Os alertas de desmatamento na Amazônia em junho bateram novo recorde para o período. Dados do sistema Deter, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), mostram que a área sob alerta de desmatamento foi de 1.062 km2, a maior para o mês de junho desde o ano de 2016. Os últimos quatro meses foram de alta recorde nos alertas de desmate do bioma. De acordo com os dados divulgados ontem, o Pará foi o estado com maior área devastada em junho, com 438,4 km², o equivalente a 41% do total registrado na região durante o mês.
Até junho, há um crescimento de 17% em relação ao primeiro semestre do ano passado, com uma área de 3.610 km2 desmatada em 2021, ante 3.078 km2 no primeiro semestre de 2020, segundo dados do site Terrabrasilis, do Inpe.
A Amazônia está na estação seca, justamente quando o desmatamento se intensifica. Dados também do Inpe já mostraram alta nos focos de incêndio na região: 2.308 em junho, maior número para o mês desde 2007. A maior parte das queimadas (66,5%) foi em Mato Grosso, seguido por Pará (18,4%) e Rondônia (5,7%). As terras indígenas da região, que são áreas protegidas, tiveram 110 ocorrências de incêndio.
No fim do mês passado, o governo federal anunciou uma nova atuação de militares na Amazônia, com prazo até o fim de agosto. A medida, no modelo de Garantia da Lei e da Ordem (GLO), vale para terras indígenas, unidades federais de conservação ambiental, em áreas de propriedade ou sob posse da União, e, se pedido pelos governadores, em outras áreas dos estados do Amazonas, Mato Grosso, Pará e Rondônia.
Operação inócua
Nesta semana, o vice-presidente da República, Hamilton Mourão, afirmou que cerca de 3 mil militares das Forças Armadas serão deslocados para atuar em ações de apoio e combate ao desmatamento. Ele chegou a afirmar que, quando os militares deixaram a Amazônia no fim de abril, houve aumento do desmatamento. Especialistas fazem ressalvas sobre o uso das tropas na região, uma vez que eles não têm a mesma expertise que os agentes ambientais no combate ao desmatamento e às queimadas.
O Greenpeace Brasil afirmou que a política do governo é anti-ambiental. “O governo federal insiste em manter uma operação cara e comprovadamente ineficaz em lidar com o problema, enviando as tropas militares através da GLO, para combater o desmatamento”, criticou.
O ambientalista e cofundador do movimento Bem Viver, Thiago Ávila, disse que as políticas públicas atuais ainda seguem a lógica da eleição de 2018, que era de acabar com o Ministério do Meio Ambiente e com as políticas socioambientais. “Houve uma destruição legal e infralegal da política, subfinanciamento, perseguição de servidores, incentivo a queimadas e invasão de territórios indígenas e de povos tradicionais, liberação de madeira ilegal apreendida e muitas relações ilícitas que levaram à acusação formal do antigo ministro Ricardo Salles”, ressaltou.
Para o Observatório do Clima, a meta de chegar ao fim de julho com uma redução de cerca de mil km² de área devastada em relação ao ano de 2020 é “inaceitável”. A organização aponta que o objetivo representa um aumento de 150% em relação à meta de 3.925 km² de desmatamento fixada em 2009, na Lei da Política Nacional sobre Mudança Climática. (Colaboraram Gabriela Chabalgoity e João Vítor Tavarez, estagiários sob a supervisão de Fabio Grecchi)
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