Quarentena pode ser de apenas 5 dias

Luana Patriolino
postado em 11/01/2022 00:01
 (crédito: Ed Alves/CB)
(crédito: Ed Alves/CB)

Após o presidente Jair Bolsonaro (PL) ameaçar vetar qualquer reajuste para servidores públicos em 2022 — mesmo após o governo prever R$ 1,7 bilhão no Orçamento para aumento salarial de integrantes da Polícia Federal, da Polícia Rodoviária Federal e do Departamento Penitenciário Nacional (Depen) —, a relação do Executivo com o funcionalismo azedou mais. Isso porque, agora, além dos servidores da elite e do carreirão, os próprios policiais, importante base eleitoral de Bolsonaro, podem se rebelar contra o presidente.

Na Polícia Rodoviária Federal (PRF), o clima é de apreensão. Se o plano de reestruturação enviado ao Executivo não for colocado em prática, a situação ficará insustentável tanto do ponto de vista operacional quanto do político. Foi o que disse o presidente da Federação Nacional dos Policiais Rodoviários Federais (FenaPRF), Dovercino Neto, em entrevista ao Correio.

Para ele, se o governo federal voltar atrás em sua palavra e desistir de fazer uma reestruturação da categoria, o órgão "vai virar o caos". O reajuste salarial é parte da reestruturação demandada pela entidade. "Isso é preocupante, porque para o nosso colega da PRF, essa possibilidade de não ter a tão sonhada reestruturação da carreira não existe. Isso vem sendo falado pelo próprio Bolsonaro desde 2019", enfatizou.

De acordo com Neto, "em todas as oportunidades que ele (Bolsonaro) teve, disse que (a reestruturação) sairia. Nosso colega não conta com essa possibilidade (de não sair). E como isso é uma decisão política, pode ocorrer de não sair. Caso não saia, na PRF será o caos", pontuou.

O pedido de reestruturação da PRF foi entregue pelo ministro da Justiça, Anderson Torres, a Bolsonaro no ano passado. Segundo Neto, apesar de o reajuste ser uma das demandas, a reestruturação é uma proposta que vai além disso. "O que faz com que a PRF cresça, ano a ano, é o policial, o empenho que o policial coloca no seu dia a dia. E nós estamos com essa promessa de reestruturação desde 2012", destacou. "Queremos uma reestruturação. Estamos no limite, não tem mais como dar errado. Caso não saia, para nós vai ser um desastre. Aumento, a gente busca também, porque temos a pior tabela salarial de gestão dentro do Executivo. Mas queremos outras alterações. Nosso projeto é grande, não é só reajuste."

Avaliação

Caso o governo decida vetar o montante destinado à PRF no Orçamento de 2022, conforme Neto, a saída será reunir os sindicatos estaduais em assembleias para definir de que forma prosseguir. Ele descartou, no entanto, uma união com as demais carreiras do setor público que estão se mobilizando em busca do reajuste, já que os movimentos começaram como um protesto ao aumento para os policiais.

"Isso é uma questão delicada, porque o fato de o governo ter prometido essa verba para as polícias gerou uma guerra, outras categorias estão nos atacando, como se quiséssemos aumento só para nós. Não é isso, estávamos brigando pela valorização do nosso policial", destacou. "Não fizemos qualquer trabalho contrário às outras categorias. Não trabalhamos dessa forma. Se o governo vai nos atender ou só a polícia é algo que foge ao nosso controle."

Enquanto isso, o ministro da Economia, Paulo Guedes, busca uma forma de contornar a grave crise que aparece em seu horizonte. Ele fez, ontem, a primeira reunião do ano com sua equipe ministerial, na qual um dos temas foi o reajuste de servidores. O ministro sempre se posicionou contra a reposição salarial e tem histórico ruim no trato com os funcionários públicos. Já chamou servidores de parasitas e disse que gostaria de colocar uma granada em seus bolsos.

"Como vamos dialogar com um senhor como esse?", questionou um sindicalista ouvido pela reportagem, ao explicar que o ministério ainda não deu qualquer retorno às tentativas de contato dos sindicatos, que prometem parar já no dia 18.

No Banco Central, órgão afetado pela mobilização em torno do reajuste, a situação pode avançar hoje. Isso porque o sindicato dos servidores vai se reunir com o presidente do órgão, Roberto Campos Neto, para cobrar uma definição sobre o tema. A conversa, à tarde, será no formato virtual.

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