CHUVAS EM MINAS GERAIS

Para o governador de Minas Gerais, tragédia que matou 10 era imprevisível

Governador de Minas assegura que turismo em Capitólio só será retomado depois de uma análise técnica que avalie os riscos na região. Mas, para especialista, havia como detectar a possibilidade de a rocha que desabou sábado se desprender

Taísa Medeiros
postado em 11/01/2022 06:00
 (crédito: redes sociais )
(crédito: redes sociais )

O governador de Minas Gerais, Romeu Zema, considerou a tragédia de Capitólio — que matou 10 pessoas, cinco delas da mesma família como algo imprevisto e fora do alcance dos mecanismos de fiscalização do poder público. Segundo ele, o desprendimento de uma rocha daquele tamanho foi algo inédito. Mas prometeu que o governo estabelecerá análises anuais de risco geológico para tentar evitar que um novo paredão de rocha volte a se desprender futuramente — e causar novas mortes.

“Acho que poderia (ser evitado) da mesma maneira que nós podemos evitar que nenhuma rocha venha a rolar de nenhuma montanha no Brasil. É algo inédito, que nunca aconteceu anteriormente. Nos últimos 100 anos, nós não sabemos de nenhuma ocorrência dessa. Então, seria algo muito difícil de se prever. E quando cai um raio? Quem é o responsável? É o prefeito?”, questionou.

Zema afirmou que a área vai “merecer análise técnica de geólogos e colocar ali um nível de risco aceitável ou não”. O governador assegurou que o turismo na região será retomado apenas quando a segurança for absoluta.

“Queremos que toda a região continue atraindo turistas. Mas, a partir de agora, um cuidado adicionado será exigido, e teremos frequentemente uma análise do risco daquela região”, garantiu.

Sobre a investigação das causas da tragédia, ele disse que tanto a Marinha quanto a Polícia Civil vão apurar o episódio. “Menos de 48 horas depois da tragédia já conseguimos resgatar e identificar as 10 vítimas. As famílias já sabem exatamente o que aconteceu. Não falamos mais em nenhum desaparecido ou em nenhuma vítima não identificada”, disse.

Mas, para o professor do Departamento de Geologia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Adelbani Braz, o desabamento do último sábado não pode ser analisado como um evento isolado ou imprevisível. “São vários eventos que, ao longo de anos, resultaram no acidente. Desabamentos são algo comum na geologia, como os que ocorrem em mineração, em barragens, sem nenhum motivo aparente”, explicou.

Braz explica que a rocha que desabou em Capitólio é muito dura e antiga e, por conta dessas características, é improvável que a erosão a tenha corroído. “A região de Capitólio é muito fraturada e não tem muita mata. Quando há chuvas, a água bate e infiltra, escoando rapidamente para os vales e ficando concentrada lá, agilizando o processo de colapso. Isso pode ter desestabilizado a rocha, pode ter influenciado”, disse.

Emergência

As chuvas incessantes no estado, 145 municípios de Minas decretaram situação de emergência. O período chuvoso, que teve início em outubro, se estende até agora, e deixou 10 vítimas fatais em nove municípios. Ao todo, 13.734 pessoas estão desalojadas e há 3.409 desabrigados.

As altas precipitações, porém, têm previsão para acabar. De acordo com Francisco de Assis, chefe da previsão do tempo do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), a região centro-sudeste do estado está sob alerta vermelho, vivendo condições de chuvas intensas. “Essas chuvas intensas vão continuar até quarta-feira (amanhã), pegando a parte centro-sudeste de Minas, indo para a parte Sul, depois para a divisa de São Paulo e também do Rio de Janeiro”, explicou.

No Estado do Rio, as chuvas que caem incessantemente desde a última sexta-feira deixaram cerca de 1.200 desalojados e 300 desabrigados, segundo balanço divulgado, ontem, pela Secretaria Estadual de Defesa Civil. Os bombeiros já atenderam mais de 200 chamadas decorrentes da chuva, em 22 municípios.
A situação é mais crítica nas regiões norte e noroeste do estado, mas houve ocorrências em todas as regiões — não há registro de mortes. Os rios Muriaé, Carangola, Itabapoana, Pomba e Paraíba do Sul transbordaram, afetando pelo menos 10 cidades: Itaperuna, Italva, Natividade, Porciúncula, Bom Jesus do Itabapoana, Laje do Muriaé, Cambuci, Aperibé, Santo Antônio de Pádua e Cardoso Moreira.

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Uma família unida e que se divertia junto

O casal Sebastião Teixeira da Silva, de 64 anos, e Marlene Augusta Teixeira da Silva, de 57, tinha um grande prazer: a família. Moradores da pequena Serrania (MG), município próximo de Alfenas e já na direção da fronteira com São Paulo, sempre que podiam incluíam os filhos e agregados nos eventos que planejavam, desde um almoço reunindo todos às viagens — como a que fizeram ao cânion de Capitólio.

Passageiros da lancha Jesus, que foi atingida diretamente pelo paredão que se desprendeu no último sábado, Sebastião e Marlene mais uma vez acreditavam estar curtindo com aqueles que mais amavam. Mas a falta de fiscalização e a imprudência fizeram com que a diversão terminasse em tragédia.

Com o casal estava Geovany, de 37, que era o segundo de três filhos — o mais velho, Ernani, morreu há dois anos e, agora, restou apenas Angelita. Acompanhando Geovany, Sebastião e Marlene no passeio, Geovany Gabriel também admirava as formações rochosas e a água límpida do lago artificial chamado de “Mar de Minas”. O jovem de 14 anos também foi uma das vítimas do desprendimento da rocha.

Geovany, porém, não se fazia acompanhar apenas dos pais e do filho. Levou para o passeio a companheira, Carmem Pinheiro, 43; a enteada, Camila Machado, 18, e o namorado dela, Maycon Douglas, 24. Na tragédia, mais um integrante da família de Sebastião e Marlene não resistiu à queda a de imensa pedra: Thiago Teixeira da Silva, 35, sobrinho do casal e primo de Geovany.

Outras duas pessoas morreram na tragédia do último sábado: o piloto da lancha, Rodrigo Alves dos Anjos, de 40 anos, e Julio Borges Antunes, 68, que participava do passeio com a família de Sebastião e Marlene.

Em Serrania, onde o casal morava, a prefeitura decretou luto por três dias. Os corpos de Sebastião, Marlene, Geovany e Geovany Gabriel foram velados no Ginásio Poliesportivo Amélio Bueno da Fonseca e sepultados no cemitério da cidade.

Já Rodrigo, o piloto da lancha Jesus, era considerado um conhecedor do lago de Furnas. Era morador de São José da Barra, que fica a apenas 45 quilômetros de Capitólio, assim como o aposentado Júlio Borges Antunes — que segundo um sobrinho dele era a primeira vez que o tio andaria de lancha — e Thiago Teixeira.

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