Começa hoje a volta às aulas presenciais no país

Ministros da Saúde e da Educação assinam portaria da retomada do ensino público nos colégios e institutos. Protocolo para evitar a disseminação do novo coronavírus entre professores e alunos difere pouco daquele que já é adotado em locais de grande circulação

Fabio Grecchi Fernanda Strickland* Gabriela Chabalgoity*
postado em 05/08/2021 00:12
 (crédito: Walterson Rosa)
(crédito: Walterson Rosa)

O ministro da saúde Marcelo Queiroga e o ministro da educação, Milton Ribeiro, assinaram a portaria conjunta para a retomada das aulas presenciais nas instituições públicas a partir de hoje. Apesar disso, pouco há de diferente no protocolo de segurança para que o retorno de alunos e professores ao convívio nas escolas não sirva de vetor para que os casos de covid-19 voltem a aumentar — também ontem, o Brasil ultrapassou a marca dos 20 milhões de casos, registrando 20.023.533 infectados, sendo 40.716 apenas nas últimas 24 horas; os mortos pelo novo coronavírus estão 559.607.

As orientações para o retorno seguro são praticamente as mesmas que vêm sendo recomendadas há meses: higiene das mãos; distanciamento entre mesas e cadeiras; uso de máscaras e capacitação dos profissionais; utilização da máscara durante atividades físicas; criação de estoque suficiente de máscaras para as trocas durante o período de permanência na escola; manutenção de ambientes ventilados; escalonamento no horário de entrada e saída dos estudantes e nos intervalos entre as turmas; medição de temperatura de estudantes e profissionais ao chegarem à escola; evitar o uso de áreas comuns, como bibliotecas, parques, pátios e quadras; evitar ao máximo uso de materiais coletivos e compartilhamento de materiais — entre outras orientações.

“O retorno se impõe e nós não podemos mais postergar. É uma ação que transcende a ação do governo. É uma ação do Estado brasileiro. Por isso, precisamos estar juntos hoje para os alunos voltarem a ter aula”, afirmou Queiroga, que defendeu o retorno às aulas presenciais também por uma questão social. “As crianças têm sido muito penalizadas. Sabemos que o advento da tecnologia traz a possibilidade de aulas à distância, mas uma aula nunca vai suprir as aulas presenciais, sobretudo no ensino básico”, explicou.

Vacinação
Já o ministro da Educação, Milton Ribeiro, destacou que para o retorno mais seguro, os profissionais de educação passaram a fazer parte do grupo prioritário de vacinação. Segundo o Ministério da Saúde, foram enviadas doses de vacina para imunizar, com pelo menos a primeira dose, 100% dos trabalhadores da educação do ensino básico e ensino superior dos estados e do Distrito Federal. “Hoje já temos, praticamente, as vacinas necessárias distribuídas em todos os lugares, em todos os estados”, garantiu. De acordo com a pasta, mais de 3,2 milhões de profissionais da educação do ensino básico tomaram a primeira dose e mais de 594 mil estão com o ciclo vacinal completo ou tomaram a vacina de dose única.

Para a infectologista Ana Helena Germoglio, passou da hora para a retomada do ensino presencial. “Na verdade, o Brasil foi um dos poucos países no mundo onde as aulas presenciais demoraram tanto. Vários países, principalmente da Europa, mostraram para gente que mesmo retornando precocemente ainda no ano passado, após o início da pandemia, desde que tomadas as devidas precauções, é seguro retornar ao ambiente escolar”, explicou.

Segundo a Ana Helena, o ambiente escolar deve ser visto também como um ambiente não só de aprendizado, mas também um elemento que faz a roda da economia girar. “Se os outros negócios já estão liberados, não existe motivo para o ambiente escolar não estar. A gente já sabe, depois de um ano e meio, que (a covid-19) é uma doença de transmissão basicamente viral e como se pode enfrentá-la eficientemente”, disse.

 

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"Sommelier" Bolsonaro não quer chinesa

Ao voltar a dizer, ontem, que deverá ser o último a se vacinar contra a covid-19, o presidente Jair Bolsonaro disse que não tomará a CoronaVac, produzida em São Paulo pelo Instituto Butantan, e deu a entender que dará preferência aos imunizantes da Janssem, da Pfizer ou da AstraZeneca. Ele contraria a recomendação do próprio ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, que recomenda a utilização de todas as doses disponíveis no Sistema Único de Saúde (SUS) e critica os chamados “sommeliers de vacina” — gente que escolhe qual quer tomar —, que atrapalham o esquema vacinal.

“Serei o último da fila. Já que tem muita gente apavorada para tomar vacina, não é justo o chefe do Estado tomar na frente do cidadão comum. Então, eu vou ser o último da fila. Eu vou tomar uma vacina que eu possa entrar no mundo todo. Eu não posso tomar essa vacina lá de São Paulo, que não está aceita na Europa nem nos Estados Unidos. Eu viajo o mundo todo e tenho que tomar a específica aceita no mundo todo”, disse.

Segundo o Butantan, “a CoronaVac está sob análise da EMA, agência regulatória europeia, que avalia a segurança e a eficácia do imunizante. (…) O fato de ainda não haver uma resposta para a análise não significa que o imunizante não tenha sido aprovado. Não há proibição por parte do órgão para qualquer vacina”. Ainda de acordo com o instituto, em relação aos Estados Unidos, o Comitê Consultivo de Vacinas e Produtos Biológicos Relacionados do Food and Drug Administration (FDA, equivalente norte-americano à Agência Nacional de Vigilância Sanitária/Anvisa) “ainda não incluiu a análise do imunizante nas pautas de seus encontros. A vacina, portanto, não possui autorização e nem recusa do comitê”.

Em junho, Bolsonaro questionou a eficácia da CoronaVac, a mais aplicada no Brasil. No mês passado, erradamente Bolsonaro criticou a vacina, afirmando que a eficácia do imunizante “está lá embaixo”

A CoronaVac apresenta eficácia geral de 50,38% para prevenir casos da covid-19.

Doria acusa boicote na entrega de vacina

O governador João Doria disse, ontem, que o São Paulo recebeu apenas a metade das doses previstas de vacinas da Pfizer, o que deve atrasar a imunização de milhares de paulistas. Conforme disse, o estado recebeu “228 mil doses a menos do previsto da vacina da Pfizer” — ao todo seriam 456 mil. Afirmou no Twitter, ainda, que não “aceitará boicotes do governo federal” e que medidas serão tomadas para garantir a imunização da população.

“Aquilo que deveria ter sido entregue ao estado não foi. A última remessa de vacinas da Pfizer foi reduzida à metade sem nenhuma justificativa. A decisão que, como governador, qualifico como arbitrária, representa a quebra do pacto federativo. O governo federal decidiu punir quem fez o certo e foi eficiente na vacinação”, reagiu Doria.

Pelas regras do Sistema Único de Saúde (SUS), cada estado tem direito a lotes proporcionais à população local, independentemente de público-alvo da vacinação ou tipo de imunizante disponível. São Paulo, conforme estimativa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), tem uma população aproximada de 46,3 milhões de pessoas. “Assim, tem direito a 22% das vacinas entregues pelo Ministério da Saúde pelo Plano Nacional de Imunizações (PNI)”, disse o governo do estado. Um ofício foi remetido ao ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, pedindo o envio de mais 228 mil doses do imunizante em até 24 horas.

“Espero que isso não se sustente e que ministro da Saúde reveja imediatamente essa sua posição ou a posição do seu ministério e delibere a entrega imediata das 228 mi outras doses da vacina da Pfizer que não foram entregues a São Paulo”, cobrou o governador.

O Ministério da Saúde, por sua vez, informou que nenhuma unidade da Federação será prejudicada pelo envio de doses de vacinas, especialmente São Paulo. “Não há um percentual fixo de distribuição de doses por cada estado. Esse percentual evolui à medida em que cresce o Programa Nacional de Imunização”, justificou Rodrigo Cruz, secretário-executivo do Ministério da Saúde.

*Estagiários sob a supervisão de Fabio Grecchi

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