TRAGÉDIA

Exames complementares do IML ficam prontos em até 15 dias

As peças que se soltaram e os restos do avião que transportava Marília Mendonça passarão por uma análise mais detalhada no Aeroporto Tom Jobim (Galeão), no Rio de Janeiro

Depois da comoção provocada pela morte da cantora sertaneja Marília Mendonça e de outras quatro pessoas que estavam com ela no avião que caiu na sexta-feira em Piedade de Caratinga, no Vale do Rio Doce, em Minas Gerais, a semana começa com muitas perguntas a serem respondidas sobre o que causou a tragédia. Ontem, o Instituto Médico-Legal (IML) de Belo Horizonte informou que deve concluir dois exames complementares às investigações — anatomopatológico e toxicológico — em até 15 dias, a partir de amostras colhidas nos corpos das vítimas. Ambos são feitos rotineiramente em casos de acidentes, segundo o IML. Em outra vertente das apurações, o avião e as peças que se soltaram, retirados ontem do local do acidente, passarão por uma análise mais detalhada no Aeroporto do Galeão (Rio), para onde a aeronave se dirigia quando caiu.

No IML, os exames são feitos com amostras de material biológico extraídos das cinco vítimas. O médico legista e assessor da diretoria do instituto, José Roberto de Rezende Costa, explicou que os trabalhos são complementares à investigação que caminha com a Polícia Civil, em conjunto com o Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa). "Foi com profunda tristeza que nós recebemos a notícia do acidente em que a cantora e outras pessoas vieram a óbito em Caratinga e, desde então, estamos trabalhando", lamentou José Roberto sobre a morte de Marília Mendonça; o tio e assessor da cantora, Abicieli Silveira Dias Filho; o produtor Henrique Ribeiro; o piloto Geraldo Martins de Medeiros; e o copiloto Tarciso Pessoa Viana.

"Alguns exames que são necessários para complementar a investigação estamos fazendo aqui e num prazo de 10 a 15 dias esperamos que já tenhamos respostas para anexar ao caso", disse o médico-legista, ressaltando que não há detalhes sobre as outras vertentes do inquérito. "Fazemos apenas o trabalho de perícia, mas as autoridades estão colhendo todas informações necessárias", garantiu.

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Processo investigativo

Um dos exames realizados em BH é o anatomopatológico. O objetivo é analisar fragmentos de tecido ou órgão para saber se a vítima já tinha enfermidade prévia ou se traumas foram exclusivamente gerados pela colisão. A médica legista e anatomopatologista Vanessa Marinho explica que esse trabalho faz parte do processo investigativo de qualquer acidente. "Podemos identificar até se a pessoa sofreu algum AVC (acidente vascular cerebral). É um exame pericial complementar. Para entender a causa da morte, é preciso associar todos os fatores da investigação", acrescentou.

O outro exame é realizado com dois equipamentos modernos, que fazem a separação química do material biológico em investigação, capazes de esclarecer se havia álcool ou alguma toxina (drogas) no corpo das vítimas. "O exame toxicológico pode ajudar a entender as circunstâncias da morte", reforçou Sandro Chaves, perito criminal toxicologista do IML. Segundo ele, este é um procedimento comum em todos os acidentes e sua realização não significa que a polícia trabalha com a hipótese de que isso tenha influenciado na causa da queda do avião. "Não existe uma suspeita a princípio. Em todos os casos de acidentes, todas as vítimas são analisadas", reforçou o perito.

Assim que os exames ficarem prontos, num prazo previsto de até 15 dias, os resultados serão entregues aos legistas, que devem reunir outras frentes da investigação e apontar um lado que ajude a compreender a causa das mortes e do acidente em até 30 dias.

Avião removido

Depois de ter sido retirado da cachoeira do Córrego do Lage, em Piedade de Caratinga, o avião que caiu provocando a morte da "rainha da sofrência" foi transportado em um caminhão para o pátio de empresa de socorro mecânico, em Caratinga. A previsão inicial era de que a aeronave fosse levada para o Aeroporto de Ubaporanga, mas o caminhão que fez o transporte seguiu pela BR-116, passou pela estrada de acesso ao aeroporto e chegou até a empresa de socorro mecânico, estacionando nos fundos da empresa. Os destroços da aeronave estavam cobertos por uma lona azul.

O Cenipa não informou o motivo da remoção da aeronave para o pátio da empresa, mas segundo o tenente-coronel Oziel Silveira, do Serviço Regional de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Seripa III), órgão do Cenipa, a sequência das investigações será feita no Aeroporto de Ubaporanga, a partir de hoje.

A aeronave pertence à PEC Táxi Aéreo, sediada em Goiânia, e tinha autorização para operar em regime de fretamento, segundo a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac). Depois dos trabalhos periciais no local, a retirada começou na manhã de ontem e foi concluída à tarde. Uma empresa especializada nesse tipo de remoção ficou responsável pela operação. Um caminhão equipado com um guindaste içou o avião usando cabos de aço até uma estrada que passa no alto da região em que fica a cachoeira onde o aparelho caiu, num condomínio na zona rural de Piedade de Caratinga.

Depois de transferido para o Aeroporto de Ubaporanga, que fica próximo de Caratinga, onde a cantora faria um show na sexta-feira do trágico acidente, o avião vai ser levado para o Rio e ficar isolado, com outras peças que se desprenderam durante a queda. A transferência permite que a vistoria seja feita com mais tranquilidade, já que o local da queda, sobre pedras escorregadias da cachoeira, oferecia risco para os militares.

A investigação da Aeronáutica

» Não aponta culpados e não tem implicações judiciais. Esse trabalho é da autoridade policial.

» A investigação de acidente aeronáutico, no mundo, é um procedimento paralelo e independente, feito por órgão especializado, unicamente para a prevenção de novas ocorrências e melhoria da segurança de voo.

» Não tem o propósito de determinar culpa ou responsabilidade.

Formação básica da Comissão de Investigação

» Investigador-encarregado

Responsável pela organização, condução e controle da investigação, de acordo com a legislação em vigor. Pode acumular a função responsável pelo fator operacional.

» Fator Operacional

Área responsável pela investigação de aspectos referentes ao desempenho do ser humano na atividade relacionada com o voo.

Inclui as seguintes áreas:

meteorologia, infraestrutura, instrução, manutenção, aplicação dos comandos da aeronave, tráfego aéreo, coordenação de cabine, julgamento da tripulação, deficiência de pessoal, deficiência de planejamento, deficiência de supervisão, indisciplina de voo, influência do meio ambiente e experiência de voo na aeronave, entre outros.

Fator material

» Área responsável pela abordagem da segurança de voo da aeronave nos aspectos de projeto, fabricação e de manuseio de material. Não inclui os serviços de manutenção de aeronave.

Fator humano

» Aspectos médico e psicológico que possam ter refletido nas ações da tripulação e demais pessoas envolvidas no acidente.

Cantor acompanha

A remoção do avião envolvido no acidente que matou Marília Mendonça foi acompanhada pelo cantor Juliano, que integra a dupla Henrique & Juliano, amigos da "Rainha da Sofrência". Ele foi a Caratinga em seu jatinho e pousou no Aeroporto de Ubaporanga. Juliano evitou gravar entrevistas. Sobrevoou a área onde aconteceu o acidente em um helicóptero e deixou a região de Caratinga por volta das 16h.