Carta de repúdio à nota da Saúde

Correio Braziliense
postado em 24/01/2022 00:01
 (crédito: Ed Alves/CB)
(crédito: Ed Alves/CB)

Mais de 45 mil professores, pesquisadores e profissionais da saúde assinaram carta de repúdio à nota técnica do Ministério da Saúde que defende eficácia da hidroxicloroquina no tratamento contra covid-19 e questiona a segurança das vacinas — o inverso do que dizem estudos em todo mundo. O abaixo-assinado aberto em um site de petições on-line, no sábado, pede com urgência a adoção das normas que barrariam o kit covid, aprovadas em dois turnos pela Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no Sistema de Saúde (Conitec).

A carta faz duras críticas ao documento assinado pelo secretário de Ciência, Tecnologia, Inovação e Insumos Estratégicos em Saúde da pasta da Saúde, Hélio Angotti Neto. "Sentimos-nos perplexos quando lemos a vasta lista de estultices apresentada pela nota técnica", diz o manifesto. "É espantoso que o Ministério da Saúde recuse normas propostas elaboradas por um grupo de pesquisadores, convocados pelo próprio ministério, criando uma situação sem precedentes em nosso país."

A carta afirma que, ao publicar a nota técnica, a pasta da Saúde "transgride não somente os princípios da boa ciência, mas avança a passos largos para consolidar a prática sistemática de destruição de todo um sistema de saúde". A petição foi amplamente divulgada por médicos e cientistas nas redes sociais.

A nota de repúdio foi redigida, primeiramente, pelo patologista Paulo Saldiva. Ele afirmou que outras cinco profissionais ajudaram-no na redação: a infectologista Anna Sara Levin, a patologista Marisa Dolhnikoff, a endocrinologista Berenice Mendonça, a fisiatra Linamara Batistella e a pediatra Sandra Grisi.

Por mais que esses profissionais atuem como professores na Faculdade de Medicina da USP, o documento não tem vínculo institucional. A ideia deles, conforme informou Saldiva, era fazer um manifesto mais amplo e com mais "representatividade de interesses".

Saldiva avaliou que a nota técnica do ministério é uma "coleção de bobagens". "Na realidade é um parecer que cristaliza o discurso das redes sociais negacionista", enfatizou.

"O maior absurdo não é só eles dizerem que a cloroquina funciona", pontuou o médico. "Eles colocam em uma tabela que as vacinas não têm evidência de segurança. E mais: as tratam em caráter experimental. Dizem que existem interesses econômicos (por trás das vacinas) e que da cloroquina, não, por ser uma droga barata", criticou.

Contramão

A nota técnica barra as diretrizes que contraindicam o kit covid no tratamento ambulatorial e hospitalar da doença e outras duas normas, mantendo o país sem uma recomendação oficial de como tratar pacientes de covid com quase dois anos de pandemia.

Uma das colunas pergunta se há demonstração de efetividade em estudos controlados e randomizados para a covid-19. A resposta é "sim" para a hidroxicloroquina e "não" para as vacinas. A tabela contrapõe os dois métodos ao afirmar que o medicamento tem demonstração de segurança em estudos experimentais e observacionais contra a covid e que a vacina não tem a mesma resposta.

A nota cita "treze estudos controlados e randomizados com direções de efeito favoráveis à hidroxicloroquina, com efeito médio de redução de risco relativo de 26% nas hospitalizações, altamente promissor para o uso discricionário e prosseguimento dos estudos". Para a falta de efetividade das vacinas, a referência citada são "dezoito ensaios não finalizados, dos quais, oito estão em fase de recrutamento, nove ainda não finalizaram o seguimento e um finalizado, mas ainda em fase insuficiente para a avaliação de segurança, mas recomendado para combate à pandemia".

A hidroxicloroquina e outros medicamentos chegaram a ser testados contra a covid-19, mas a eficácia não foi observada logo após as primeiras fases de estudos. Ainda no primeiro ano da crise sanitária, um estudo brasileiro coordenado pelos principais hospitais privados do país apontou a ineficácia do medicamento. A mesma conclusão foi observada pela Organização Mundial da Saúde (OMS).

O questionamento da eficácia das vacinas contraria políticas do próprio Ministério da Saúde. No sábado, o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, participou de uma ação promovida pela pasta para incentivar a vacinação e a testagem da população nos estados da Região Norte com Angotti Neto, responsável pela nota técnica, e outros secretários do ministério. O ministro pediu que as pessoas se imunizassem e afirmou que "não há um caminho mais eficiente para nos livrarmos dessa pandemia do que a vacinação da nossa população". Por outro lado, voltou a criticar o passaporte vacinal e a exigência da imunização.

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