Monitoramento evitaria queda

Correio Braziliense
postado em 09/01/2022 00:01

O monitoramento constante das rochas poderia ter evitado as mortes de turistas ocorridas no lago de Furnas, área turística de Capitólio. Além disso, o período de chuvas intensas em Minas Gerais deveria ter sido motivo de alerta para as autoridades impedirem a movimentação de pessoas no local. Especialistas ouvidos pelo Correio afirmam que, apesar de o Brasil ter bom conhecimento sobre questões geológicas no país, ainda falta aplicar os conceitos para evitar tragédias.

"Esse desmoronamento é possível de ser detectado, assim como se monitoram os vulcões. Como você sabe que vai entrar em erupção? Pelo monitoramento. É uma questão característica e poderia ter sido previsto o desastre, mas como não tem monitoramento constante é difícil de detectar quando iria acontecer", apontou George Sand França, professor do Observatório Sismológico da Universidade de Brasília (UnB).

De acordo com o especialista, a pior característica é "deixar acontecer primeiro para agir depois". "A gente é um país que enfrenta a desgraça e depois vai atrás do prejuízo, como aconteceu na barragem de Brumadinho (MG). Os grandes cânions precisam ser monitorados por uma equipe específica", frisou. França também criticou a proximidade dos barcos na encosta, "era um perigo constante". A interação humana como possível causa é pouco provável. "O ser humano, para fazer isso, precisa explodir muita coisa em atividades de mineração. Mas é tudo muito controlado. Como ali é um cânion, não tem exploração mineral", disse.

Segundo Joana Paula Sanchez, professora de geologia da Universidade Federal de Goiás (UFG), ainda que esses deslocamentos de blocos sejam naturais, há como remediar o risco. "Se existisse um mapeamento geotécnico dessa região dos atrativos turísticos já se saberia que essa rocha podia se deslocar, estudava por apenas imagens de vários dias anteriores, vários meses anteriores. Então, o que pode ter sido feito para evitar a tragédia? Não tinha como segurar aquele bloco para ele não cair, mas tinha como não deixar as pessoas chegarem lá próximo de onde ele caiu. Tinha que ter tido uma intervenção de ter fechado mais de um quilômetro antes dessa visita", pontuou.

"Na verdade, a queda de blocos é um processo natural da dinâmica externa da Terra. Mas envolvendo pessoas, felizmente é mais raro", afirmou José Eloi Campos, professor do Instituto de Geociências da UnB. Segundo ele, ao analisar as imagens do acidente, as intensas chuvas na região "podem ser concentradas no tempo e no espaço". Assim, de acordo com o especialista, "a condição climática atual foi um fator importante para que a instabilidade ocorresse". "Medidas para observar as aberturas de fraturas em rochas, inspeções em períodos secos, além de treinamento de primeiros socorros, bem como proibição das visitações em épocas de chuvas críticas, certamente evitariam a tragédia", completou o especialista.

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