CB.PODER

Governo erra ao prejudicar as pesquisas

Gabriela Bernardes*
postado em 26/10/2021 00:28
 (crédito: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)
(crédito: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)

O Brasil não foi na direção contrária do mundo no enfrentamento da pandemia apenas porque o governo federal desestimulou a vacinação contra a covid-19 em nome de um suposto tratamento contra o novo coronavírus; ou porque se manifestou contrariamente ao isolamento social na fase mais aguda da doença. O repúdio à ciência aconteceu porque reduziu vertiginosamente os investimentos em pesquisa. A crítica é da secretária regional da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) Sônia Báo, externada na entrevista de ontem ao CB.Poder — parceria entre o Correio e a TV Brasília.

“A gente tem um momento sui generis, no qual a ciência mostrou que foi a solução para resolver a pandemia da covid-19. Foi por meio da ciência que conseguimos dar os primeiros passos para superar essa pandemia. E isso está acontecendo de uma forma relativamente rápida, se pensarmos em outras pandemias que o mundo já teve. Em menos de dois anos, temos a população sendo vacinada, caindo o índice de morte e de contaminação — e isso é muito bom. Mas, paralelamente a isso, há grande cortes no ecossistema que sustenta a pesquisa de tecnologia e inovação no país”, comentou Sônia, que é professora da Universidade de Brasília (UnB).

No início do mês, a pedido do Ministério da Economia, o Congresso aprovou projeto que retirou R$ 600 milhões que seriam destinados ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações para serem investidos em pesquisas e desenvolvimento de novas tecnologias. Segundo Sônia, os cortes surpreenderam os pesquisadores e atrapalham o desenvolvimento do país.

“Os cortes do FNDCT (Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) foram, realmente, surpreendentes. A comunidade acadêmica e científica não esperava. Estava tudo articulado que haveria recursos para os editais do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) e para a manutenção das bolsas da Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) para garantir que esse ecossistema continuasse formando gente e apresentando resultados, que é o que precisamos para desenvolver o país econômica e socialmente”, lamentou.

Além da redução de verbas, Sônia ainda lamenta os impactos que a pandemia trouxe para a educação no país. De acordo com a professora, os efeitos das escolas fechadas afetarão toda uma geração.

“Continuo recebendo estudantes das áreas de saúde e das áreas de engenharia, mas, nos primeiros semestres, não estou conseguindo ter, em função da situação, aulas experimentais. Considero que a gente terá uma geração que vai ter que superar essas janelas na educação. Acho que tanto as instituições como os próprios indivíduos vão ter que fazer um esforço a mais para superar essas falhas que ficaram do ano passado para cá.”, alertou.

*Estagiária sob supervisão de Fabio Grecchi


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