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De volta ao Conselho da ONU após 10 anos

Pela 11ª vez, Brasil assume uma das vagas rotativas da principal instância de decisão das Nações Unidas. E conviverá com China, França e EUA, membros permanentes do colegiado e que foram razão de hostilidades do governo Bolsonaro

thaisa medeiros Fabio Grecchi
postado em 02/01/2022 00:01
 (crédito: Monika Graff/AFP )
(crédito: Monika Graff/AFP )

Depois de 10 anos, o Brasil voltou a ocupar um dos assentos rotativos do Conselho de Segurança das Nações Unidas. A posse será na próxima terça-feira e a participação no principal organismo de deliberação da ONU será por dois anos.

Esta é a 11ª vez que o Brasil integra a instância máxima da ONU — a última foi em 2010 e 2011. O embaixador Ronaldo Costa Filho, chefe da missão brasileira nas Nações Unidas, afirmou que, neste biênio, o foco será o debate de questões relacionadas à América Latina — especialmente a crise humanitária no Haiti e o recrudescimento da narcoguerrilha na Colômbia — e os conflitos na África.

Há décadas o Brasil reivindica assento permanente no colegiado, ao lado de Estados Unidos, Rússia, China, França e Grã-Bretanha. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez intensa campanha, no seu segundo governo, para que o número de integrantes fixos do conselho fosse aumentado. Por isso, o país integra o chamado G4 — com Alemanha, Índia e Japão, que defendem a ampliação do conselho.

Os membros permanentes são os únicos que têm poder de veto — basta um discordar para derrubar uma decisão acordada pelos demais. Os outros integrantes temporários que assumirão com o Brasil são Albânia, Emirados Árabes, Gabão e Gana. Compõem ainda o conselho Índia, República da Irlanda, México, Noruega e Quênia — que ficam até o fim de 2022.

Expectativa

Nos meios diplomáticos, existe uma grande curiosidade sobre a atuação brasileira. Isso porque, durante a gestão de Ernesto Araújo, o Ministério das Relações Exteriores (MRE) rompeu várias tradições diplomáticas do Brasil. A que mais trouxe prejuízos foi a beligerância com a China, membro permanente do colegiado.

O chanceler anterior chegou a chamar o novo coronavírus de "comunavírus", em alusão ao fato de o micro-organismo ter sido identificado na cidade chinesa de Wuhan, além de ter participado da campanha de hostilidades contra o embaixador de Pequim no Brasil, Yang Wanming — pediu até que se retratasse quando o diplomata respondeu com veemência a um ataque do deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP).

Diante da deterioração das relações com os chineses, Araújo chegou a dizer que não era ruim que o Brasil se tornasse um pária internacional. Além disso, durante o governo de Donald Trump, o país se alinhou, na Organização Mundial do Comércio (OMC), ao então presidente norte-americano contra a proposta da Índia e da África do Sul de quebra de patentes das vacinas para a covid-19, a fim de que os países pobres pudessem ter acesso aos fármacos.

Mas a convivência com a China no conselho não é a única fonte de constrangimento para o Brasil. Terá também de se relacionar com o representante diplomático da França — cuja mulher do presidente, Emmanuel Macron, foi motivo de deboche do presidente Jair Bolsonaro e do ministro da Economia, Paulo Guedes, que disseram que ela era "feia" — e dos Estados Unidos — cuja vitória de Joe Biden sobre Trump demorou a ser reconhecida pelo Palácio do Planalto.

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