Desvios e tristeza até Ilhéus

Correio Braziliense
postado em 29/12/2021 00:01

Ilhéus. No caminho de Brasília à cidade de Ilhéus, há estradas interditadas, desvios e relatos de quem está ajudando quem perdeu tudo. Em Jequié, cidade margeada pelo Rio Preto e represada pelo Médio Rio de Contas, onde está localizada a Barragem de Pedras, que teve suas seis comportas abertas nos últimos dias, o grande volume de água fez com que a parte baixa da cidade fosse inteiramente alagada. O engenheiro Júlio Cesar Almeida, 26 anos, morador da cidade, afirmou que as chuvas mais fortes ocorreram na madrugada de Natal e seguiram até o dia seguinte.

Ele lembrou que, desde novembro, choveu direto por 45 dias. Por isso, o volume de água foi muito grande. "Foi uma situação drástica. O governo não olhou nem deu um aviso sobre as chuvas. Foi rápido demais, choveu cerca de 30 horas seguidas e um volume grande. Pegou todo mundo de surpresa", explicou.

"A minha casa já é na parte alta da cidade, mas saímos de casa todo mundo da família porque é uma situação de ajudar quem perdeu tudo. Cidade pequena, todo mundo se conhece. Fui ajudar alguns amigos. Um deles disse que foi rápido. Acordou cerca de 6h, e a água já estava dentro da casa. Ele disse que só deu tempo de levantar a geladeira, o restante perdeu tudo, cama, guarda-roupa, roupa. Deixaram tudo lá, levantaram a geladeira e saíram de casa. Moram três pessoas com ele", contou.

Ao passar pela cidade, ontem, era possível ver que as ruas ainda estavam sujas de um barro alaranjado, e o rio estava agitado e cheio, mas não transbordava mais na ponte. Havia trechos em obras em Jequié, que, com as chuvas mais recentes, escorriam lama. Na saída da BA-558, no entroncamento da BR-330 com Itajuru, ontem, uma cratera se formou na via. Uma escavadeira e um caminhão da prefeitura estavam no local para fazer a limpeza. Uma fila de carros se formou rapidamente e dois guardas estavam organizando as liberações dos veículos aos poucos, o que ocasionou um engarrafamento rápido. Outros dois desvios foram feitos em seguida — um em Ubatã, devido ao rompimento no asfalto, de uma ponta à outra, o novo caminho levava a um bairro do município, e no trecho final, na BA-415, que liga Itabuna a Ilhéus.

Falta informação

No sentido Brasília-Ilhéus, o primeiro desvio podia ser visto ontem ao chegar a Correntina. Na segunda-feira, em um posto de gasolina do local, o frentista avisou que não estava passando ninguém pela BR-349, que seguia para São Jesus da Lapa. O motivo foi uma abertura no asfalto entre São Felix e a próxima cidade, pela água do rio. A correnteza era forte ao ponto de criar um redemoinho dentro da fissura. Como a Secretaria de Infraestrutura (Seinfra) ainda não tinha atualizado seu boletim diário, o desvio deveria ser feito para a BR-242, ou seja, duas horas a mais de trajeto.

As chuvas não cessam, e as mudanças nos trechos acontecem de forma acelerada. O único jeito de garantir a informação é se comunicar com pessoas que já passaram pelos mesmos locais. "Temos que parar o tempo todo em postos e nos informar com os outros motoristas. As estradas estão mudando a todo momento, corre o risco de seguirmos por um caminho e ele não estar bom", comentou Lucas Rodrigues, 26 anos, que saiu de Brasília. Mesmo com o delay na comunicação oficial, a Seinfra já contabilizou 40 trechos em monitoramento.

Sem informações oficiais, os desvios na estrada provocam insegurança nos viajantes. Chegando a Ibotirama, chove bastante. Por isso, novamente, é preciso se informar. A frentista Maria Eunice de Almeida, 49 anos, que trabalha em postos de gasolina do Grupo Jaguar, afirmou ser arriscado seguir viagem.

"Fui por aqui, entrei em Paramirim e fui até Beira Rio. A estrada é melhor para vocês que vão para Ilhéus, eu passei hoje e está muito boa. Está bem limpinho", disse na segunda-feira. Ao seguir os comandos da frentista, mais estrada. Duas horas depois, há impedimento na estrada: uma carreta de carnes estava tombada desde a noite anterior (domingo) e era retirada porque as chuvas tinham dado uma trégua. Eunice já havia alertado. "Tem bastante acidente (nas estradas com chuva). Hoje mesmo, teve acidente mais para cá de Caturama, com um bauzinho, esses caminhões que têm baú", contou.

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