Um estudo divulgado ontem aponta que três em cada quatro escolas da rede municipal do Rio de Janeiro estava em alguma área onde houve pelo menos um tiroteio, em 2019. Naquele ano, as instituições de ensino que ficaram mais expostas registraram pelo menos 10 operações policiais em seu entorno. Em cinco desses colégios, houve pelo menos 20 ações com troca de tiros. O estudo também detectou uma queda no aprendizado de português e matemática nos estabelecimentos de ensino nas áreas onde ocorrem confrontos.
Os dados fazem parte do estudo Tiros no Futuro, realizado pelo Centro de Estudos de Segurança e Cidadania (CESeC). Trata-se da segunda etapa do projeto Drogas: Quanto Custa Proibir. Os números se referem a 2019 pelo fato de ter sido o último ano com aulas 100% presenciais na capital fluminense — a partir de 2020, o país passou a conviver com a pandemia de covid-19.
Para chegar ao registro total de escolas em meio a áreas conflagradas, os pesquisadores fizeram um convênio com a Secretaria Municipal de Educação (SME). Avaliaram dados das 1.577 unidades de ensino da rede carioca. Em 2019, haviam 641.534 alunos matriculados nas escolas do Rio.
Eles também analisaram os registros da plataforma Fogo Cruzado, que compilou 4.346 tiroteios na cidade à época. Além disso, diretores de escolas foram entrevistados.
“A partir desses dados, foi possível identificar 1.154 (74%, três em cada quatro) unidades da rede municipal de ensino fundamental do Rio que foram afetadas por pelo menos um tiroteio com a presença de agentes de segurança pública”, diz o relatório. “O estudo aponta que, em média, as 30 escolas do 5º ano do primeiro ciclo do Ensino Fundamental mais expostas à violência registraram 19 tiroteios com presença do Estado nesse período”, acrescenta o estudo.
Outro aspecto que o relatório mostra é que no entorno das escolas onde houve maior incidência de tiroteios, 77% dos alunos eram negros.
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Aprendizado e evasão
O relatório também analisou a proficiência dos estudantes do 5º ano em escolas instaladas próximas a áreas de confronto, considerando o aprendizado em língua portuguesa e matemática. A série foi escolhida para o recorte porque o índice de evasão escolar nesse período do ensino costuma ser baixo.
Os pesquisadores cruzaram dados da SME e do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep). Constataram que alunos nessas condições tiveram uma redução média de 7,2 pontos no desempenho em Língua Portuguesa e 9,2 em Matemática.
“Considerando o ganho médio anual de proficiência esperado, a exposição à violência resulta em uma perda de 64% do aprendizado esperado em Língua Portuguesa e, em Matemática, a perda é de todo o aprendizado que o aluno deveria adquirir nessa etapa de ensino”, sustentam os pesquisadores.
Além disso, exposição frequente a tiroteios envolvendo agentes de segurança pode gerar um aumento de 2,09% na taxa de reprovação e de 46,4% na probabilidade de ao menos um dos alunos dessas escolas abandonar o ensino.
Essa defasagem no estudo também impacta a renda futura. Os pesquisadores calcularam que um trabalhador da cidade do Rio pode deixar de ganhar R$ 24,7 mil em decorrência da redução de aprendizado em Português e Matemática. O valor seria equivalente a um “imposto” de 4% a ser pago pelo indivíduo sobre os rendimentos de toda a sua vida produtiva.
Família de Moïse vai gerir quiosques
A Prefeitura do Rio e a Secretaria de Fazenda e Planejamento do estado formalizaram, ontem, a concessão à família de Moïse Kabamgabe dos quiosques Biruta e Tropicália, onde foi assassinado, em 24 de janeiro. Até fevereiro de 2030, os parentes do congolês administrarão os pontos, que também virarão memorial e local de celebração da cultura africana. A família de Moïse terá suporte jurídico e contábil, e treinamento para a gestão. “Queremos que a memória do Moïse fique viva e que esse ato tão brutal seja permanentemente lembrado”, disse o prefeito Eduardo Paes.
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