Chuvas em Minas Gerais

10 mortos em Capitólio, cinco da mesma família

Polícia revelou identidades das vítimas. Mortos e desaparecidos estavam todos na mesma lancha, no lago de Furnas

Cristiane Noberto Déborah Lima Fernanda Strickland
postado em 10/01/2022 00:01
 (crédito:  Minas Gerais Fire Department/AFP)
(crédito: Minas Gerais Fire Department/AFP)

Dor e luto em família. Dos 10 mortos pela queda de rochas nos cânions de Capitólio (MG), no sábado, cinco eram de um mesmo núcleo familiar. Todas as vítimas estavam na lancha chamada Jesus, que foi diretamente atingida pelo deslocamento de pedras. A Marinha do Brasil informou que abriu um inquérito para apurar as causas do acidente ocorrido no Lago de Furnas, região turística de Capitólio. O balneário foi interditado.

A tragédia deixou 32 feridos, 23 liberados na Santa Casa de Misericórdia da cidade. A unidade da Santa Casa de Passos recebeu duas vítimas, ainda em quadro estável. Já a Santa Casa de Piumhi atendeu duas com fraturas abertas, mas já liberadas. Outros quatro foram levados para a Santa Casa de São José da Barra e também tiveram alta.

Na identificação prévia dos corpos, a polícia afirmou que todas as pessoas que estavam na lancha atingida eram conhecidas entre si e estavam hospedadas na mesma pousada, na cidade de São José da Barra, no Sul de Minas. No total, morreram sete homens e três mulheres.

Ontem, em Passos, a 100 km de Capitólio, familiares foram ao Instituto Médico-Legal (IML) identificar os corpos e fazer exames de DNA (para os que não eram possíveis de ser identificados). Pais, mães, padrastos, filhos, primos, sobrinhos e amigos. Quase todos, de uma forma ou outra, tinham relação. No início da noite, uma equipe do IML de Belo Horizonte chegou ao local para auxiliar na identificação dos corpos. O trabalho pode se estender por até 30 dias.

O primeiro identificado, ainda na manhã de domingo, foi Júlio Borges Antunes, de 68 anos, natural de Alpinópolis (MG). À noite, foram revelados os dados de Camila Silva Machado, de 18 anos, nascida em Paulínia (SP), Mykon Douglas de Osti, de 24 anos, de Campinas (SP). Na lista, ainda, Sebastião Teixeira da Silva, de 64 anos, natural de Anhumas (SP) e a esposa, Marlene Augusta Teixeira da Silva, de 57 anos, natural de Itaú de Minas (MG). Os corpos de Júlio, Camila e Mykon já foram entregues aos familiares.

Os cinco mortos ainda não nomeados (confira quadro) passaram pelo que as autoridades chamam de "reconhecimento precário". Familiares os identificaram a partir de fragmentos corpóreos e características como tatuagens, aparelhos dentários e anéis.

O governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), decretou luto de três dias em todo estado pelas mortes e, também, em respeito aos mineiros que foram afetados pelas fortes chuvas.

Em entrevista coletiva, a Polícia Civil de Minas Gerais reforçou que abriu um inquérito para investigar o acidente e que o andamento vai depender de especialistas, como geólogos. A PCMG ainda não trabalha com a hipótese de criminalização do fato e ressaltou que a prioridade, por enquanto, é identificar as vítimas.

Possíveis causas

Especialistas da Universidade de Brasília (UnB) ouvidos pelo Correio comentaram as possíveis causas do desabamento. O geólogo Christian Della Giustina, doutor pela UnB, explicou que estudos geológicos detalhados devem ser feitos no local e nas imediações para que se possa entender exatamente o que aconteceu, sobretudo se há alguma influência de outras atividades humanas na região.

Ele destacou, contudo, que deslizamentos de rocha como esse ocorrem naturalmente e são comuns de acontecerem ao longo do tempo geológico. "Provavelmente, a elevada quantidade de chuva, acima da média, precipitada nos últimos dias, contribuiu com a aceleração desse processo. Sendo assim, toda atividade ecoturística deve prever riscos potenciais, dentre eles, o deslizamento de rochas".

Para George Sand França, professor do Observatório Sismológico da UnB, a tragédia foi motivada pela gravidade. "Começa a ter inclinação de rocha, começa a rachar e chega uma hora que não suporta mais esse peso. Mas nada acontece por acaso. A rocha vai dando notícia, informando, não é de uma hora para outra (que cai). A possibilidade disso acontecer não é muito comum, não é toda hora, o único controle que tem é observar a deterioração da rocha. Poderia ter acontecido de noite, inclusive, e ninguém ia ver. Mas não tem como prever sem monitorar", comentou.

Notícias pelo celular

Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.


Dê a sua opinião

O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.

Tags