SAÚDE

Falta de vacinas atrasa imunização de 77% da população adulta no país, mostra pesquisa

Pesquisa mostra que o atraso na compra dos fármacos fez com que aproximadamente 77% das pessoas acima de 18 anos não estejam com o ciclo de imunização completo. Ainda é preciso oferecer 190 milhões de aplicações

Maria Eduarda Cardim
Gabriela Bernardes*
postado em 23/07/2021 06:00
Para piorar o descompasso da vacinação, estados e municípios aceleram as faixas etárias de imunização e atropelam o Ministério da Saúde -  (crédito: Bárbara Cabral )
Para piorar o descompasso da vacinação, estados e municípios aceleram as faixas etárias de imunização e atropelam o Ministério da Saúde - (crédito: Bárbara Cabral )

Apesar de a vacinação contra a covid-19 ter ganhado tração, o que vem se manifestando nas reduções das médias móveis de mortes e casos registrados da doença, o atraso na compra dos fármacos faz com que aproximadamente 77% das pessoas elegíveis para tomar as doses — acima de 18 anos de idade — não estejam completamente imunizadas. Representa que o Brasil ainda precisa aplicar cerca de 190 milhões de injeções para atingir a imunização completa de toda a população adulta, de acordo com um estudo da Universidade de São Paulo (USP), em parceria com a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj).

Segundo os pesquisadores, ainda que a velocidade de crescimento da cobertura vacinal tanto com o esquema completo quanto com a primeira dose tenha aumentado consideravelmente nas últimas semanas, o ritmo ainda é insuficiente para que o país “chegue à cobertura vacinal desejável, de pelo menos 90% da população imunizada com a segunda dose, até 31 de dezembro de 2021”.
Por isso, o levantamento elaborado pelos professores Guilherme Loureiro Werneck, Ligia Bahia e Jéssica Pronestino de Lima Moreira, da UFRJ e da Uerj, e Mário Scheffer, da USP, conclui que “caso a oferta de vacinas e a velocidade de vacinação não aumentem substancialmente, a imunização completa de pelo menos 90% na população elegível (acima de 18 anos) só poderia ser alcançada no primeiro trimestre de 2022”.

Otimismo

A conclusão é contrária ao que afirma o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, que fala em imunizar toda a população brasileira com mais de 18 anos até o final deste ano. “Temos doses suficientes para o segundo semestre e é possível garantir que até o final do ano de 2021 tenhamos a nossa população inteiramente vacinada”, disse ao Correio em abril.

Na época, o ministro ainda nem contava com alguns dos problemas relatados no levantamento pelos pesquisadores. Um deles é a quantidade de idosos não imunizados. Mesmo que a vacinação de pessoas com mais de 60 anos tenha sido dada como “concluída”, e os estados e municípios tenham avançado nas faixas etárias, os dados da pesquisa — obtidos no site do OpenDataSUS, em 18/07/2021 — apontam que na população acima de 60 anos, 5% ainda não receberam qualquer dose. Pior: 31% ainda não estão completamente protegidos, com duas aplicações ou a única da Janssen.

Ao observar esse grupo com mais de 60 anos, entre os que tomaram a primeira dose, cerca de 7% (ou 2,1 milhões de cidadãos) não retornaram para receber a segunda ou ainda não tiveram sua aplicação adicional registrada no sistema. O problema vem sendo observado pelo Ministério da Saúde, que contabiliza cerca de 4 milhões de pessoas atrasadas para tomar a injeção que fecha o ciclo de imunização.

Para tornar o quadro de vacinação ainda mais irregular por conta das lacunas nas várias faixas etárias, alguns governos estaduais anunciam novas metas — como a imunização de crianças e adolescentes, de 12 a 17 anos, ainda este ano, e a aplicação de terceira dose (reforço da vacinação) para toda ou parte da população adulta vacinada. “Em todos esses cenários, a oferta de doses terá que ser muito maior do que a prevista para vacinar a população adulta em 2021”, alertam os pesquisadores.

*Estagiária sob a supervisão de Fabio Grecchi

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