MEIO AMBIENTE

Na contramão do mundo, Brasil polui mais e números não mentem

Monitoramento indica que, em 2020, o Brasil aumentou a emissão de gases nocivos à atmosfera. O país é o quinto maior poluidor do planeta

Gabriela Chabalgoity*
postado em 29/10/2021 09:01
 (crédito:  Luis Nova/Esp. CB/D.A Press)
(crédito: Luis Nova/Esp. CB/D.A Press)

Em direção oposta ao que é visto no mundo, em 2020, o Brasil aumentou as emissões de gases do efeito estufa, em relação ao ano anterior. De acordo com o Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa (SEEG), do Observatório do Clima, o país registrou um aumento de 9,5% nas emissões, enquanto o planeta, no mesmo período, obteve uma queda de quase 7%. Na avaliação de especialistas, o Brasil entrou na contramão do meio ambiente em razão da alta no desmatamento da Amazônia e do cerrado.

O Brasil emitiu 2,16 bilhões de toneladas de CO2 equivalente (GtCO2e), em 2020. No ano anterior, a quantidade de emissões chegou a 1,97 bilhão de toneladas, segundo o Observatório do Clima. O volume de gases poluentes lançados à atmosfera em 2020 foi o maior desde 2006.

Só na Amazônia, foram 782 toneladas de CO2e emitidas. Com esse volume, a floresta se torna uma das maiores fontes de emissão do planeta. No cerrado, foram 113 milhões de toneladas de CO2e. Se os dois biomas juntos formassem um país, seria o oitavo maior emissor de poluentes do mundo.

Segundo o Observatório do Clima, o Brasil é o quinto país mais poluidor em relação às emissões globais. É superado por China, Estados Unidos, Rússia e Índia. A média mundial de emissões foi de 6,7 toneladas brutas, enquanto a do Brasil foi de 10,2 toneladas.

O coordenador geral do MapBiomas, Tasso Azevedo, alerta que é impossível evitar que a temperatura global aumente 1,5°C sem o esforço do Brasil e de outros países poluidores no controle de emissão de gases. “O Brasil precisa entrar em uma redução de emissões, e não de aumento”, ressaltou.

As mudanças no uso da terra, agricultura e setor de resíduos foram setores da economia que registraram alta nas emissões. O setor da energia foi marcado por uma queda, enquanto que os processos industriais ficaram estável. Segundo o relatório, o setor energético teve uma redução de 4,6% devido à recessão e ao isolamento social no primeiro semestre de 2020, que derrubaram o consumo de gasolina no transporte de passageiros. O consumo de eletricidade foi na contramão da energia, e teve um aumento de 0,5% nas emissões, considerado pelos especialistas, estável.

O setor de agropecuária aumentou em 2,5% as emissões e teve a maior elevação percentual desde 2010. Segundo os pesquisadores, o incremento foi influenciado pelo consumo de carne. Com mais gado no pasto, mais metano foi emitido pelo rebanho. As emissões no setor de resíduos subiram 1,6%, por conta do tratamento de efluentes domésticos e pelo aumento na geração de resíduos sólidos durante a pandemia.

O socioambientalista Thiago Ávila explica o perfil dos países geradores de mais poluição. Ele observa que as economias costumam ter cerca de 70% de suas emissões a partir dos setores de energia e transporte. No caso do Brasil as emissões são fruto do avanço descontrolado do agronegócio. “A derrubada e a queima das florestas (que emite dióxido de carbono), a pecuária de alta intensidade (que emite metano) e a monocultura de commodities para exportação (que emite óxido nitroso em seus fertilizantes industriais) representam 70% das emissões no Brasil. A forma como foi conduzida a questão ambiental e o desmonte de suas políticas “passou a boiada” nos biomas do país com recordes de desmatamento e queimadas, trouxeram graves consequências à luta contra a emergência climática”, disse.

 

Tendências graves

Duas tendências preocupam os especialistas. A primeira é que o Brasil está indo na direção oposta da redução de emissões desde 2010, quando foi regulamentada a Política Nacional sobre Mudança do Clima (PNMC), que estabeleceu a primeira meta doméstica de redução de emissões do Brasil. A segunda tendência é que o aumento nas emissões coloca o Brasil em desvantagem para o ano de 2021, quando se inicia o período de cumprimento da Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC), a meta brasileira no acordo de Paris.

De acordo com o relatório divulgado pelo Observatório do Clima, em 2020, o país ficou mais pobre e poluiu mais. Mesmo com a retração de 4,1% do PIB, as emissões de gases de efeito estufa sofreram uma aceleração, a maior alta percentual desde 2003.

No dia 31, na Escócia, o mundo vai discutir o futuro ambiental do planeta na COP26, Conferência das Nações Unidas para a Mudança no Clima. Os especialistas acreditam que o Brasil terá pouco a contribuir. “O Brasil, pelo que mostrou esta semana, vai levar um Plano de Desenvolvimento Verde, vazio, sem metas, sem objetivos, sem recursos. O Brasil não tem o que levar. Quem está levando é a sociedade civil, o setor empresarial, que está levando uma série de iniciativas”, criticou Tasso Azevedo.

* Estagiária sob a supervisão de Carlos Alexandre de Souza

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