JULGAMENTO

Boate Kiss: Ex-funcionária acusa donos de fazerem reformas que tornaram local inseguro

Durante o depoimento, ela disse que "com todas as coisas que eles fizeram, elevação do palco, instalação de espuma, eles tentaram nos matar"

Gabriela Chabalgoity*
Bernardo Lima*
postado em 02/12/2021 06:00
 (crédito:  Reprodução/Twitter)
(crédito: Reprodução/Twitter)

No primeiro dia do julgamento da tragédia da boate Kiss, a ex-funcionária Kátia Giane Pacheco acusou os donos da casa de espetáculos de fazerem várias reformas que tornaram o local inseguro para todos que o frequentavam. Durante o depoimento, ela disse que “com todas as coisas que eles fizeram, elevação do palco, instalação de espuma, eles tentaram nos matar”. A tragédia em Santa Maria (RS), há nove anos, provocou a morte de 242 pessoas.

Questionada sobre as orientações recebidas pela gerência da Kiss para a utilização de artigos pirotécnicos, Kátia assegurou que não recebeu instruções. “Só havia orientação para os meninos que carregavam o balde com espumantes e o fogo, que foram instruídos a carregar bem alto para não derrubar”, destacou.

Além disso, Katia não teve seus direitos trabalhistas assegurados. “Eu não tinha carteira assinada, eu tive que recorrer aos meus direitos trabalhistas na Justiça. Não recebi esses valores. O meu processo foi finalizado em novembro de 2019, se eu não me engano, e eu não recebi nada”, cobrou.

Segundo ela, logo que saiu do hospital, fez tratamento psicológico e psiquiátrico. “Me vinham as lembranças, uma crise de choro. Quando me perguntavam o que eram as queimaduras no braço, eu falava que foi só um acidente. Agora, o que voltou a me preocupar foi ter que testemunhar e relembrar”, desabafou.

Sobre a sessão de ontem, o advogado Pedro Barcellos, que representa a Associação dos Familiares de Vítimas e Sobreviventes da Tragédia de Santa Maria, afirmou que foi esclarecedora. “A acusação deixou clara a autoria e materialidade do caso. E tentamos cada vez mais, e vamos continuar tentando deixar claro que os réus praticaram o fato criminoso e que eles sejam condenados conforme determine os rigores da lei”, observou.

Também na sessão de ontem, foram sorteados os sete jurados que comporão o júri. Serão seis homens e uma mulher, que deverão permanecer incomunicáveis até o fim do julgamento. O juiz-presidente do caso é Orlando Faccini Neto, titular do 2º Juizado da 1ª Vara do Júri da Comarca de Porto Alegre — para onde o julgamento foi levado a pedido dos advogados de defesa dos réus, por considerarem que se acontecesse em Santa Maria o resultado poderia não ser justo.

Os réus são os sócios da boate, Elissandro Spohr e Mauro Hoffmann, além do vocalista da banda Gurizada Fandangueira, Marcelo de Jesus dos Santos, e do produtor musicial Luciano Bonilha Leão. Todos respondem por homicídio simples, com dolo eventual — quando se assume o risco de matar. A expectativa é de que o julgamento dos quatro dure pelo menos 15 dias. No total, serão inquiridas 19 testemunhas, já que uma delas é comum a duas defesas.

*Estagiários sob a supervisão de Fabio Grecchi

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