Altas consecutivas no preço do óleo diesel e falta de diálogo com o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) levaram caminhoneiros a decretarem estado de greve e a ameaçarem parar o país. Após paralisações nos meses de julho e setembro, representantes da categoria anunciam greve geral a partir de 1º de novembro. Os trabalhadores cobram soluções para a pauta de reivindicações apresentada há três anos e, segundo eles, até o momento, ignorada pelo Palácio do Planalto.
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Apesar de grupos ainda se manterem fiéis a Bolsonaro, o racha é evidente porque, entre as principais lideranças, há um crescente descontentamento com as promessas não cumpridas pelo chefe do Executivo.
A decisão de desligar os motores foi divulgada no fim de semana pelo presidente do Sindicato dos Transportadores Rodoviários Autônomos de Bens da Baixada Santista e Vale do Ribeira (Sindicam), Luciano Santos, durante assembleia no 2º Encontro Nacional dos Caminhoneiros Autônomos e Celetistas. O encontro foi realizado no sábado, no Rio de Janeiro.
“Se não houver resposta concreta (do governo) em cima dos direitos dos caminhoneiros autônomos, no dia 1º de novembro o Brasil todo (ficará) parado, principalmente, em Santos”, disse Luciano Santos, em pronunciamento no encerramento de encontro nacional da categoria, conforme vídeo enviado ao Broadcast Agro. “Tem de haver resposta concreta para o caminhoneiro. A resposta está na mão do governo”, completou o presidente do Sindicam.
No mesmo ato, também foi estabelecido o “estado de greve” e uma eventual paralisação no Porto de Santos, o maior do país. “Estado de greve significa dizer para o governo Bolsonaro que o prazo de três anos que ele teve para desenvolver e melhorar a vida do transportador autônomo não foi cumprido. Ainda serão dados mais 15 dias para que a pauta de reivindicações seja aplicada para os caminhoneiros”, afirmou também, em discurso no evento, o diretor da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Transportes e Logística (CNTTL), Carlos Alberto Litti Dahmer.
No pronunciamento, Litti disse que a pauta da categoria já é de conhecimento “há muito tempo” do ministro de Infraestrutura, Tarcísio de Freitas, e do governo Bolsonaro. “A categoria passa por momento de dificuldade nunca visto, como em três anos de desgoverno Bolsonaro. É esse chamamento que tem respaldo de 1 milhão de trabalhadores e da sociedade, que virá conosco”, afirmou.
Reivindicações
A discussão de uma possível paralisação não estava na agenda do encontro. De acordo com a Agência Estado, a pauta original tratava “da unificação da categoria, e em busca de melhorias para o setor de transporte de cargas e logística brasileiro”.
Entre as reivindicações dos caminhoneiros, destacam-se itens como o cumprimento do valor mínimo do frete rodoviário, a aposentadoria especial para a categoria (aos 25 anos de trabalho) e a mudança na política de preços da Petrobras para reduzir a flutuação do diesel. Oficialmente, o governo não comentou o assunto.
A estratégia dos líderes da categoria tem sido subir o tom. “Serei o primeiro (a parar em 1º de novembro)”, disse o presidente da Associação Brasileira dos Condutores de Veículos Automotores (Abrava), Wallace Landim, conhecido como Chorão, um dos organizadores do movimento.
Caso a paralisação de 1º de novembro se confirme, será o primeiro movimento em conjunto dessas entidades desde a greve de maio de 2018. Desde outubro daquele ano, a categoria é considerada base eleitoral do governo Bolsonaro. Com o exercício do governo, contudo, caminhoneiros passaram a não demonstrar consenso sobre os rumos do movimento e quanto à pauta da categoria.
O encontro foi organizado pela Abrava, pelo Conselho Nacional do Transporte Rodoviário de Cargas (CNTRC) e pela CNTTL. Segundo as lideranças, o encontro contou com a presença de sindicatos, cooperativas e federações de todo o país.
Segundo informações da Agência Estado, os representantes descartam uma ruptura formal com o governo Bolsonaro e dizem que o movimento é apartidário, apesar da forte presença da categoria na mobilização convocada no dia 7 de Setembro pelo presidente. “O movimento não é contra ou a favor desta gestão. Há muitos caminhoneiros que acreditam no governo Bolsonaro. Outros não concordam com a gestão”, afirmou Chorão.
“Não estamos levantando pauta partidária. A pauta é a sobrevivência da categoria. Se o governo realmente quiser ajudar os caminhoneiros do Brasil, iremos apoiar as medidas”, disse Dias, do CNTRC. Considerados base eleitoral de Bolsonaro, os caminhoneiros expressam insatisfação com o acúmulo de medidas anunciadas e não cumpridas. “São três anos de governo e não foi feito nada para a categoria, apenas falácias e promessas”, acrescentou Dias.
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