PANDEMIA

Com vacinação, Brasil tem melhor cenário pandêmico, mas precisa manter cuidados

Apesar de reconhecer que algumas flexibilizações podem ser feitas, especialistas alertam que o momento ainda é de cautela já que a pandemia ainda não acabou

Maria Eduarda Cardim
Bernardo Lima*
postado em 24/10/2021 06:00
 (crédito: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)
(crédito: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)

Pouco mais de 10 meses depois da primeira aplicação da vacina contra a covid-19 em território nacional, o Brasil completou a imunização de metade da população brasileira. Graças a esse feito, questionado pelo próprio presidente da República, Jair Bolsonaro, ainda em janeiro deste ano, o país consegue viver atualmente o melhor momento da pandemia desde o surgimento do novo coronavírus. Apesar de reconhecer que algumas flexibilizações podem ser feitas, especialistas alertam que o momento ainda é de cautela já que a pandemia ainda não acabou.

A médica Lígia Bahia, doutora em Saúde Pública pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), ressalta que ainda há indagações quanto ao vírus, como o surgimento de novas variantes, a duração da imunidade das vacinas e outros pontos. “A gente tem uma luz no fim do túnel, mas temos um túnel para ser atravessado. Temos um monte de indagações que precisam ser respondidas, mas, de qualquer maneira, é importante dizer que esse cenário epidemiológico é o mais favorável que nós já tivemos durante a pandemia”, frisa.

No entanto, ela lembra que o caminho até a imunização de metade da população brasileira foi longo. Foram necessários 10 meses para atingir 50% dos brasileiros com o esquema vacinal completo (veja na arte). “Nós chegamos a duras penas a esse momento, porque tivemos uma velocidade de vacinação muito lenta”, relembra. O atraso na compra de vacinas e na importação de insumos necessários para produzir os imunizantes no Brasil foram alguns dos fatores que prejudicaram o ritmo de vacinação.

Para a médica pneumologista e pesquisadora da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) Margareth Dalcolmo, o país não chegou a alcançar o ritmo desejável de vacinação. “Estamos em um momento em que alcançamos um ritmo de vacinação perto do desejável. Desejável teria sido vacinar 2 milhões de pessoas a cada dia no Brasil, e nós não tivemos, de início, vacinas suficientes para isso”, pondera.

A especialista explica que o patamar de 80% da população brasileira totalmente vacinada, junto com a queda de outros índices — como as hospitalizações e mortes — é que vão dar um grau maior de segurança para a retomada das atividades. A doutora em saúde pública Lígia Bahia concorda. “A gente sabe que, hoje, temos que ter uma cobertura de pelo menos 75% da população para evitar o que aconteceu em outros países, que enfrentaram repiques”, alerta.

Por ainda não ter chegado a esse patamar, o país precisa de cautela na retomada das atividades. “O cenário em que estamos não autoriza o retorno indiscriminado das atividades, como grandes eventos, abolição do uso de máscaras em ambientes fechados, anúncios de carnaval. Essa adaptação tem que ser realizada aos poucos”, indica Lígia Bahia.

Contaminação

O epidemiologista e vice-coordenador da Sala de Situação da Universidade de Brasília, Mauro Sanchez, reforça a necessidade de continuar a tomar os cuidados necessários para evitar contaminação, mesmo com o esquema vacinal completo contra covid-19. “As vacinas disponíveis não são 100% eficazes contra a contaminação, então, as pessoas continuarão podendo se contaminar e transmitir o vírus”.

Mauro Sanchez acrescenta que o principal papel da vacina é diminuir o número de quadros fatais da doença. “Agora, a vacina veio, sim, para evitar os casos mais agudos, diminuindo o risco de morte.” Porém, se ainda existe a possibilidade de contágio, alerta, o relaxamento exagerado das medidas restritivas pode levar à grande circulação do vírus, o que contribuiria para proliferação de novas variantes. “Quanto mais o vírus circular pelo país, com o relaxamento de medidas sanitárias, maior a chance de novas variantes aparecerem por aqui. Então, o ideal seria que as pessoas continuassem evitando aglomerações.”

Confira o histórico de vacinação no Brasil
Confira o histórico de vacinação no Brasil (foto: CB/DAPRESS)

Em queda

A incidência da covid-19 continua diminuindo no país. Segundo o Ministério da Saúde, foram registrados 11.716 novos casos da doença nas últimas 24 horas, o que elevou o total, desde o início da pandemia, para 21.723.559. Foram notificadas, ainda, 318 mortes, que somam, agora, 605.457. Nos dois casos, os números revelam queda. No caso das mortes, a média diária está 23% abaixo do verificado há duas semanas, e foi o 12º dia seguido em que os óbitos ficaram abaixo de 400. De acordo com o ministério, 109,2 milhões de brasileiros completaram o ciclo vacinal, ou 51,2% da população.

Variante do vírus avança em Belém

Uma subvariante delta do novo coronavírus, que pode não ser detectada em testes rápidos, tem circulado de forma cada vez mais intensa em Belém, no Pará. A informação foi confirmada pela Secretaria Municipal de Saúde (Sesma), após sequenciamento de 16 amostras do vírus SARS-CoV-2 obtidas de pacientes na capital paraense, informa a Agência Brasil.

“Nessas análises a Sesma detectou uma uma subvariante delta, a AY.33, circulando em Belém e que pode não ser detectada por testes rápidos e pelos protocolos padrões de RT-qPCR”, informou, em nota, a secretaria.

Segundo a Secretaria de Saúde do município, subvariante da delta não pode ser confirmada por testes rápidos
Segundo a Secretaria de Saúde do município, subvariante da delta não pode ser confirmada por testes rápidos (foto: Guillaume Souvant / AFP - 9/9/21 )

Diante da constatação, a prefeitura local está orientando que qualquer pessoa que apresente sintomas compatíveis com covid-19 fique em isolamento social por 14 dias. Na nota divulgada pela Sesma, foram apresentados resultados de análises feitas desde julho, que revelaram uma inversão das variantes identificadas.

Em julho e agosto, dos 1.612 casos de covid-19 notificados em Belém, foram enviadas, para sequenciamento, 72 (4%) amostras de pacientes sintomáticos que apresentaram RT-qPCR positivo. Desses casos, 84,7% foram provocados pela variante gamma, enquanto os casos da variante delta representaram 9,7%.

Dos 332 casos notificados em setembro, 24 (7%) dos pacientes sintomáticos tiveram resultado positivo no RT-qPCR. Desses, 50% foram casos provocados pela variante delta e 50% dos pacientes haviam sido infectados pela variante gamma do vírus.

Nos primeiros 20 dias do mês de outubro, foram notificados 152 casos. As 20 amostras genotipadas (13%) revelaram uma inversão, com a predominância da variante delta, responsável por 75% dos casos, enquanto a variante gamma foi identificada em 25% das análises.

“Diante desse cenário, se faz necessário que a população siga com as medidas de prevenção e controle como: isolamento domiciliar da pessoa que estiver com suspeita ou em período de transmissão da doença, lavagem frequente das mãos com água e sabão e/ou álcool em gel, além do uso obrigatório de máscara e manter o distanciamento social”, informou a Sesma.

* Estagiário sob a supervisão de Odail Figueiredo




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  • Segundo a Secretaria de Saúde do município, subvariante da delta não pode ser confirmada por testes rápidos
    Segundo a Secretaria de Saúde do município, subvariante da delta não pode ser confirmada por testes rápidos Foto: Guillaume Souvant / AFP - 9/9/21
  • Confira o histórico de vacinação no Brasil
    Confira o histórico de vacinação no Brasil Foto: CB/DAPRESS

Em queda

A incidência da covid-19 continua diminuindo no país. Segundo o Ministério da Saúde, foram registrados 11.716 novos casos da doença nas últimas 24 horas, o que elevou o total, desde o início da pandemia, para 21.723.559. Foram notificadas, ainda, 318 mortes, que somam, agora, 605.457. Nos dois casos, os números revelam queda. No caso das mortes, a média diária está 23% abaixo do verificado há duas semanas, e foi o 12º dia seguido em que os óbitos ficaram abaixo de 400. De acordo com o ministério, 109,2 milhões de brasileiros completaram o ciclo vacinal, ou 51,2% da população

Variante do vírus avança em Belém

 (crédito: Guillaume Souvant / AFP - 9/9/21 )
crédito: Guillaume Souvant / AFP - 9/9/21

Variante do vírus avança em Belém

Uma subvariante delta do novo coronavírus, que pode não ser detectada em testes rápidos, tem circulado de forma cada vez mais intensa em Belém, no Pará. A informação foi confirmada pela Secretaria Municipal de Saúde (Sesma), após sequenciamento de 16 amostras do vírus SARS-CoV-2 obtidas de pacientes na capital paraense, informa a Agência Brasil.

“Nessas análises a Sesma detectou uma uma subvariante delta, a AY.33, circulando em Belém e que pode não ser detectada por testes rápidos e pelos protocolos padrões de RT-qPCR”, informou, em nota, a secretaria.

Diante da constatação, a prefeitura local está orientando que qualquer pessoa que apresente sintomas compatíveis com covid-19 fique em isolamento social por 14 dias. Na nota divulgada pela Sesma, foram apresentados resultados de análises feitas desde julho, que revelaram uma inversão das variantes identificadas.

Em julho e agosto, dos 1.612 casos de covid-19 notificados em Belém, foram enviadas, para sequenciamento, 72 (4%) amostras de pacientes sintomáticos que apresentaram RT-qPCR positivo. Desses casos, 84,7% foram provocados pela variante gamma, enquanto os casos da variante delta representaram 9,7%.

Dos 332 casos notificados em setembro, 24 (7%) dos pacientes sintomáticos tiveram resultado positivo no RT-qPCR. Desses, 50% foram casos provocados pela variante delta e 50% dos pacientes haviam sido infectados pela variante gamma do vírus.

Nos primeiros 20 dias do mês de outubro, foram notificados 152 casos. As 20 amostras genotipadas (13%) revelaram uma inversão, com a predominância da variante delta, responsável por 75% dos casos, enquanto a variante gamma foi identificada em 25% das análises.

“Diante desse cenário, se faz necessário que a população siga com as medidas de prevenção e controle como: isolamento domiciliar da pessoa que estiver com suspeita ou em período de transmissão da doença, lavagem frequente das mãos com água e sabão e/ou álcool em gel, além do uso obrigatório de máscara e manter o distanciamento social”, informou a Sesma.

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