Governo dá palco a negacionistas

Correio Braziliense
postado em 05/01/2022 00:01

Dentro e fora da sede da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), em Brasília, negacionistas da imunização pediátrica marcaram presença. Do lado de fora da audiência pública, um grupo anti-vacina protestou com cartazes e palavras de ordem enquanto que, dentro, três representantes da classe médica se manifestavam contra a necessidade da dose pediátrica.

Com a máscara abaixada durante toda a explanação que realizou, o neurocirurgião Augusto Nasser ressaltou os supostos efeitos adversos da vacina em crianças, como a miocardite. Segundo ele, números errados são repassados pela imprensa para "assustar as famílias". "Vacinar as pessoas no meio de uma pandemia é um erro científico", afirmou, para acrescentar: "Imunidade sustentada, imunidade natural, é isso que essa nova variante (a ômicron) está trazendo para o mundo".

Já o imunologista Roberto Zeballos também ressaltou a imunidade adquirida após as infecções por covid. Por isso, defendeu que não há necessidade de colocar as crianças "em risco", pois, segundo ele, "nesse momento no Brasil não existe emergência para usar a vacina emergencial".

A infectologista Roberta Lacerda salientou a necessidade da análise de custo-benefício da vacinação pediátrica. "Essa pandemia fez um assassinato de reputações, principalmente de quem tece comentários ou apresente motivos para questionar a vacinação em massa em um público que não demonstra maior risco de letalidade, que não justifica vacinação sem análise de custo-benefício", explicou.

Os três adversários da dose para as crianças desagradou os demais convidados da audiência. O pediatra e infectologista Renato Kfouri, representante da Associação Médica Brasileira, criticou o trio. "Ainda estou me recompondo da quantidade de informações equivocadas que foram apresentadas. Se a gente acreditar em teorias conspiratórias, que órgãos internacionais querem matar nossas crianças e agem de má-fé, realmente fica uma discussão muito desqualificada", lamentou.

O representante da Conass, Nésio de Medeiros, por sua vez, repreendeu a fala de Zeballos, que afirmou que a variante ômicron "parece ter vindo de Deus" pois, após a infecção, concederia imunidade também contra as outras cepas.

"Faço um apelo para que não misturem Deus nas tragédias humanas e nos debates sobre o mérito científico. A variante ômicron não veio de Deus: veio da desigualdade social, da má distribuição de vacinas e da incapacidade do mundo de apostar igualitariamente na vacinação como a principal medida de prevenção primária", rebateu. (TM e GB*, estagiária sob a supervisão de Fabio Grecchi)

Notícias pelo celular

Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.


Dê a sua opinião

O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.

Tags