Passageiros à própria sorte

Apenas 7 meses após começar as operações, Ita cancela voos e gera caos em aeroportos. Anac suspende licença da companhia

Samara Schwingel Tainá Andrade
postado em 19/12/2021 00:01
 (crédito: Minervino Júnior/CB/D.A.Press)
(crédito: Minervino Júnior/CB/D.A.Press)

Cerca de sete meses após iniciar a venda de passagens aéreas, a Itapemirim Transportes Aéreos (ITA) anunciou a paralisação temporária das atividades e suspendeu todos os voos. Segundo o sistema de registros da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), a empesa tinha 514 voos marcados até o fim do ano. Ontem, 30 foram cancelados. Os principais destinos eram Rio de Janeiro, Brasília, Recife e Salvador.

Os passageiros foram pegos de surpresa com a medida, anunciada a poucos dias do Natal, período em que o movimento é maior. Com a confusão nos aeroportos, a agência oficiou a empresa para a imediata interrupção da venda de passagens e suspendeu a licença de operação da companhia. Em nota divulgada à imprensa, a ITA informou que trabalha para mitigar os efeitos causados aos clientes. De acordo com estimativas do setor, pelo menos 40 mil pessoas podem ficar impossibilitadas de voar até o fim do ano por falta de lugar em outras empresas aéreas.

Desde o início das operações, a ITA enfrentava dificuldades. Apesar disso, em abril, o presidente da empresa, Sidnei Piva, abriu outro negócio, no Reino Unido, chamado SS Space Capital Group UK LTD. O valor nominal da empresa, cuja finalidade é de serviços financeiros e investimentos, é de 785 milhões de libras (R$ 5,9 bilhões).

No aeroporto JK, em Brasília, as identificações da companhia foram retiradas dos guichês e não havia, ontem, nenhum profissional da ITA à vista. Além disso, os passageiros reclamam da falta de comunicação.

Ana Carolina Rodrigues, 38 anos, estava com tudo pronto para sair do Distrito Federal e passar o ano novo em Recife (PE). Porém, pelas redes sociais, ficou sabendo do cancelamento dos voos. "Não recebi nenhum aviso, ninguém me procurou", diz.

Grávida, Ana afirma que o grupo de pessoas com quem ia viajar tenta, agora, encontrar outros meios de chegar ao destino. "Somos dez. A viagem estava marcada para 29 de dezembro e deixamos tudo pago por lá. Alguns já decidiram que vão de carro, mas eu, como estou grávida, ainda procuro passagens de avião", relata, sem muita esperança. "Talvez eu perca a viagem. Seria a primeira vez que sairia de Brasília desde o início da pandemia", comenta.

A Anac determinou à ITA que divulgue amplamente informações e dê toda a assistência aos passageiros. A companhia está obrigada a ofertar a prestação de alternativas, incluindo outros meios de transporte, assistência material e compensações financeiras devidas aos prejudicados.

No comunicado, a ITA lamentou os transtornos e disse que trabalha em uma reestruturação interna para a retomada das operações "o mais breve possível". A companhia orienta os passageiros com viagens programadas que não tentem realizar check-in on-line e não compareçam aos aeroportos antes de contatar a empresa pelo e-mail falecomaita@voeita.com.br ou diretamente com a agência de viagem pela qual as passagens foram compradas. Quem estava em um voo e fora da cidade de domicílio quando as operações foram suspensas tem prioridade para reacomodação em voos de outras companhias. "Os demais passageiros com viagens de ida e volta, que se encontram em sua cidade de domicílio, serão atendidos prioritariamente com reembolso total dos valores pagos", informou a Itapemirim.

Maria da Glória Cruz, 74 anos, aposentada, iria de Brasília para Aracaju, no fim da tarde de ontem, para comemorar as festas de fim de ano, com a irmã. Elas compraram passagens em uma agência de viagens, que conseguiu colocá-las em um vôo de ida e volta da Gol. Elas sairiam às 2h30 da manhã, mas decidiram ir às 16h — mesmo horário do vôo anterior — para não terem mais surpresas.

A Azul teve reunião com a Anac para ajudar na realocação de passageiros com prioridades, como idosos ou crianças desacompanhadas. A regra é que só embarca quem tiver o nome na lista enviada pela Anac. Durante todo o dia, a Azul incluiu passageiros em vagas livres nos seus voos.

O desejo de Micheline Mendes, 43 anos, professora, era passar férias em Natal com a família — marido e dois filhos. Compraram passagens de ida e volta pela Itapemirim no valor aproximado de R$ 300 cada uma. "Ontem, já terminando de arrumar as malas, na madrugada, porque o vôo sairia às 6h, vimos a notícia pela TV. Como já passei por essa experiência com a Avianca, comprei outra passagem e vou ter que arcar com esse prejuízo", resumiu. O valor de uma passagem nova foi o mesmo pago por quatro das antigas, e ficou em R$ 953 por pessoa.

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