-feira, Bolsonaro editou decreto que proíbe queimadas para práticas agropastoris em todo o país por 120 dias. No dia anterior, ele havia autorizado nova atuação de militares na Amazônia, com prazo até o fim de agosto. (Colaborou João Vítor Tavarez, estagiário sob a supervisão de Fabio Grecchi)

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