Até 2100, os altos níveis de calor gerado pelo desmatamento da Amazônia, associado a mudanças climáticas, serão fisiologicamente intoleráveis a 11 milhões de pessoas no Norte do Brasil. Além disso, a sensação térmica no Centro-Oeste e parte do Sudeste brasileiro poderá subir até 4,5 graus em 14 anos. As previsões estão em uma pesquisa conjunta da Fiocruz, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), e do Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo (IEA/USP) publicada ontem na revista britânica Nature.
Segundo o estudo, num ambiente de savanização da Amazônia, milhares de pessoas poderão estar expostas ao risco de não serem mais capazes de manter a temperatura corporal. De acordo com a pesquisadora da Fiocruz Piauí Beatriz Oliveira, uma das responsáveis pelo levantamento, o aumento da temperatura global gera um estresse por calor e pode ser fatal para determinados públicos. “Há implicações diretas em atividades laborais, aumento de internação de crianças e idosos, com vários sintomas, incluindo a morte. Os praticantes de esportes de alto rendimento também serão afetados”, afirmou.
“A humanidade continua emitindo gases do efeito estufa desenfreadamente. Contudo, o cenário é reversível no longo prazo, mas requer mudança global, mudanças das matrizes energéticas e reflorestamento. As mudanças climáticas estão aí e afetam totalmente as florestas, que funcionam como um regulador hidrológico, regulando a temperatura e a chuva. Se não tivéssemos florestas, o calor aumentaria três vezes mais. Nesse sentido, quem sofre mais ainda são as pessoas de baixa renda. Não existe vacina para o calor, existem ações”, afirmou Paulo Nobre, responsável pela pesquisa.
Amazônia
O desmatamento da Amazônia é a principal causa dos incêndios no bioma. Porém, o efetivo para combater as chamas é baixo. Por conta disso, o Centro Gestor e Operacional do Sistema de Proteção da Amazônia (Censipam), órgão do Ministério da Defesa, decidiu criar o Painel do Fogo.
A iniciativa, lançada nesta semana, consiste em detectar os focos de calor por meio de satélites e separar o grau de prioridade para combater os incêndios. A plataforma é a principal aliada dos bombeiros que precisam escolher qual incêndio apagar primeiro, devido ao baixo número de homens na corporação.
Segundo o coordenador operacional do Corpo de Bombeiros Militar de Rondônia, tenente-coronel Tadeu Sanches, são apenas 223 policiais militares, bombeiros militares e voluntários dedicados ao combate a incêndios florestais no estado.
O militar ainda destacou que a escolha do local se dá por conta dos pequenos focos de calor. “Pequenas queimadas podem se extinguir naturalmente. Devemos escolher, deslocar uma grande equipe para atacar apenas os maiores incêndios”, disse.
Para a pesquisadora do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM) e do Woodwell Climate Research Center Ludmilla Rattis, é preciso pensar em ações mais ativas do que reativas. “A plataforma é necessária. Contudo, o problema deve ser combatido antes mesmo de ser feito o estrago. Os governantes devem se mobilizar e entender o bioma. Investir em energia renovável e não insistir em construir hidrelétricas na Amazônia, pois ela tem suas próprias características e não permite a exploração desenfreada. Somente assim, haverá um combate efetivo ao desmatamento e às queimadas”, disse.
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