VACINAÇÃO

Covid-19: vacinação confere proteção adicional em quem já teve a doença

Estudo divulgado nesta quarta-feira (29/12) reforça a importância do esquema vacinal completo, mesmo para quem já pegou a doença. Pesquisa analisou os quatro imunizantes utilizados no Brasil

Gabriela Bernardes*
postado em 29/12/2021 18:13
 (crédito: Minervino Júnior/CB/D.A.Press)
(crédito: Minervino Júnior/CB/D.A.Press)

Quem é infectado pelo vírus SARS-CoV-2 recebe um alto grau de proteção adicional contra novas infecções de covid-19 ao se imunizar, revelou um estudo divulgado nesta quarta-feira (29/12). O trabalho, liderado por Julio Croda e Manoel Barral-Neto, pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), e publicado no site Medrxiv, avaliou as quatro vacinas utilizadas no Brasil — CoronaVac, Oxford/AstraZeneca, Pfizer e Janssen. 

A pesquisa mostra que os imunizantes apresentam efetividade de 39% a 65% para prevenir as formas sintomáticas da doença. No caso das três vacinas com esquema de duas doses (Coronavac, AstraZeneca e Pfizer), a segunda dose fornece uma efetividade significativamente maior quando comparada com a primeira. A média de proteção contra hospitalização ou morte excede 80% 14 dias após o esquema vacinal completo – em comparação com pessoas infectadas e não vacinadas.

“A importância de ser vacinado é a mensagem principal, e a necessidade dessas duas doses para maximizar a proteção. Vemos que alguns países chegam a recomendar apenas uma dose para quem teve covid, por considerar que estes já contam com um certo nível de anticorpos neutralizantes. Mas esse tipo de avaliação de efetividade na vida real mostra que há um ganho adicional com a segunda dose. É um ganho substancial contra as formas graves”, explica Julio Croda, pesquisador da Fiocruz Mato Grosso do Sul e principal investigador do estudo.

Efetividade contra reinfecção

A efetividade das vacinas contra a covid-19 já havia sido provada em pessoas que nunca tiveram a doença, mas os efeitos em indivíduos infectados previamente não eram claros. A partir da base nacional de dados sobre notificação, hospitalização e vacinação, os pesquisadores utilizaram um desenho de teste negativo para verificar a efetividade da Coronavac, AstraZeneca, Janssen e Pfizer em pessoas previamente infectadas.

“Para AstraZeneca e Pfizer, só havia um artigo sobre desfechos graves, e envolvia apenas 75 indivíduos. Não havia nada sobre Janssen e Coronavac para doença sintomática e casos severos”, observa Croda.

O estudo avaliou 22.565 indivíduos acima dos 18 anos que tiveram dois testes de RT-PCR positivos e 68 mil que tiveram teste positivo e depois negativo, entre fevereiro e novembro deste ano. Os pesquisadores descobriram que, após a infecção inicial, a efetividade para posterior doença sintomática 14 dias após o esquema vacinal completo é de 37,5% para a Coronavac, 53,4% para AstraZeneca, 35,8% para Janssen e 63,7% para Pfizer. Nas vacinas de duas doses, a efetividade contra hospitalização e morte no mesmo período é de 82,2% com a Coronavac, 90,8% com a AstraZeneca e 87,7% com a Pfizer. Na Janssen, de apenas uma dose, é de 59,2%.

Imunização híbrida

Os pesquisadores observam que a infecção do novo coronavírus induz respostas "robustas'' das células relacionadas à imunidade. Pessoas que contraíram o vírus apresentam, então, um risco menor de infecção sintomática e das formas graves da doença. Muitos se baseiam nisso para discutir a necessidade de vacinar ou não quem já teve Covid-19, ou mesmo de a pessoa tomar apenas uma dose, como lembra Croda. O surgimento de novas variantes mais transmissíveis, com capacidade de escapar ao sistema imunológico e resultar em novas ondas de infecção e reinfecção, renovaram discussões sobre o tema.

“Descobrimos que uma segunda dose de CoronaVac, ChAdOx1, e BNT162b2 forneceu proteção adicional significativa contra infecções sintomáticas e a forma grave da doença”, diz o texto. Segundo o estudo, este alto grau de imunização híbrida, resultante da combinação de infecções e vacinas, poderia explicar por que o Brasil, apesar de ter uma cobertura vacinal comparável à dos Estados Unidos e dos países da Europa, não tenha observado uma alta semelhante das hospitalizações e mortes no período em que a variante Delta se tornou prevalente.

O estudo conta com pesquisadores do Instituto Gonçalo Moniz (Fiocruz Bahia); do Centro de Integração de Dados e Conhecimentos para Saúde (Cidacs/Fiocruz Bahia); da Fiocruz Brasília e da Fiocruz Mato Grosso do Sul; além de cientistas da Universidade Federal da Bahia; da Universidade de Stanford, do Barcelona Institute for Global Health; Hospital das Clínicas de Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo; da London School of Hygiene and Tropical Medicine; da Universidade Federal de Ouro Preto; da Universidade da Flórida; da Yale School of Public Health; da Universidade de Brasília; da Emory University; da Universidade do Estado do Rio de Janeiro; e da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul.

*Estagiária sob supervisão de Pedro Grigori

 

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